domingo, 8 de fevereiro de 2009

Menino da sua mãe

MENINO DA SUA MÃE

( por Euclides Rosa)

Interlúdio

Quase todo o poema se desenrola, pintando-nos um quadro que, de certo modo, nos transporta pra uma situação de guerra. Para justificar tal afirmação, atente-se, por exemplo, nas palavras “ balas, farda...”
Neste quadro emerge um jovem alvo e louro, jazendo frio e cego, no campo abandonado da peleja. Observando todos os pormenores, o poeta detem-se especialmente sobre dois objectos: a cigareira e o lenço branco, carregados de particular valor afectivo. Isto revela da parte do poeta um conhecimento profundo dos factos, se bem que que não concorra para uma imparcialidade que é vaga e pouco definida ao longo do texto. São suas demonstrações algumas exclamações “ tão jovem! Que jovem era! Malhas que o império tece!, num discurso figurativo e valorativo que testemunham o envolvimento sentimental do poeta face a tal espetáculo. Por outro lado, a parte final do poema, aclara e denigre a onisciência do poeta que, através do conjuntivo desiderativo( desejo), se associa à esperança vivida em casa do “ Menino da sua mãe”.
De ponta a ponta, a linguagem poética está impregnada de subjectivismo e manifestações de opinião e sentimentos pessoais, especialmente pela adjectivação.


Foco

O quadro, porém, de características descritivas, narrativas e líricas, apresenta-nos dois planos nítidos, o exterior e o interior. O primeiro é o campo de batalha onde a morna brisa parece ser um espectador silencioso da tragédia; o segundo identifica-se com a casa da família do jovem onde se fazem súplicas pelo seu regresso. Mal sabe a pobre da mãe que o seu menino deixou de ver o sol por causa das malhas que a ambição imperialista tece!
Os verbos jazer, arrefecer, apodrecer transmitem a inutilidade da guerra, a estagnação e a quebra da continuidade da vida. Em polo oposto, os braços estendidos e o olhar contemplando o céu serão talvez indicativos da paz e do descanso eterno e de um futuro que será alimentado pela chama da sua saudade e do seu regresso.
É óbvio que a cigarreira e o lenço branco são elos de relacionação entre os dois planos.
Transmite-se uma mensagem, a inutilidade do presente. A morte interseciona a vida que é uma guerra. Todos vestimos uma farda para lutar contra os dissabores e batalhas inicialmente perdidas. A causa da inutilidade presente do menino é fruto da sede de expansionismo, da crueldade da vida. DE algum modo, à vida segura do lar opõe-se a vida insegura e arriscada da guerra. Os dissabores da avidez e cobiça estão sugeridos pelas balas, “ duas de lado a lado”, e pelo verbo trespassar. A atitude niilista não é aqui consequência duma filosofia de vida, mas duma sociedade em que a ambição monopoliza a audácia humana.
Todo o poema, embora nos pareça contar simplesmente e de um modo omnisciente a história do menino da sua mãe, mantém uma perspectiva pessoal e particular, especialmente nos lamentos exclamativos acerca da morte do menino soldado, no entanto, irá servir de alimento à imaginação e da esperança a todos aqueles que, por largo tempo, o ficam esperando, talvez possamos ver nele uma reprodução do mito sebástico.

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