XLIII
Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.
A recordação é uma traição à Natureza,
Porque a Natureza de ontem não é a Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!
Alberto Caeiro, « O Guardador de Rebanhos»
Numa composição cuidada, analisa o poema, tendo em conta:
- binómio voo/rasto, ver/ pensar e sua relação com o binómio presente/ passado
- relação do eu com a natureza,
- sentimento de incapacidade e limitações do sujeito poético
- divisão fundamentada do poema em partes lógicas
- reursos linguísticos relevantes
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