domingo, 8 de fevereiro de 2009

Fernando Pessoa Ortónimo

A poesia de Fernando Pessoa aborda como cepticismo e o idealismo, a dor de pensar, a personalidade fragmentária, a melancolia e o tédio.
Na perspectiva do poeta, o mundo não é o que as suas percepções lhe transmitem, daí que a sua recepção perante este seja de estranheza e espanto.
O próprio enigma de existir, do “haver ser”, perturba-o de tal modo que ele próprio se considera o reflexo de alguém, de outro, que não conhece, “é a sombra”: “Eu vejo-me e estou sem mim, / Conheço-me e não sou eu”.
Pessoa tem consciência que tudo está sujeito a mudança, simbolizando o rio “a caducidade fragmentária da vida humana”, e, tal como as águas passam e não voltam, também a vida não tem retorno. O passado já não existe, o futuro está a chegar e o presente “não passa de uma divisória ideal” entre o passado e o futuro. Deste modo, o poeta não tem consciência da “sua personalidade una”, pois ela não passa de um “eu fragmentário”. O que ele foi no passado já não o é no presente, é “outro totalmente desconhecido”. Por isso, é um fingidor, que “finge tão completamente, / que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente.”
Pessoa ortónimo, tal como o seu heterónimo Ricardo Reis, sofre intensamente a terrível “dor de pensar”: “Dói-me até onde penso/ E a dor é já de pensar”. Pelo facto de ser dotado de uma inteligência hipertrofiada, o poeta anseia a inconsciência, inveja as pedras, as árvores, o gato que brinca “na rua/ Como se fosse na cama”. Também no poema “Ela canta pobre ceifeira…”, Pessoa aspira à vida instintiva, desejando “poder ser tu, sendo eu! /Ter a tua alegre inconsciência, /E a consciência disso!”. Sendo assim, o ideal seria ser “consciente inconsciente”; por isso o poeta encontra-se entre a consciência e a inconsciência, entre a sinceridade e o fingimento.
No dizer de Jacinto Prado Coelho, como o pensar esfria o sentir, a alegria perfeita pertence a este mundo, só imaginada.
O “Menino de sua mãe” sente cansaço, tédio, inquietação, sedução pelo mundo fantástico da infância: “E toda aquela infância/ Que não tive me vem, /Numa onda de alegria/ Que não foi de ninguém”, adoptando, para o sugerir, reminiscências de contos de fadas, de cantigas de embalar e toadas de romanceiro: “Conta-me contos, ama… / Todos os contos são/ Esse dia e jardim e a dama/ Que eu fui nessa solidão…” a infância triste de pessoa transformou-o num ser que não é capaz de se entregar ao outro. Desconhecendo, então, a vida afectiva, renuncia a todo o amor sensível e, quando ama, fá-lo apenas em sonhos, idealizando-o.

Para uma síntese de conhecimentos

Temáticas:
profunda lucidez, inteligência intuitiva
«dor de pensar»
intelectualização do sentir / «teoria de fingimento»
obsessão da análise
solidão interior, angústia existencial, melancolia, resignação
tédio, náusea, desencontro com os outros, desamparo
inquietação perante o enigma indecifrável do mundo
fragmentação do eu, perda de identidade
procura, absurdo
ansiedade
nostalgia do bem perdido, do mundo fantástico da infância

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