terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Teste " Avisos" António Vieira

ESCOLA SECUNDÁRIA RAINHA DONA LEONOR
12º Ano de escolaridade
Duração da prova: 90 minutos 3º teste
2008/2009( Janeiro) Prof: Euclides Rosa
PROVA ESCRITA DE PORTUGUÊS

(130 pontos)
I
ANTÓNIO VIEIRA
O céu ‘strela o azul e tem grandeza.
Este, que teve a fama e à glória tem,
Imperador da língua portuguesa,
Foi-nos um céu também.

No imenso espaço seu de meditar,
Constelado de formas e de visão,
Surge, prenúncio claro de luar,
El-Rei D. Sebastião.

Mas não, não é luar: é luz do etéreo.
É um dia; e, no céu amplo de desejo,
A madrugada irreal do Quinto Império
Doira as margens do Tejo.
Mensagem, Pessoa

1. Transcreve duas expressões textuais que traduzam os elogios feitos a António Vieira, explicitando os motivos/ razões que os justificam.

2. Nas duas primeiras estrofes Vieira surge associado a céu.

2.1. Identifica o recurso estilístico que serve essa associação.

2.2. Explica, servindo-te da informação do texto, a intenção da mesma.

3. Caracteriza por palavras tuas a configuração que é feita do Quinto Império, justificando as tuas afirmações com expressões textuais.

4. Integre, justificando, este poema na estrutura global da Mensagem.

( 70 pontos)
II
B “Com a Mensagem Pessoa desejou que se recuperasse a memória mítica do passado português, um panteon imaginário que não foi possível reunir nos Jerónimos.”
Comente a frase acima transcrita, num texto expositivo-argumentativo entre 100 a 120 palavras, fundamentado em referências e juízos de leitura reveladores de conhecimento autêntico de três dos principais mitos de Mensagem.

Cenários de correcção
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1. Na verdade, há todo um discurso de elogio de António Vieira neste poema, mais concretamente pelas duas expressões: «Imperador da língua portuguesa / No imenso espaço seu de meditar».
Quanto ao primeiro, refere-se ao seu papel de educador e evangelizador no Brasil.
Relativamente ao segundo, refere-se ao carácter visionário que do profeta que prevê o quinto Império, e ao filósofo/pensador.

2.1. De facto, nas duas primeiras estrofes António Vieira surge associado metaforicamente ao céu, mais especificamente a partir dos versos: «Foi-nos um céu também» / «Constelado de formas e de visão».

2.2. Em primeiro lugar, há uma diferença de intenções na associação de António Vieira ao céu na primeira e segundas estrofes.
«Foi-nos um céu também», mostra a amplitude universal da cultura e língua portuguesa que António Vieira conseguiu.
Posteriormente a segunda associação aponta para a importância do céu e de religião na profecia do «Quinto Império».

3. A configuração do Quinto Império é toda ela feita com recurso a elementos relacionados com o tempo; meteorologia, clima.
Primeiramente na segunda estrofe associa-se a luar: «Surge, prenúncio claro de luar», mas na terceira estrofe é clarificado que não se trata de uma luz ofusca mas sim de uma luz etérea e clara como o dia: “... é luz do etéreo/ É um dia...”.
Finalmente, apresenta-se uma dimensão utópica deste «Quinto Império». Existe exclusivamente enquanto crença: «... amplo de desejo», é do domínio da ficção: «madrugada irreal», permitindo contudo à revitalização espiritual de Portugal: «Doira as margens do Tejo».

4. António Vieira é um dos Avisos, precedido de “Bandarra” e sucedido de “ Escrevo meu livro à beira mágoa”.
Internamente à terceira parte onde os “Avisos” se integram, “ O Encoberto”, são precedidas de “Símbolos” e segue-os os “Tempos”.
Toda a terceira parte da obra trata simbolicamente a morte e a possibilidade de renovação da Nação. Como tal D. Sebastião é metáfora do Estado da Nação.
Essa possibilidade de regresso mítico do rei é expressa pelo profeta António Vieira.

II

Sendo a “Mensagem” uma epopeia mítica e simbólica, justifica-se a comparação que é dela feita na frase com um “Phateon imaginário” uma vez que consegue reunir os heróis símbolos / nacionais.
Em primeiro lugar, convém lembrar que a própria estrutura tripartida: “ Brasão”, “ Mar Português” e “ Encoberto” é também simbólica, representando nascimento, vida, morte e renascimento nacional.
Entre os mais variados mitos, destacamos os de garantir a independência: “Conde D.Henrique”; “D: Afonso Henriques”; “Viriato”; “Nuno Alves Pereira” que são simbolicamente forças que permitiram a instituição de uma nacionalidade.
Posteriormente propo-mos outro mito significativo, o de concretização do Império material das descobertas. Curiosamente surge ainda na Idade Média como obra do acaso em D. Dinis que sem saber se tornou: “o plantador de naus levou”, mas é o próprio mito simbólico do carácter predador do povo português que enquanto cabeça do Grifo se torna o Infante D. Henrique.
Finalmente, completa-se na obra Império Nacional das descobertas, que se desfez: “… faltando cumprir-se Portugal”, numa dimensão espiritual que D. Sebastião poderá impulsionar.
E aí não serão especiarias, nem ouro, ou os escravos, mas sim a paz, a cultura e a língua que nos trarão riqueza e reconhecimento universal.

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