segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto

XLIII

Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.

A recordação é uma traição à Natureza,
Porque a Natureza de ontem não é a Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.

Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!

Alberto Caeiro, « O Guardador de Rebanhos»


Numa composição cuidada, analisa o poema, tendo em conta:


- binómio voo/rasto, ver/ pensar e sua relação com o binómio presente/ passado
- relação do eu com a natureza,
- sentimento de incapacidade e limitações do sujeito poético
- divisão fundamentada do poema em partes lógicas
- reursos linguísticos relevantes

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