domingo, 8 de fevereiro de 2009

Fingimento poético ( texto de autor)

Prof: Euclides Janeiro, 2008


O próprio poeta explica-nos em alguns dos seus poemas , em poucas palavras, o seu modo de expressar as ideias e de fazer poesia.
Para nós, que lemos e tentamos analisar as criações poéticas de Pessoa, cada poema e cada linha afiguram-se-nos como uma pura mentira e um fingimento. È que nós vivemos num outro mundo de referências, possuímos outro modo de pensar e de actuar, e assim somos incapazes de sentir “ simplesmente com a imaginação”. Conforme capatamos a realidade, assim reagimos com o coração, dando primazia às emoções e sentimentos que essa realidade desperta em nós. Somos incapazes de recriar outros cenários que, de uma maneira completamente diferente e inovadora, transmitam aos outros as nossas sensações.
Fernando Pessoa optou por outro estratagema, concentrando-se na sua inteligência e imaginação criadora, transporta-nos para um outro universo e coloca-nos nuito acima de nós e da nossa forma vulgar e estereotipada forma de escrever. O poeta ascendeu a um terraço donde pode divisar uma paisagem mais ampla e descobrir aspectos novos na própria paisagem que nós vemos.
O papel do artista é o de chegar mais longe, é o de fotografar para além do sensacionismo e percepcionismo imediato que temos das realidades, é, enfim, o de pintar com outras tintas vivas e sugestivas.
Tantas vezes nos debruçamos sobre poemas de Pessoa e achamos absurdos, impertinentes indecifráveis. Esquecemo-nos de que o poeta é alguém que, colocado a nossa lado, mas numa posição superior à nossa, tem uma visão contempladora de outros horizontes, de outras faces ocultas da realidade que vemos e que analisa com outros instrumentos aquilo que vê e sente, ou talvez não.... .
Se é verdade que as linguagens poéticas, metafóricas e simbólicas estruturam as obras literárias sobre a falsidade e fingimento, não é menos verdade que é disso que elas se alimentam. Talvez na nossa ideia e no nosso raciocínio, não encontremos correspondências que nos pareçam sensatas. Contudo, para desfazermos esse nevoeiro, será necessário, pelo menos, subir alguns degraus daquele terraço lindo. É difícil chegarmos ao viso do Olimpo da arte, pois que aí só há lugar para iniciados, adeptos e mestres. Se desejamos tocar mais que o cimo da copa das árvores, torna-se imperioso que sintamos outras coisas para desvendar os mistérios da arte.
Queremos contemplar a “ paisagem” distante? Para tal é preciso transformar as sensações exteriores em interiores e abstractas.

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