Estrutura
São três grupos:
I(Compreensão/ Interpretação)
- Cinco itens de resposta curta
II- Conhecimento Explícito da Língua
- Dois itens, um de escolha de alternativas e outro de aplicação (reescrita de frases). Este exercício insere-se no quadro da pragmática textual e tem como suporte um texto dado.
III- Produção Escrita
- Item de resposta extensa- texto de opinião sobre uma temática abordada na aula.
Conteúdos
Textos: excerto de " Os Lusíadas", poema de " Mensagem", primeira parte
Estrutura interna de ambas as obras
Conteúdo informacional dos textos
Recursos estilísticos e sua expressividade
Coesão lexical e interfrásica
Deícticos
Classes de palavras
Tipologia de texto de opinião
Cotações
I- 100 pontos
II- 40 pontos
III-60 pontos
P.S. São 90 minutos, não há tolerância nem de um único minuto para alunos que cheguem atrasados.
terça-feira, 27 de novembro de 2007
"Mensagem" : estrutura interna
Arquitectura e Símbolos da «Mensagem»
O livro está dividido em 3 partes:
1ª - (heráldica) «Brasão» nascimento
2ª - (Descobertas) «Mar Português» crescimento / vida
3ª - (profecias) «O Encoberto» morte… e renascimento
1ª Parte (subdivisão em 5 partes) «Brasão» ”Belum sine Bello”
I.
“Os Campos”
(= 2 escudos)
1º O dos Castelos
2º O das Quinas
II.
“Os Castelos”
(7 castelos)
1º Ulisses
2º Viriato
3º O Conde D. Henrique
4º D. Tareja
5º D. Afonso Henriques
6º D. Dinis
7º (I.) D. João, o Primeiro
7º (II.) D. Filipa de Lencastre
III.
“As Quinas”
(5 quinas)
1ª D. Duarte rei de Portugal
2ª D. Fernando Infante de Portugal
3ª D. Pedro Regente de Portugal
4ª D. João Infante de Portugal
5ª D. Sebastião Rei de Portugal
IV.
“A Coroa”
Nun’Álvares Pereira
V.
“O Timbre” 1
A cabeça do Grifo 2, O Infante D. Henrique
Uma asa do Grifo, D. João o Segundo
A outra asa do Grifo, Afonso de Albuquerque
………..
1Timbre = carimbo, insígnia, marca, selo; emblema, símbolo; lema (divisa de honra que distingue alguém ou alguma coisa); carácter (característica própria de alguém ou de alguma coisa).
2Grifo = Pássaro fabuloso, com bico e asas de águia e corpo de leão. Emblema medieval que possuía o simbolismo da águia e do leão: um duplicar da sua natureza solar. É a Terra e o Céu, o humano e o divino (= Cristo). Símbolo da dupla qualidade divina: força e sabedoria. Une a força terrestre do leão à energia celeste da águia.
2ª Parte «Mar Português» ”Possessio Maris”
Zona intermédia (contemplativa)
Predomínio do elemento água (fluidez)
Impulso para o mar / impulso para o sonho
Sucessão entre o Império Material (Descobrimentos) e o Império Espiritual (Quinto Império)
I. O Infante II. Horizonte III. Padrão
IV. O Mostrengo V. Epitáfio de Bartolomeu Dias VI. Os Colombos
VII. Ocidente VIII. Fernão de Magalhães IX. Ascensão de Vasco da Gama
X. Mar Português XI. A Última Nau XII. Prece
3ª Parte (subdivisão em 3 partes estrutura triádica) «O Encoberto» ”Pax in Excelsis”
I.
“Os Símbolos”
1º D. Sebastião
2º O Quinto Império
3º O Desejado
4º As Ilhas Afortunadas
5º O Encoberto
II.
“Os Avisos”
1º O Bandarra
2º António Vieira
3º (sem título)
«’Screvo meu livro à beira-mágoa»
III.
“Os Tempos”
1º Noite
2º Tormenta
3º Calma
4º Antemanhã
5º Nevoeiro
“Valete, Fratre”
O livro está dividido em 3 partes:
1ª - (heráldica) «Brasão» nascimento
2ª - (Descobertas) «Mar Português» crescimento / vida
3ª - (profecias) «O Encoberto» morte… e renascimento
1ª Parte (subdivisão em 5 partes) «Brasão» ”Belum sine Bello”
I.
“Os Campos”
(= 2 escudos)
1º O dos Castelos
2º O das Quinas
II.
“Os Castelos”
(7 castelos)
1º Ulisses
2º Viriato
3º O Conde D. Henrique
4º D. Tareja
5º D. Afonso Henriques
6º D. Dinis
7º (I.) D. João, o Primeiro
7º (II.) D. Filipa de Lencastre
III.
“As Quinas”
(5 quinas)
1ª D. Duarte rei de Portugal
2ª D. Fernando Infante de Portugal
3ª D. Pedro Regente de Portugal
4ª D. João Infante de Portugal
5ª D. Sebastião Rei de Portugal
IV.
“A Coroa”
Nun’Álvares Pereira
V.
“O Timbre” 1
A cabeça do Grifo 2, O Infante D. Henrique
Uma asa do Grifo, D. João o Segundo
A outra asa do Grifo, Afonso de Albuquerque
………..
1Timbre = carimbo, insígnia, marca, selo; emblema, símbolo; lema (divisa de honra que distingue alguém ou alguma coisa); carácter (característica própria de alguém ou de alguma coisa).
2Grifo = Pássaro fabuloso, com bico e asas de águia e corpo de leão. Emblema medieval que possuía o simbolismo da águia e do leão: um duplicar da sua natureza solar. É a Terra e o Céu, o humano e o divino (= Cristo). Símbolo da dupla qualidade divina: força e sabedoria. Une a força terrestre do leão à energia celeste da águia.
2ª Parte «Mar Português» ”Possessio Maris”
Zona intermédia (contemplativa)
Predomínio do elemento água (fluidez)
Impulso para o mar / impulso para o sonho
Sucessão entre o Império Material (Descobrimentos) e o Império Espiritual (Quinto Império)
I. O Infante II. Horizonte III. Padrão
IV. O Mostrengo V. Epitáfio de Bartolomeu Dias VI. Os Colombos
VII. Ocidente VIII. Fernão de Magalhães IX. Ascensão de Vasco da Gama
X. Mar Português XI. A Última Nau XII. Prece
3ª Parte (subdivisão em 3 partes estrutura triádica) «O Encoberto» ”Pax in Excelsis”
I.
“Os Símbolos”
1º D. Sebastião
2º O Quinto Império
3º O Desejado
4º As Ilhas Afortunadas
5º O Encoberto
II.
“Os Avisos”
1º O Bandarra
2º António Vieira
3º (sem título)
«’Screvo meu livro à beira-mágoa»
III.
“Os Tempos”
1º Noite
2º Tormenta
3º Calma
4º Antemanhã
5º Nevoeiro
“Valete, Fratre”
" Mensagem"- síntese
Mensagem, Fernando Pessoa
Obra épico-lírica (como uma epopeia, parte de um núcleo histórico as figuras e acontecimentos da História de Portugal , mas apresenta uma dimensão subjectiva, introspectiva, de contemplação interior, característica própria do lirismo) dividida em três partes:
1ª - BRASÃO (heráldica) Subdivisão em cinco partes:
I. Os Campos
II. Os Castelos
III. As Quinas
IV. A Coroa
V. O Timbre
(símbolos da brasão nacional)
2ª - MAR PORTUGUÊS (as Descobertas) Zona intermédia (contemplativa):
. predomínio do elemento água (fluidez)
. impulso para o mar (sonho)
3ª - O ENCOBERTO (profecias) Subdivisão em três partes:
I. Os Símbolos
II. Os Avisos
III. Os Tempos
1ª - BRASÃO (heráldica) a acção dos heróis fundadores da pátria NASCIMENTO
“O dos Castelos” a situação geográfica e histórica de Portugal na Europa;
projecção de Portugal para o futuro.
«A Europa jaz, … / Fita ... / O Ocidente, futuro do passado. / O rosto com que fita é Portugal.»
A Europa «jaz», estática e contemplativa, morta, à espera de um novo impulso vital que o seu olhar procura na Distância. Portugal é o «rosto» dessa Europa que contempla o Desconhecido (o Ocidente, o mar por desvendar). Portugal tem a missão de construção do Futuro.
“Ulisses” o fundador mitológico;
o mito / a lenda como fundamento da existência.
«O mito é o nada que é tudo»
O mito, apesar de não ter existência no plano da realidade («é o nada»), tem uma radical importância («é tudo»), pois é dele que brotam as forças ocultas que projectam os povos para grandes façanhas. Sem a força mágica e criadora do mito, a realidade fica reduzida a menos que nada e o seu destino é fatalmente a morte.
“D. Dinis” as sementes do passado que germinam no futuro;
a concretização do Império tem por base o passado (o sonho).
«O plantador de naus a haver,»
«E a fala dos pinhais ... / É o som presente desse mar futuro»
O poeta confere a D. Dinis (personagem histórica mitificada) a acção de plantador das naus descobridoras do futuro, de construtor do futuro. História e mito conjugam-se: os aspectos históricos são mitificados.
1
“D. Sebastião, rei de Portugal” a loucura (o sonho) é a origem de toda a realização do Homem;
a loucura é o ideal, a grandeza, o sonho capaz de enfrentar todos os
obstáculos;
sem o ideal, sem o sonho, cai-se no viver materialista e efémero;
a loucura como comportamento essencial da autêntica condição
humana.
«Sem a loucura que é o homem / Mais que a besta sadia, / Cadáver adiado que procria. »
O resultado imediato do ilimitado desejo de grandeza foi a destruição física do herói (D. Sebastião); o resultado final foi a sua imortalidade. A loucura deu sentido à vida e à morte, pois é a chama que faz o homem herói, dá-lhe o impulso para ir mais além, opondo à pequenez dos limites impostos pelo Destino perecível, a grandeza do sonho e do futuro. Sem a loucura, o homem fica reduzido à animalidade que cumpre a sua missão de procriação, estando condenado à morte.
O mito sebastianista é a força criadora capaz de impelir a nação para a sua última grande fase: o mito / a utopia do Quinto Império (um domínio espiritual e cultural, por isso eterno). A utopia foi, é e será sempre a força criadora de novos mundos, quer a nível individual, quer colectivo.
2ª - MAR PORTUGUÊS (as Descobertas)
a acção dos heróis dos Descobrimentos dos séculos XV e XVI que realizaram o
grande sonho dos portugueses;
época gloriosa da pátria; VIDA
a vontade do homem tornada realidade.
“O Infante” a acção do homem que concretiza o sonho e a vontade divina;
a conquista do mar pelos portugueses (expansão do Império Português por mar).
«Deus quer, o homem sonha, a obra nasce»
«Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez. / Senhor, falta cumprir-se Portugal»
Os três passos da construção da obra: só a vontade divina associada ao sonho do homem permite nascimento da obra. A missão divina dos portugueses foi transformar o mar desconhecido em mar português. No passado, esta missão foi cumprida: os portugueses desvendaram o mar desconhecido e criaram um grande Império. Mas esse Império desmoronou-se (porque era material), pertenceu a um outro tempo e, no presente, Portugal é uma pátria sem desígnio. Então, o poeta faz o apelo profético ao cumprimento do desígnio futuro de nova, inspirada e espiritual missão.
“O Mostrengo” os obstáculos ultrapassados, os perigos vencidos, os medos postos de lado;
a ousadia e a força heróica dos marinheiros portugueses.
«Aqui ao leme sou mais do que eu: / Sou um Povo que quer o mar que é teu;»
«O mostrengo que está no fim do mar» simboliza todos os perigos, todos os obstáculos, todos os medos que os marinheiros portugueses tiveram de enfrentar. Num plano mais vasto, os medos que todo o homem tem que enfrentar para se superar a si mesmo. O herói-homem que treme perante o perigo mas é capaz de vencer o medo que o paralisa, porque é o mandatário de uma missão e representa todo um povo que anseia pelo mar e que partiu para o desvendar e para o possuir.
2
“Mar Português” as duas faces das Descobertas: a desgraça e o sofrimento / a glória e a fortuna;
toda a grande realização, toda a grande obra, carece de muito sacrifício.
«Valeu a pena? Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena»
Para desvendar e possuir o mar, os portugueses pagaram um preço altíssimo: a dor, quer dos que partiram, quer dos que ficaram. Mas esse preço foi recompensado com o prémio recebido: o Mar é Português. Então, valeu a pena sonhar, ter a alma grande. Para alcançar o sonho é necessário sofrer e ultrapassar a dor. É preciso lutar pelo sonho, superando os limites impostos pela própria condição humana.
“Prece” apelo do poeta ao Senhor (D. Sebastião, Sonho) para que devolva à Pátria a chama oculta
debaixo das cinzas.
«E outra vez conquistemos a Distância / Do mar ou outra, mas que seja nossa!»
O presente é um tempo adormecido, moribundo. No entanto, ainda existe uma «chama» (esperança), oculta pela «cinza» (inércia), que poderá reanimar-se, mas para isso é necessário o «vento», o sopro da vontade, do sonho, da capacidade de sonhar. O poeta faz um apelo que é o seu desejo de ressurgimento, de renascimento, de rejuvenescimento da pátria adormecida e moribunda. Um apelo para o despertar do sonho de conquista, ainda que seja com «desgraça», mas que seja, que não se fique quieto, inerte, sem vontade.
3ª - O ENCOBERTO (profecias)
depois da obra realizada vem o momento da inércia MORTE
o fim, a morte, contém em si uma ressurreição RENASCIMENTO
um novo ciclo que se anuncia QUINTO IMPÉRIO
“O Quinto Império” só o sonho evita a mediocridade de viver, favorece a grandeza da
alma, possibilita os grandes feitos;
o advento do Quinto Império só se concretizará com a crença no regresso de
D. Sebastião (sebastianismo).
«Triste de quem vive em casa / Contente com o seu lar»
«Ser descontente é ser homem.»
«Quem vem viver a verdade / Que morreu D. Sebastião?»
A verdadeira vida é aquela que assenta na máxima: «Ser descontente é ser homem.» É a apologia da inquietação, da visão para além dos limites, do sonho como único caminho para domar as «força cegas» (inércia, conformismo, marasmo, medo) e ultrapassar os limites estreitos da finitude humana.
Apelo ao caminho da procura, da demanda, que ganha forma no plano simbólico com o sonho, com o mito. O poeta profetiza a vinda futura do «dia claro» (Quinto Império), que nascerá da «erma noite» do presente, relacionando este ressurgimento com a figura mítica de D. Sebastião. Os quatro impérios (materiais) passaram, agora é tempo de ser descontente do presente e perseguir o sonho de construção futura do Quinto Império, o império espiritual e cultural da procura, da demanda da Verdade.
3
(único poema sem título) “’Screvo meu livro à beira-mágoa.”
«eu ‘Screvo»; o Poeta (o terceiro profeta do Quinto Império);
«meu livro», “Mensagem”;
«beira-mágoa»; a dor presente do poeta (o local: à beira-mar: Portugal);
a invocação do Senhor (D. Sebastião, Sonho) para que regresse, trazendo a salvação.
«Mas quando quererás voltar? / Quando é o Rei? Quando é a Hora?»
O sujeito poético caracteriza negativamente a sua existência presente: sofrimento, mágoa, vazio, tristeza, desilusão, descrença. Mas este estado de espírito poderá mudar, para isso o poeta assume-se como a voz inspirada superiormente («o anseio que Deus fez), cuja poesia tem como objectivo o cumprimento de um desígnio: o anúncio messiânico da vinda do Encoberto, «sonho das eras português». O Encoberto regressará para fazer ressurgir a Pátria da tristeza e do adormecimento. É a espera portuguesa sempre presente e sempre adiada. O poeta apela ao regresso do Encoberto, do mito, como forma de ultrapassar a crise.
“Nevoeiro” a Pátria está adormecida, inerte, e é urgente renascer, através do sonho,
para a realização da grande obra ( o Quinto Império).
«Ó Portugal, hoje és nevoeiro... / É a Hora!»
«Nevoeiro», metáfora de Portugal presente: símbolo de indefinição, de ocultação; lugar de onde é urgente emergir a resposta, a solução para a crise. Portugal está em profunda crise de identidade, povoado de seres indefinidos, porque ninguém se conhece a si mesmo; é um país fragmentado, «disperso», onde tudo é estilhaço, «nada é inteiro».
O último verso «É a Hora!» tem um carácter exortativo: é um apelo que procura acordar Portugal.
Conclusão:
A unidade do livro está na ligação de um passado histórico transformado em mito com a possibilidade de invenção de um futuro.
Assim, na 1ª Parte («Brasão»), o poeta exalta os heróis fundadores da Pátria portuguesa: deles herdámos a coragem, a ousadia, a persistência, o impulso para as aventuras marítimas, a capacidade de sonhar, o poder visionário de construção do futuro.
Todas estas características da «Raça» portuguesas manifestaram-se no grande período das Descobertas dos séculos XV e XVI: os portugueses sonharam, ousaram, enfrentaram o mar desconhecido, venceram os seus medos e construíram um grande Império. A 2ª parte («Mar Português«) pretende, então, mostrar como os portugueses possuem todas as capacidades que possibilitam a realização de grandes feitos.
No entanto, este período pertence ao passado, existiu, mas acabou. O presente é de crise.
Face a esta crise do presente, o Poeta assume, na 3ª parte («O Encoberto»), a voz do profeta, com um desígnio superior, que apela ao ressurgimento do sonho (da crença no mito; no sebastianismo), único capaz de alterar a situação actual de inércia e de adormecimento em que a pátria está mergulhada. O poeta exorta à mudança que equivale ao erguer do sonho do combate com o desconhecido, na perseguição da Verdade, da utopia do Quinto Império: o Império espiritual e cultural para o qual Portugal sempre esteve predestinado.
Obra épico-lírica (como uma epopeia, parte de um núcleo histórico as figuras e acontecimentos da História de Portugal , mas apresenta uma dimensão subjectiva, introspectiva, de contemplação interior, característica própria do lirismo) dividida em três partes:
1ª - BRASÃO (heráldica) Subdivisão em cinco partes:
I. Os Campos
II. Os Castelos
III. As Quinas
IV. A Coroa
V. O Timbre
(símbolos da brasão nacional)
2ª - MAR PORTUGUÊS (as Descobertas) Zona intermédia (contemplativa):
. predomínio do elemento água (fluidez)
. impulso para o mar (sonho)
3ª - O ENCOBERTO (profecias) Subdivisão em três partes:
I. Os Símbolos
II. Os Avisos
III. Os Tempos
1ª - BRASÃO (heráldica) a acção dos heróis fundadores da pátria NASCIMENTO
“O dos Castelos” a situação geográfica e histórica de Portugal na Europa;
projecção de Portugal para o futuro.
«A Europa jaz, … / Fita ... / O Ocidente, futuro do passado. / O rosto com que fita é Portugal.»
A Europa «jaz», estática e contemplativa, morta, à espera de um novo impulso vital que o seu olhar procura na Distância. Portugal é o «rosto» dessa Europa que contempla o Desconhecido (o Ocidente, o mar por desvendar). Portugal tem a missão de construção do Futuro.
“Ulisses” o fundador mitológico;
o mito / a lenda como fundamento da existência.
«O mito é o nada que é tudo»
O mito, apesar de não ter existência no plano da realidade («é o nada»), tem uma radical importância («é tudo»), pois é dele que brotam as forças ocultas que projectam os povos para grandes façanhas. Sem a força mágica e criadora do mito, a realidade fica reduzida a menos que nada e o seu destino é fatalmente a morte.
“D. Dinis” as sementes do passado que germinam no futuro;
a concretização do Império tem por base o passado (o sonho).
«O plantador de naus a haver,»
«E a fala dos pinhais ... / É o som presente desse mar futuro»
O poeta confere a D. Dinis (personagem histórica mitificada) a acção de plantador das naus descobridoras do futuro, de construtor do futuro. História e mito conjugam-se: os aspectos históricos são mitificados.
1
“D. Sebastião, rei de Portugal” a loucura (o sonho) é a origem de toda a realização do Homem;
a loucura é o ideal, a grandeza, o sonho capaz de enfrentar todos os
obstáculos;
sem o ideal, sem o sonho, cai-se no viver materialista e efémero;
a loucura como comportamento essencial da autêntica condição
humana.
«Sem a loucura que é o homem / Mais que a besta sadia, / Cadáver adiado que procria. »
O resultado imediato do ilimitado desejo de grandeza foi a destruição física do herói (D. Sebastião); o resultado final foi a sua imortalidade. A loucura deu sentido à vida e à morte, pois é a chama que faz o homem herói, dá-lhe o impulso para ir mais além, opondo à pequenez dos limites impostos pelo Destino perecível, a grandeza do sonho e do futuro. Sem a loucura, o homem fica reduzido à animalidade que cumpre a sua missão de procriação, estando condenado à morte.
O mito sebastianista é a força criadora capaz de impelir a nação para a sua última grande fase: o mito / a utopia do Quinto Império (um domínio espiritual e cultural, por isso eterno). A utopia foi, é e será sempre a força criadora de novos mundos, quer a nível individual, quer colectivo.
2ª - MAR PORTUGUÊS (as Descobertas)
a acção dos heróis dos Descobrimentos dos séculos XV e XVI que realizaram o
grande sonho dos portugueses;
época gloriosa da pátria; VIDA
a vontade do homem tornada realidade.
“O Infante” a acção do homem que concretiza o sonho e a vontade divina;
a conquista do mar pelos portugueses (expansão do Império Português por mar).
«Deus quer, o homem sonha, a obra nasce»
«Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez. / Senhor, falta cumprir-se Portugal»
Os três passos da construção da obra: só a vontade divina associada ao sonho do homem permite nascimento da obra. A missão divina dos portugueses foi transformar o mar desconhecido em mar português. No passado, esta missão foi cumprida: os portugueses desvendaram o mar desconhecido e criaram um grande Império. Mas esse Império desmoronou-se (porque era material), pertenceu a um outro tempo e, no presente, Portugal é uma pátria sem desígnio. Então, o poeta faz o apelo profético ao cumprimento do desígnio futuro de nova, inspirada e espiritual missão.
“O Mostrengo” os obstáculos ultrapassados, os perigos vencidos, os medos postos de lado;
a ousadia e a força heróica dos marinheiros portugueses.
«Aqui ao leme sou mais do que eu: / Sou um Povo que quer o mar que é teu;»
«O mostrengo que está no fim do mar» simboliza todos os perigos, todos os obstáculos, todos os medos que os marinheiros portugueses tiveram de enfrentar. Num plano mais vasto, os medos que todo o homem tem que enfrentar para se superar a si mesmo. O herói-homem que treme perante o perigo mas é capaz de vencer o medo que o paralisa, porque é o mandatário de uma missão e representa todo um povo que anseia pelo mar e que partiu para o desvendar e para o possuir.
2
“Mar Português” as duas faces das Descobertas: a desgraça e o sofrimento / a glória e a fortuna;
toda a grande realização, toda a grande obra, carece de muito sacrifício.
«Valeu a pena? Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena»
Para desvendar e possuir o mar, os portugueses pagaram um preço altíssimo: a dor, quer dos que partiram, quer dos que ficaram. Mas esse preço foi recompensado com o prémio recebido: o Mar é Português. Então, valeu a pena sonhar, ter a alma grande. Para alcançar o sonho é necessário sofrer e ultrapassar a dor. É preciso lutar pelo sonho, superando os limites impostos pela própria condição humana.
“Prece” apelo do poeta ao Senhor (D. Sebastião, Sonho) para que devolva à Pátria a chama oculta
debaixo das cinzas.
«E outra vez conquistemos a Distância / Do mar ou outra, mas que seja nossa!»
O presente é um tempo adormecido, moribundo. No entanto, ainda existe uma «chama» (esperança), oculta pela «cinza» (inércia), que poderá reanimar-se, mas para isso é necessário o «vento», o sopro da vontade, do sonho, da capacidade de sonhar. O poeta faz um apelo que é o seu desejo de ressurgimento, de renascimento, de rejuvenescimento da pátria adormecida e moribunda. Um apelo para o despertar do sonho de conquista, ainda que seja com «desgraça», mas que seja, que não se fique quieto, inerte, sem vontade.
3ª - O ENCOBERTO (profecias)
depois da obra realizada vem o momento da inércia MORTE
o fim, a morte, contém em si uma ressurreição RENASCIMENTO
um novo ciclo que se anuncia QUINTO IMPÉRIO
“O Quinto Império” só o sonho evita a mediocridade de viver, favorece a grandeza da
alma, possibilita os grandes feitos;
o advento do Quinto Império só se concretizará com a crença no regresso de
D. Sebastião (sebastianismo).
«Triste de quem vive em casa / Contente com o seu lar»
«Ser descontente é ser homem.»
«Quem vem viver a verdade / Que morreu D. Sebastião?»
A verdadeira vida é aquela que assenta na máxima: «Ser descontente é ser homem.» É a apologia da inquietação, da visão para além dos limites, do sonho como único caminho para domar as «força cegas» (inércia, conformismo, marasmo, medo) e ultrapassar os limites estreitos da finitude humana.
Apelo ao caminho da procura, da demanda, que ganha forma no plano simbólico com o sonho, com o mito. O poeta profetiza a vinda futura do «dia claro» (Quinto Império), que nascerá da «erma noite» do presente, relacionando este ressurgimento com a figura mítica de D. Sebastião. Os quatro impérios (materiais) passaram, agora é tempo de ser descontente do presente e perseguir o sonho de construção futura do Quinto Império, o império espiritual e cultural da procura, da demanda da Verdade.
3
(único poema sem título) “’Screvo meu livro à beira-mágoa.”
«eu ‘Screvo»; o Poeta (o terceiro profeta do Quinto Império);
«meu livro», “Mensagem”;
«beira-mágoa»; a dor presente do poeta (o local: à beira-mar: Portugal);
a invocação do Senhor (D. Sebastião, Sonho) para que regresse, trazendo a salvação.
«Mas quando quererás voltar? / Quando é o Rei? Quando é a Hora?»
O sujeito poético caracteriza negativamente a sua existência presente: sofrimento, mágoa, vazio, tristeza, desilusão, descrença. Mas este estado de espírito poderá mudar, para isso o poeta assume-se como a voz inspirada superiormente («o anseio que Deus fez), cuja poesia tem como objectivo o cumprimento de um desígnio: o anúncio messiânico da vinda do Encoberto, «sonho das eras português». O Encoberto regressará para fazer ressurgir a Pátria da tristeza e do adormecimento. É a espera portuguesa sempre presente e sempre adiada. O poeta apela ao regresso do Encoberto, do mito, como forma de ultrapassar a crise.
“Nevoeiro” a Pátria está adormecida, inerte, e é urgente renascer, através do sonho,
para a realização da grande obra ( o Quinto Império).
«Ó Portugal, hoje és nevoeiro... / É a Hora!»
«Nevoeiro», metáfora de Portugal presente: símbolo de indefinição, de ocultação; lugar de onde é urgente emergir a resposta, a solução para a crise. Portugal está em profunda crise de identidade, povoado de seres indefinidos, porque ninguém se conhece a si mesmo; é um país fragmentado, «disperso», onde tudo é estilhaço, «nada é inteiro».
O último verso «É a Hora!» tem um carácter exortativo: é um apelo que procura acordar Portugal.
Conclusão:
A unidade do livro está na ligação de um passado histórico transformado em mito com a possibilidade de invenção de um futuro.
Assim, na 1ª Parte («Brasão»), o poeta exalta os heróis fundadores da Pátria portuguesa: deles herdámos a coragem, a ousadia, a persistência, o impulso para as aventuras marítimas, a capacidade de sonhar, o poder visionário de construção do futuro.
Todas estas características da «Raça» portuguesas manifestaram-se no grande período das Descobertas dos séculos XV e XVI: os portugueses sonharam, ousaram, enfrentaram o mar desconhecido, venceram os seus medos e construíram um grande Império. A 2ª parte («Mar Português«) pretende, então, mostrar como os portugueses possuem todas as capacidades que possibilitam a realização de grandes feitos.
No entanto, este período pertence ao passado, existiu, mas acabou. O presente é de crise.
Face a esta crise do presente, o Poeta assume, na 3ª parte («O Encoberto»), a voz do profeta, com um desígnio superior, que apela ao ressurgimento do sonho (da crença no mito; no sebastianismo), único capaz de alterar a situação actual de inércia e de adormecimento em que a pátria está mergulhada. O poeta exorta à mudança que equivale ao erguer do sonho do combate com o desconhecido, na perseguição da Verdade, da utopia do Quinto Império: o Império espiritual e cultural para o qual Portugal sempre esteve predestinado.
" Mensagem": Génese e Título
«Mensagem», Fernando Pessoa
Génese
A elaboração desta obra ocupou toda a vida de Fernando Pessoa, desde 1913 a 1934 (morre a 30 de Novembro de 1935).
Pessoa nasceu como homem intelectual no estrangeiro (África do Sul, sob influência da cultura inglesa).
Regressou a Portugal aos 17 anos e teve de se integrar na sua Pátria.
Dotado de uma inteligência invulgar e de uma cultura muito acima da média, compreendeu que o país estava mergulhado na mediocridade cultural e tinha, pois, um papel importante a desempenhar.
A Ditadura de João Franco («Franquismo», 1907-1908) terá provocado nela um forte patriotismo.
Em 1912, escreve na revista A Águia (Saudosismo, Patriotismo), os célebres artigos em que profetiza para breve o aparecimento de um Super-Camões e de um Super-Portugal.
Em 1932, Pessoa escreve uma carta a João Gaspar Simões onde alude ao seu projecto de publicar uma parte da sua obra.
«Mensagem» foi o único livro completo publicado em vida pelo Poeta.
A sua publicação ficou a dever-se a dois amigos, António Ferro e Ferreira Gomes, próximos do Poder, que estavam convencidos que esta obra ganharia facilmente o «prémio de Antero de Quental», criado pela SPN (Secretaria da Propaganda Nacional), cujo júri reuniria em Dezembro de 1934.
A obra, terminada em Setembro e impressa em Outubro, é simbolicamente posta à venda a 1 de Dezembro de 1934, dia em que se comemora a Restauração da Independência (1640) face ao domínio espanhol.
A obra recebeu apenas «a segunda categoria», pois não cumpria todas as imposições do concurso. O 1º lugar foi para a obra do Padre Vasco Reis, «Romaria».
Título
O primeiro título da obra foi «Portugal».
Pessoa alterou o título por sugestão do amigo Da Cunha Dias, pois, segundo este «o nome da nossa pátria estava hoje prostituído a sapatos».
Pessoa colocou-lhe, então, um título mais abstracto, que o próprio explica: a palavra portuguesa “mensagem” deriva anagramaticalmente da fórmula de Anquises, quando explica a Eneias, descido aos Infernos, o sistema do Universo: «Mens ag itat mol em» («O espírito move a massa»).
Pessoa aproveita toda a simbologia da “descida aos Infernos” para justificar o advento da Nova Pátria (o Quinto Império), afirmando, logo à partida, o seu
Génese
A elaboração desta obra ocupou toda a vida de Fernando Pessoa, desde 1913 a 1934 (morre a 30 de Novembro de 1935).
Pessoa nasceu como homem intelectual no estrangeiro (África do Sul, sob influência da cultura inglesa).
Regressou a Portugal aos 17 anos e teve de se integrar na sua Pátria.
Dotado de uma inteligência invulgar e de uma cultura muito acima da média, compreendeu que o país estava mergulhado na mediocridade cultural e tinha, pois, um papel importante a desempenhar.
A Ditadura de João Franco («Franquismo», 1907-1908) terá provocado nela um forte patriotismo.
Em 1912, escreve na revista A Águia (Saudosismo, Patriotismo), os célebres artigos em que profetiza para breve o aparecimento de um Super-Camões e de um Super-Portugal.
Em 1932, Pessoa escreve uma carta a João Gaspar Simões onde alude ao seu projecto de publicar uma parte da sua obra.
«Mensagem» foi o único livro completo publicado em vida pelo Poeta.
A sua publicação ficou a dever-se a dois amigos, António Ferro e Ferreira Gomes, próximos do Poder, que estavam convencidos que esta obra ganharia facilmente o «prémio de Antero de Quental», criado pela SPN (Secretaria da Propaganda Nacional), cujo júri reuniria em Dezembro de 1934.
A obra, terminada em Setembro e impressa em Outubro, é simbolicamente posta à venda a 1 de Dezembro de 1934, dia em que se comemora a Restauração da Independência (1640) face ao domínio espanhol.
A obra recebeu apenas «a segunda categoria», pois não cumpria todas as imposições do concurso. O 1º lugar foi para a obra do Padre Vasco Reis, «Romaria».
Título
O primeiro título da obra foi «Portugal».
Pessoa alterou o título por sugestão do amigo Da Cunha Dias, pois, segundo este «o nome da nossa pátria estava hoje prostituído a sapatos».
Pessoa colocou-lhe, então, um título mais abstracto, que o próprio explica: a palavra portuguesa “mensagem” deriva anagramaticalmente da fórmula de Anquises, quando explica a Eneias, descido aos Infernos, o sistema do Universo: «Mens ag itat mol em» («O espírito move a massa»).
Pessoa aproveita toda a simbologia da “descida aos Infernos” para justificar o advento da Nova Pátria (o Quinto Império), afirmando, logo à partida, o seu
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
Heráldica e simbologia da bandeira nacional
Descrição Heráldica e Considerações Históricas
Os símbolos da Pátria são: a Bandeira Nacional, o Hino Nacional e o Chefe de Estado.
A Bandeira Nacional representa as lutas da fundação, a independência e restauração de Portugal e os descobrimentos marítimos.
No reinado de D. Afonso Henriques a Bandeira era branca com uma cruz azul larga ao centro, simbolizando o emblema do cruzado e o azul, a cor principal das armas da Casa de Borgonha.
Sofrendo várias alterações ao longo dos vários reinados, a Bandeira Nacional com a Implantação da República passa a ser verde e vermelha, sendo composta por um rectângulo de pano cuja altura é igual a dois terços da largura.
É dividida em duas partes, na vertical, sendo a parte que fica junto à haste de cor verde, ocupando dois quintos da superfície e a outra parte de cor vermelha, ocupando três quintos.
Simbologia
Cor Verde - Representa a esperança em melhores dias de prosperidade e bem-estar e também os campos verdejantes.
Cor Vermelha - Representa o valor e o sangue derramado nas conquistas, nas descobertas, na defesa e no engrandecimento da Pátria.
Esfera Armilar - Situa-se no centro da divisão das duas faixas, simbolizando as viagens dos navegadores portugueses pelo Mundo, nos séculos XV e XVI.
Armas de Portugal - Assentam sobre a esfera armilar, sendo compostas por um escudo maior com outro mais pequeno brocante, simbolizando o escudo, a arma de defesa utilizada pelos nossos antepassados nos combates.
Escudo Maior - É vermelho e à sua volta estão representados sete castelos que representam as cidades fortificadas que D. Afonso III tomou aos mouros.
Escudo Pequeno - É branco e encerra cinco escudetes azuis pequenos, fazendo alusão às cinco chagas de Jesus Cristo. Cada um desses escudos contém cinco besantes de prata que contando duas vezes os da quina do meio, recordam os trinta dinheiros pelos quais Judas vendeu Jesus Cristo e simbolizam o poder régio de cunhar moeda.
Autores da Bandeira Republicana
Columbano, João Chagas e Abel Botelho.
Portugal/ A Mensagem
SIMBOLOGIA E ESTRUTURA DA MENSAGEM
A Mensagem poderá ser vista como uma epopeia, porque parte do núcleo histórico, mas a sua formulação, sendo simbólica e mítica, do relato histórico, não possuirá a continuidade. Aqui, a acção dos heróis só adquire pleno significado dentro duma referência mitológica. Aqui serão só eleitos, terão só direito à imortalidade, aqueles homens e feitos que manifestam em si esses mitos significativos. Assim, a estrutura será dada pelo que, noutra linguagem, se poderá chamar os esquemas ideológicos, ou as ideias-força desse povo: regresso ao paraíso, realização do impossível, espera do messias... raízes do desenvolvimento dessa entidade colectiva.
Os antepassados, os fundadores, que pela sua acção criaram a pátria, a ergueram a personalidade, separada, ou a plasmaram na sua alma própria; as mães, as que estão na origem das duas dinastias, cantadas como “antigo seio vigilante”, ou “o mano ventre do império”; os heróis navegantes, aqueles que percorrem o mar em busca do caminho da imortalidade, cumprindo um dever individual e pátrio (realização terrestre duma missão transcendente); e finalmente, depois desta missão cumprida, desta realização, na era crepuscular de fim da vida, os profetas, as vozes que anunciam já aquele que viria regenerar essa pátria moribunda, abrindo-lhe novo ciclo de vida, uma nova era – O ENCOBERTO.
Assim, a estrutura da mensagem, sendo a dum mito, numa teoria cíclica, a das idades, transfigura e repete a história duma pátria como um mito dum nascimento, vida e morte dum mundo; morte que será seguida dum renascimento, desenvolvendo-a como uma idade completa, de sentido cósmico e dando-lhe a forma simbólica tripartida – BRAZÃO, MAR PORTUGUÊS, O ENCOBERTO, que se poderá traduzir como: os fundadores, ou o nascimento; a realização, ou a vida; o fim das energias latentes, ou a morte: essa que conterá já em si, como gérmen, a próxima ressurreição, o novo ciclo que se anuncia – O QUINTO IMPÉRIO. Assim, a terceira parte é toda ela um fim, uma desintegração; mas também toda ela cheia de avisos, de pressentimentos, de forças latentes prestes a virem à luz: depois da Noite, e Tormenta, vem a Calma e Antemanhã, estes sãos os Tempos.
Que mutação houve e que auscultou o poeta, na alma do seu povo? À era dos heróis, daqueles que, percorrendo sozinhos e únicos, o caminho da realização pessoal e colectiva, levando-a até ao fim através de perigos sem conta, se teria sucedido uma era de desistência e anulação pessoal, em que a esperança e a obra de realização, de salvação se transfere e projecta num super eu nacional – O DESEJADO. É ele que trará a regeneração do povo; que pela sua aparição instaurará o tempo novo. Depois da degenerescência do tempo antigo, Alcácer Quibir contará o fim dum ciclo duma pátria, tal como o dum mundo, por um dilúvio, pela sua força renovadora e purificadora.
Esperai! Caí no areal e na hora adversa/Que deus concede aos seus/Para o intervalo em que esteja a alma imersa/Em sonhos que dão Deus (...).
A vinda do Encoberto marcará o fim da história. Os cinco impérios são irreversíveis. Alcácer Quibir é um acontecimento de valor religioso. E aí a morte de D. Sebastião assumirá o sentido da morte redentora dum Deus. E a sua parúsia no futuro, aquele do fim do tempo.
Essa intrínseca identificação do poeta com a sua nação, torna aqui o profetismo a forma do que assume em si, na sua pessoa, única e mortal, o destino dum ser colectivo em todo o transcurso da sua existência.
Dalila L. Pereira da Costa, O Esoterismo de Fernando Pessoa
A Mensagem poderá ser vista como uma epopeia, porque parte do núcleo histórico, mas a sua formulação, sendo simbólica e mítica, do relato histórico, não possuirá a continuidade. Aqui, a acção dos heróis só adquire pleno significado dentro duma referência mitológica. Aqui serão só eleitos, terão só direito à imortalidade, aqueles homens e feitos que manifestam em si esses mitos significativos. Assim, a estrutura será dada pelo que, noutra linguagem, se poderá chamar os esquemas ideológicos, ou as ideias-força desse povo: regresso ao paraíso, realização do impossível, espera do messias... raízes do desenvolvimento dessa entidade colectiva.
Os antepassados, os fundadores, que pela sua acção criaram a pátria, a ergueram a personalidade, separada, ou a plasmaram na sua alma própria; as mães, as que estão na origem das duas dinastias, cantadas como “antigo seio vigilante”, ou “o mano ventre do império”; os heróis navegantes, aqueles que percorrem o mar em busca do caminho da imortalidade, cumprindo um dever individual e pátrio (realização terrestre duma missão transcendente); e finalmente, depois desta missão cumprida, desta realização, na era crepuscular de fim da vida, os profetas, as vozes que anunciam já aquele que viria regenerar essa pátria moribunda, abrindo-lhe novo ciclo de vida, uma nova era – O ENCOBERTO.
Assim, a estrutura da mensagem, sendo a dum mito, numa teoria cíclica, a das idades, transfigura e repete a história duma pátria como um mito dum nascimento, vida e morte dum mundo; morte que será seguida dum renascimento, desenvolvendo-a como uma idade completa, de sentido cósmico e dando-lhe a forma simbólica tripartida – BRAZÃO, MAR PORTUGUÊS, O ENCOBERTO, que se poderá traduzir como: os fundadores, ou o nascimento; a realização, ou a vida; o fim das energias latentes, ou a morte: essa que conterá já em si, como gérmen, a próxima ressurreição, o novo ciclo que se anuncia – O QUINTO IMPÉRIO. Assim, a terceira parte é toda ela um fim, uma desintegração; mas também toda ela cheia de avisos, de pressentimentos, de forças latentes prestes a virem à luz: depois da Noite, e Tormenta, vem a Calma e Antemanhã, estes sãos os Tempos.
Que mutação houve e que auscultou o poeta, na alma do seu povo? À era dos heróis, daqueles que, percorrendo sozinhos e únicos, o caminho da realização pessoal e colectiva, levando-a até ao fim através de perigos sem conta, se teria sucedido uma era de desistência e anulação pessoal, em que a esperança e a obra de realização, de salvação se transfere e projecta num super eu nacional – O DESEJADO. É ele que trará a regeneração do povo; que pela sua aparição instaurará o tempo novo. Depois da degenerescência do tempo antigo, Alcácer Quibir contará o fim dum ciclo duma pátria, tal como o dum mundo, por um dilúvio, pela sua força renovadora e purificadora.
Esperai! Caí no areal e na hora adversa/Que deus concede aos seus/Para o intervalo em que esteja a alma imersa/Em sonhos que dão Deus (...).
A vinda do Encoberto marcará o fim da história. Os cinco impérios são irreversíveis. Alcácer Quibir é um acontecimento de valor religioso. E aí a morte de D. Sebastião assumirá o sentido da morte redentora dum Deus. E a sua parúsia no futuro, aquele do fim do tempo.
Essa intrínseca identificação do poeta com a sua nação, torna aqui o profetismo a forma do que assume em si, na sua pessoa, única e mortal, o destino dum ser colectivo em todo o transcurso da sua existência.
Dalila L. Pereira da Costa, O Esoterismo de Fernando Pessoa
terça-feira, 20 de novembro de 2007
Com a lira destemperada mas na obrigação de poeta
Reflexão do poeta, canto X, est.145-148
O poeta retoma o tom elegíaco. Reconhece a inutilidade do seu canto, pois o que celebra são-lhe indiferentes e inúteis. Nem o amor à Pátria o incentiva mais, já que esta está mergulhada na cobiça, encontra-se em decadência. Dos versos 4 a 8 da estrofe 146, reitera a falta de ânimo para a realização de grandes feitos.
Depois o discurso passa a ter como destinatário o rei, recuperando-se assim o tom épico. Há claramente um contraste de tons, épico e anti-épico nesta mesma estrofe; o primeiro porque o Rei é representante de Deus na terra, senhor de vassalos únicos pelas suas qualidades; o segundo porque a Pátria está numa decadência espiritual.
Da estrofe 147 à 148 faz-se um quadro épico das qualiades desses vassalos, que por várias vias dão provas do seu heroismo e que enfrentam todos os perigos no mar e na guerra para trazer fama e glória à Pátria e ao Rei. Estes perigos são apresentados quase como um espectáculo mostrado ao Rei “ Olhai que ledos vão, por várias vias quais leões ou bravos touros”.
Na estrofe 149, há como que um retomar da dedicatória, em que o poeta lembra ao Rei dos deveres que tem para com os seus vassalos.
O poeta retoma o tom elegíaco. Reconhece a inutilidade do seu canto, pois o que celebra são-lhe indiferentes e inúteis. Nem o amor à Pátria o incentiva mais, já que esta está mergulhada na cobiça, encontra-se em decadência. Dos versos 4 a 8 da estrofe 146, reitera a falta de ânimo para a realização de grandes feitos.
Depois o discurso passa a ter como destinatário o rei, recuperando-se assim o tom épico. Há claramente um contraste de tons, épico e anti-épico nesta mesma estrofe; o primeiro porque o Rei é representante de Deus na terra, senhor de vassalos únicos pelas suas qualidades; o segundo porque a Pátria está numa decadência espiritual.
Da estrofe 147 à 148 faz-se um quadro épico das qualiades desses vassalos, que por várias vias dão provas do seu heroismo e que enfrentam todos os perigos no mar e na guerra para trazer fama e glória à Pátria e ao Rei. Estes perigos são apresentados quase como um espectáculo mostrado ao Rei “ Olhai que ledos vão, por várias vias quais leões ou bravos touros”.
Na estrofe 149, há como que um retomar da dedicatória, em que o poeta lembra ao Rei dos deveres que tem para com os seus vassalos.
Ilha dos Amores e Máquina do Mundo: Utopia e Realidade
Episódio da Ilha dos Amores (canto IX, X est.18-143)
Segundo Vitor de Aguiar e Silva, este episódio ocupa 20% , da epopeia.
Na estrofe 18, assistimos ao primeiro momento de preparação da Ilha, ou seja, do prémio dos heróis, a cargo de Vénus, que triunfa também com a vitória dos Portugueses. Ordenada por entidades superiores, compensa o esforço dos Lusitanos, dando-lhe alegria “ nos mares tristes” (antítese).
Este prémio torna-se ainda mais merecido, quando a ninfa recorda os perigos que passaram, alguns preparados por Baco(est.19).
Auxiliada por Cupído, prepara um lugar propício ao repouso onde pudessem revigorar-se do cansaço, enfim onde “ os humanos (encontram) o Céu sereno” (est.20).
Nas estrofes 21e 22, é apresentada a ilha como um espaço de refúgio, isolamento, não afectado pelas contingências da realidade, uma Utopia com aquáticas donzelas que com a dança e a sua beleza terão”Vontade de trabalharem de contentar a quem se afeiçoaram”, “ ornada de esmaltado e verde arreio”.
A descrição da ilha (est54-63) é feita do geral para o pormenor (outeiros, vales, lago, arvoredo, árvores, laranjeira, cidreira, limões). Esta descrição tem sido objecto de várias leituras simbólicas, mas no plano literário, é construída à base de tópicos do “ Locus amoenus” ,lugar ameno, de natureza natural em equilíbrio. O número três que introduz esta descrição assume um valor simbólico de perfeição, que juntamente com os elementos naturais de ornato, a adjectivação valorativa do campo semântico de beleza, sensações visuais, auditivas, olfactivas e tácteis, e a dimensão ascendente de muitos dos elementos, dão-lhe singularidade, carácter de excepção. Há nitidamente uma intenção de erotização da natureza: “o arvoredo gentil sobre ela pende”, “ a laranjeira tem no fruito lindo a cor que tinha Dafne nos cabelos”, “ os fermosos limões, ali, cheirando, estão virgíneas tetas imitando”.
Os Portugueses chegam e pretendem caçar (est.64-66); caça essa rapidamente transformada em jogo lúdico amoroso entre os nautas e as ninfas.
Da estrofe 88 a 92 registe-se a explicitação que o próprio poeta faz; a ilha não é mais do que uma representação alegórica, tal como a construiu, também a desfaz. O prémio ideal dos heróis é a honra, a glória, a fama; também os deuses da mitologia foram simples homens que, pelos seus feitos ilustres, alcançaram a imortalização.
No canto X, est77-81, temos a representação da Máquina do mundo. De forma esférica, é a mais perfeita e uniforme mas também sem limites, é, no fundo, a imagem ou reflexo de quem a criou, Deus. É uma representação contemporãnea de Camões, com os quatro elementos: Terra, água, fogo, ar, produto da sabedoria divina, do mistério de um saber alto e profundo. O empíreo é identificado com o Céu de concepção cristã; os deuses saõ desmitificados, povoam o universo pela sua função estética e estilística, representam abstracções, são forças atrvés das quais Deus actua no mundo.
Segundo Vitor de Aguiar e Silva, este episódio ocupa 20% , da epopeia.
Na estrofe 18, assistimos ao primeiro momento de preparação da Ilha, ou seja, do prémio dos heróis, a cargo de Vénus, que triunfa também com a vitória dos Portugueses. Ordenada por entidades superiores, compensa o esforço dos Lusitanos, dando-lhe alegria “ nos mares tristes” (antítese).
Este prémio torna-se ainda mais merecido, quando a ninfa recorda os perigos que passaram, alguns preparados por Baco(est.19).
Auxiliada por Cupído, prepara um lugar propício ao repouso onde pudessem revigorar-se do cansaço, enfim onde “ os humanos (encontram) o Céu sereno” (est.20).
Nas estrofes 21e 22, é apresentada a ilha como um espaço de refúgio, isolamento, não afectado pelas contingências da realidade, uma Utopia com aquáticas donzelas que com a dança e a sua beleza terão”Vontade de trabalharem de contentar a quem se afeiçoaram”, “ ornada de esmaltado e verde arreio”.
A descrição da ilha (est54-63) é feita do geral para o pormenor (outeiros, vales, lago, arvoredo, árvores, laranjeira, cidreira, limões). Esta descrição tem sido objecto de várias leituras simbólicas, mas no plano literário, é construída à base de tópicos do “ Locus amoenus” ,lugar ameno, de natureza natural em equilíbrio. O número três que introduz esta descrição assume um valor simbólico de perfeição, que juntamente com os elementos naturais de ornato, a adjectivação valorativa do campo semântico de beleza, sensações visuais, auditivas, olfactivas e tácteis, e a dimensão ascendente de muitos dos elementos, dão-lhe singularidade, carácter de excepção. Há nitidamente uma intenção de erotização da natureza: “o arvoredo gentil sobre ela pende”, “ a laranjeira tem no fruito lindo a cor que tinha Dafne nos cabelos”, “ os fermosos limões, ali, cheirando, estão virgíneas tetas imitando”.
Os Portugueses chegam e pretendem caçar (est.64-66); caça essa rapidamente transformada em jogo lúdico amoroso entre os nautas e as ninfas.
Da estrofe 88 a 92 registe-se a explicitação que o próprio poeta faz; a ilha não é mais do que uma representação alegórica, tal como a construiu, também a desfaz. O prémio ideal dos heróis é a honra, a glória, a fama; também os deuses da mitologia foram simples homens que, pelos seus feitos ilustres, alcançaram a imortalização.
No canto X, est77-81, temos a representação da Máquina do mundo. De forma esférica, é a mais perfeita e uniforme mas também sem limites, é, no fundo, a imagem ou reflexo de quem a criou, Deus. É uma representação contemporãnea de Camões, com os quatro elementos: Terra, água, fogo, ar, produto da sabedoria divina, do mistério de um saber alto e profundo. O empíreo é identificado com o Céu de concepção cristã; os deuses saõ desmitificados, povoam o universo pela sua função estética e estilística, representam abstracções, são forças atrvés das quais Deus actua no mundo.
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
Mas que Império é este?
Reflexão: O poder corruptor do vil metal (canto VIII, 96-99)
O Catual, seduzido pelo ouro, só deixa partir os Portugueses depois de lhe entregarem as fazendas que traziam, pelo que Camões o insulta de “cobiçoso, corrompido e pouco nobre”(est96, vv.3,4). E a sede do dinheiro corrompe é uma maldição a que ninguém escapa: nem o rico, nem o pobre, nem os nossos amigos, os Reis e até os próprios religiosos, mesmo que camuflada numa falsa virtude.
O dinheiro faz os amigos traidores, aos nobres faz-lhes perder a honra, é inimigo do conhecimento pois não promove o interesse pelo mesmo, cega a justiça e até conspurca os ensinamentos divinos(est98, 99).
Nestas duas últimas estrofes, veja-se o valor da anáfora o deíctico referencial “este”, repetido sete vezes, pois sete são os pecados mortais.
Prof: Euclides, Linhas de leitura das Reflexões do poeta em Os Lusíadas
O Catual, seduzido pelo ouro, só deixa partir os Portugueses depois de lhe entregarem as fazendas que traziam, pelo que Camões o insulta de “cobiçoso, corrompido e pouco nobre”(est96, vv.3,4). E a sede do dinheiro corrompe é uma maldição a que ninguém escapa: nem o rico, nem o pobre, nem os nossos amigos, os Reis e até os próprios religiosos, mesmo que camuflada numa falsa virtude.
O dinheiro faz os amigos traidores, aos nobres faz-lhes perder a honra, é inimigo do conhecimento pois não promove o interesse pelo mesmo, cega a justiça e até conspurca os ensinamentos divinos(est98, 99).
Nestas duas últimas estrofes, veja-se o valor da anáfora o deíctico referencial “este”, repetido sete vezes, pois sete são os pecados mortais.
Prof: Euclides, Linhas de leitura das Reflexões do poeta em Os Lusíadas
Da Epopeia à Elegia
O lamento do poeta pela ingratidão daqueles que celebra
Estando reunidos o Catual, Paulo da Gama, Nicolau Coelho e o Monçaíde, todos olham para um estandar-te onde estárepresentado o imortal Luso em” trajo à Grega usança e com um ramo, por insígnia, na(mão) direita” . É esse ramo evocado que desencadeia os lamentos dirigidos às Ninfas sobre a sua própria situação individual(vv.4-8), veiculados metaforicamente pela viagem. Desta vez as Ninfas não são invocadas para o pedido de inspiração, mas para a salvação do poeta(vv.7,8). A Viagem á Índia é metáfora quer do árduo trablaho de produção do poema, quer da sua própria vida.
Na estrofe 79, o poeta considera-se investido de cantar os trabalhos dos Portugueses mas também os trabalhos por que passa: os perigos no mar e na guerra, cumprindo ele próprio o ideal humanista renascentista “ Nua mão sempre a espada e noutra a pena.” Trata-se nitidamente de um processo de auto-glorificação, isto é, o poeta apresenta-se aqui como herói perfeito, exemplificado na figura mitológica de Cânace.
Prossegue na estância 80 pela referência aos sofrimentos por que passa: miséria, solidão, desespero, sempre com a vida presa por um fio ( vide episódio do naufrágio de Camões, Canto X, est.128). Dói-lhe também a ingratidão dos homens que celebra (est.81vv.3,4), que tinham obrigação de o recompensar com coroas de louro. Nesta estrofe, 81, lança também a ideia do Mecenatismo, bastante prestigiada na Europa desta altura, que se traduzia na concessão de condições materiais aos artistas para que pudessem desenvolver as suas artes, sem que fosse necessário da parte dos artistas a subserviência ou servilismo.
A estrofe 82 reveste-se de um tom polidamente irónico, no sentido retórico do termo, isto é, tem exactamente o sentido contrário, antífrase, os escritores futuros com estes exemplos não escreverão.
Desiludido, num desamparo total, conta apenas com as Musas, com a inspiração poética, a figura do poeta anima-se pela consciência do seu poder de distribuir glória a quem bem entender(est.83). Quem o não merecer não será glorificado,nem tão pouco por lisonja. Não cantará aqueles que anteponham os seus interesses pessoais à frente da pátria, nem os ambiciosos que pretendam poder para alragar os seus vícios (est.84), não cantará os hipócritas, exemplificados com Proteu, em suma, não cantará aqueles que tiranizam o povo para conquistar o favor do rei(est.86).
Nas estrofes 86 e 87 expressa o seu conceito de justiça, merce o canto aqueles que perderam a vida, mas que ganharam a imortalidade e a glória por Deus e pela Pátria.
Prof: Euclides, Linhas de leitura das Reflexões do poeta em Os Lusíadas
Estando reunidos o Catual, Paulo da Gama, Nicolau Coelho e o Monçaíde, todos olham para um estandar-te onde estárepresentado o imortal Luso em” trajo à Grega usança e com um ramo, por insígnia, na(mão) direita” . É esse ramo evocado que desencadeia os lamentos dirigidos às Ninfas sobre a sua própria situação individual(vv.4-8), veiculados metaforicamente pela viagem. Desta vez as Ninfas não são invocadas para o pedido de inspiração, mas para a salvação do poeta(vv.7,8). A Viagem á Índia é metáfora quer do árduo trablaho de produção do poema, quer da sua própria vida.
Na estrofe 79, o poeta considera-se investido de cantar os trabalhos dos Portugueses mas também os trabalhos por que passa: os perigos no mar e na guerra, cumprindo ele próprio o ideal humanista renascentista “ Nua mão sempre a espada e noutra a pena.” Trata-se nitidamente de um processo de auto-glorificação, isto é, o poeta apresenta-se aqui como herói perfeito, exemplificado na figura mitológica de Cânace.
Prossegue na estância 80 pela referência aos sofrimentos por que passa: miséria, solidão, desespero, sempre com a vida presa por um fio ( vide episódio do naufrágio de Camões, Canto X, est.128). Dói-lhe também a ingratidão dos homens que celebra (est.81vv.3,4), que tinham obrigação de o recompensar com coroas de louro. Nesta estrofe, 81, lança também a ideia do Mecenatismo, bastante prestigiada na Europa desta altura, que se traduzia na concessão de condições materiais aos artistas para que pudessem desenvolver as suas artes, sem que fosse necessário da parte dos artistas a subserviência ou servilismo.
A estrofe 82 reveste-se de um tom polidamente irónico, no sentido retórico do termo, isto é, tem exactamente o sentido contrário, antífrase, os escritores futuros com estes exemplos não escreverão.
Desiludido, num desamparo total, conta apenas com as Musas, com a inspiração poética, a figura do poeta anima-se pela consciência do seu poder de distribuir glória a quem bem entender(est.83). Quem o não merecer não será glorificado,nem tão pouco por lisonja. Não cantará aqueles que anteponham os seus interesses pessoais à frente da pátria, nem os ambiciosos que pretendam poder para alragar os seus vícios (est.84), não cantará os hipócritas, exemplificados com Proteu, em suma, não cantará aqueles que tiranizam o povo para conquistar o favor do rei(est.86).
Nas estrofes 86 e 87 expressa o seu conceito de justiça, merce o canto aqueles que perderam a vida, mas que ganharam a imortalidade e a glória por Deus e pela Pátria.
Prof: Euclides, Linhas de leitura das Reflexões do poeta em Os Lusíadas
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
Reflexão do poeta ( canto VII, est 4-14)
Apelo à guerra santa dirigido aos outros povos Europeus
Os Portugueses lançaram-se na Guerra Santa movidos não pela cobiça mas pela obediência à Santa Igreja. Os Portugueses são poucos mas fortes com coragem e espírito cristão; Deus serve-se de um instrumento fraco para um forte objectivo: dilatar a sua fé.
Da esrofe 4 à 8 inclusivé, o poeta estabele uma crítica directa, ela é feita aos alemães (est4); aos Ingleses (est.5, 6), aos Franceses (est.7) e aos Italianos (est.8).
Os primeiros afastam-se cada vez mais de Deus, preocupados que estão com guerras internas, o Movimento da Reforma, em vez de se revoltarem contra o inimigo da fé cristã, “ O superbissimo Otomano”, o Turco.
Os Ingleses intitulam-se senhores de Jerusalém mas esta estánas mãos dos ismaelitas, está sob o domínio de um rei turco e contra isso os Ingleses nada fazem. Henrique VII “ nova maneira faz de Cristandade”, a Igreja anglicana, num movimento insistente de rebelião contra os próprios cristãos, deixando de canalizar esse esforço para “tomar a terra que era sua”.
Os Franceses, “Reis cristianíssimos”, não honram o cognome que lhes foi dado pelo Papa, envolvendo-se em guerras contra cristãos.
Os Italianos estão esquecidos do seu valor antigo, mergulhados que estão na ociosidade, no prazer, “em vícios mil”, a sua grandeza está em perigo.
Da estrofe 9 à 11 o poeta faz uma apóstrofe geral aos cristãos. Censura-os pela sua desunião, pelas guerras que provocam entre eles. Compara-os a Cadmo que espalha os dentes do dragão que venceu, dos quais nasem homens armados que se matam uns aos outros. Mais uma vez o relato mitológico serve o processo deargumentação por exemplificação, dando validade ao defendido.
Enquanto do lado inimigo reina a união, os cristãos têm por sua vez dois inimigos, um exterior e um interior: o infiél e a discórdia entre eles mesmos. Assim sendo, o poeta abre uma concessão; se o móbil religioso não é suficiente: “ Pois mover-vos não pode a Casa Santa”, que mova os cristãos o interesse económico: “ Mova-vos já, sequer, riqueza tanta”.
Nas estrofes 12 e 13, o poeta exorta os cristãos a mobilizar o poder bélico de modo a fazer recuar o inimigo, já que grandes regiões da Europa estão a ser ocupadas pelos infiéis que obrigam os cristãos a seguir . “ os profanos preceptos do Alcorão”.
Em contraposição à atitude dos povos da Europa, os Portugueses movem-se “ em cristãos atrevimentos” em África, na Ásia e “ na quarta parte nova”, no Brasil, e mais houvesse!
Há muitas críticas a esta reflexão sustentadas na desactualizaçaõ dos factos que ai são assinalados. Contudo, a meu ver, basta referir que um ano antes da publicação d’’Os Lusíadas, dá-se a Batalha de Lepanto, na qual se conseguiram travar as forças turcas, apesar do apoio que tiveram dos Franceses.Portanto, no momento de produção desta reflexão, ela tem plena justificação e actualidade. Sabe-se também que nos primórdios da década de setenta, do século em causa, circulam por toda a Europa textos que apelam à Guerra Santa, a título de exemplo, lembre-se a Bula Regnans in Excelsis do Papa Pio V(27 de Abril de 1570), na qual excomingava a rainha Isabel I.
( Prof: Euclides)
Os Portugueses lançaram-se na Guerra Santa movidos não pela cobiça mas pela obediência à Santa Igreja. Os Portugueses são poucos mas fortes com coragem e espírito cristão; Deus serve-se de um instrumento fraco para um forte objectivo: dilatar a sua fé.
Da esrofe 4 à 8 inclusivé, o poeta estabele uma crítica directa, ela é feita aos alemães (est4); aos Ingleses (est.5, 6), aos Franceses (est.7) e aos Italianos (est.8).
Os primeiros afastam-se cada vez mais de Deus, preocupados que estão com guerras internas, o Movimento da Reforma, em vez de se revoltarem contra o inimigo da fé cristã, “ O superbissimo Otomano”, o Turco.
Os Ingleses intitulam-se senhores de Jerusalém mas esta estánas mãos dos ismaelitas, está sob o domínio de um rei turco e contra isso os Ingleses nada fazem. Henrique VII “ nova maneira faz de Cristandade”, a Igreja anglicana, num movimento insistente de rebelião contra os próprios cristãos, deixando de canalizar esse esforço para “tomar a terra que era sua”.
Os Franceses, “Reis cristianíssimos”, não honram o cognome que lhes foi dado pelo Papa, envolvendo-se em guerras contra cristãos.
Os Italianos estão esquecidos do seu valor antigo, mergulhados que estão na ociosidade, no prazer, “em vícios mil”, a sua grandeza está em perigo.
Da estrofe 9 à 11 o poeta faz uma apóstrofe geral aos cristãos. Censura-os pela sua desunião, pelas guerras que provocam entre eles. Compara-os a Cadmo que espalha os dentes do dragão que venceu, dos quais nasem homens armados que se matam uns aos outros. Mais uma vez o relato mitológico serve o processo deargumentação por exemplificação, dando validade ao defendido.
Enquanto do lado inimigo reina a união, os cristãos têm por sua vez dois inimigos, um exterior e um interior: o infiél e a discórdia entre eles mesmos. Assim sendo, o poeta abre uma concessão; se o móbil religioso não é suficiente: “ Pois mover-vos não pode a Casa Santa”, que mova os cristãos o interesse económico: “ Mova-vos já, sequer, riqueza tanta”.
Nas estrofes 12 e 13, o poeta exorta os cristãos a mobilizar o poder bélico de modo a fazer recuar o inimigo, já que grandes regiões da Europa estão a ser ocupadas pelos infiéis que obrigam os cristãos a seguir . “ os profanos preceptos do Alcorão”.
Em contraposição à atitude dos povos da Europa, os Portugueses movem-se “ em cristãos atrevimentos” em África, na Ásia e “ na quarta parte nova”, no Brasil, e mais houvesse!
Há muitas críticas a esta reflexão sustentadas na desactualizaçaõ dos factos que ai são assinalados. Contudo, a meu ver, basta referir que um ano antes da publicação d’’Os Lusíadas, dá-se a Batalha de Lepanto, na qual se conseguiram travar as forças turcas, apesar do apoio que tiveram dos Franceses.Portanto, no momento de produção desta reflexão, ela tem plena justificação e actualidade. Sabe-se também que nos primórdios da década de setenta, do século em causa, circulam por toda a Europa textos que apelam à Guerra Santa, a título de exemplo, lembre-se a Bula Regnans in Excelsis do Papa Pio V(27 de Abril de 1570), na qual excomingava a rainha Isabel I.
( Prof: Euclides)
sábado, 27 de outubro de 2007
Matriz do 1º teste de avaliação
GrupoI
1.Situar excertos na estrutura interna d’ “Os Lusíadas”
- Identificar narrador ou sujeitos de enunciação e destinatários de diferentes discursos
-Reconhecer dimensão épica e anti-épica de diferentes episódios/ momentos da obra
2.
2.1. Relacionar assuntos tratados nos textos
2.1.1. Identificar um recurso estilístico
2.1.2. Explicar a sua expressividade ( razões da sua utilização)
3. Comparar tipos de caracterização
4. Indicar motivos subjacentes a intenções do autor/poeta
Grupo II
- Identificar mecanismos linguísticos de estruturação, coesão e conexão de um texto informativo
Grupo III
- Produzir texto argumentativo
Conteúdos
- estrutura interna
- Planos
- Narrador(es)/ emissores e destinatários
- Dimensão/função épica e anti-épica
- Conceito de herói , conceito de epopeia
- Figuras de estilo estudadas
- Expressividade estilística, efeitos , imagens e processos de aproximação entre conceitos
- Conteúdo do texto
- Conteúdo do texto
-processos de co-referência
- processos de recuperação, conexão de informação
- Modalização
- diferentes valores gramaticais de “ que”
- Tipologia de texto
- Temática abordada em aula
1.
Tipologia da questão
- Escolha de alternativas
( 4 alíneas)
2,3,4
- Itens de resposta curta
( valorizados pelo conteúdo e pelos aspectos de organização e forma)
Grupo II
- Item de correspondência
(6 alíneas)
Grupo III
- Item de resposta extensa
1.Situar excertos na estrutura interna d’ “Os Lusíadas”
- Identificar narrador ou sujeitos de enunciação e destinatários de diferentes discursos
-Reconhecer dimensão épica e anti-épica de diferentes episódios/ momentos da obra
2.
2.1. Relacionar assuntos tratados nos textos
2.1.1. Identificar um recurso estilístico
2.1.2. Explicar a sua expressividade ( razões da sua utilização)
3. Comparar tipos de caracterização
4. Indicar motivos subjacentes a intenções do autor/poeta
Grupo II
- Identificar mecanismos linguísticos de estruturação, coesão e conexão de um texto informativo
Grupo III
- Produzir texto argumentativo
Conteúdos
- estrutura interna
- Planos
- Narrador(es)/ emissores e destinatários
- Dimensão/função épica e anti-épica
- Conceito de herói , conceito de epopeia
- Figuras de estilo estudadas
- Expressividade estilística, efeitos , imagens e processos de aproximação entre conceitos
- Conteúdo do texto
- Conteúdo do texto
-processos de co-referência
- processos de recuperação, conexão de informação
- Modalização
- diferentes valores gramaticais de “ que”
- Tipologia de texto
- Temática abordada em aula
1.
Tipologia da questão
- Escolha de alternativas
( 4 alíneas)
2,3,4
- Itens de resposta curta
( valorizados pelo conteúdo e pelos aspectos de organização e forma)
Grupo II
- Item de correspondência
(6 alíneas)
Grupo III
- Item de resposta extensa
Reflexão do poeta ( canto VI, est.95-99)
Programa para a actuação heróica
Os primeiros quatro versos da estrofe 95 são elucidativos da motivação subjacente a esta reflexão. No início do canto VI, Baco consegue convencer Neptuno a promover um consílio dos Deuses marinhos em que se decide surpreender os nautas lusitanos com uma tempestade, favorecida pelo poder dos ventos, nomeadamente Éolo.
Mais uma vez é a intervenção de Vénus que, solicitando às ninfas que seduzissem os ventos, consegue com que estas os distraiam, permitindo aos portugueses chegarem a Calecut. Foram estes “os (...) hórridos perigos, os trabalhos graves e temores”.
Como deve o herói alcançar a fama? O programa começa por fazer-se pela negativa (est.95-96) e só a partir da estrofe 97, pela afirmativa.
Propositadamente, começa por apresentar a genealogia como elemento insuficiente para alcançar o estauto de herói, contrariando a norma vigente na época. É mais uma vez a insistência no ideal humanista que concebe o homem como um produto da experiência.
Ainda nesta estrofe e coincidente com o apelo á experiência pessoal, nega-se o acesso ao heroismo pela via da ociosidade, do conforto, do bem-estar que alíás, será sujeita a um processo de enumeração na estrofe 96.
A gula pelos reqintados e exóticos manjares, os passeios indolentes e inúteis, as mais diversas futilidades, as ambições desmesuradas enfraquecem os ânimos, fragilizam o Homem, votando-o à insatisfação. E pior, distraem-no das obras de verdadeiro valor.
A conjunção adversativa que introduz a estrofe 97, contrapõe o que se repudiou anteriormente com uma actuação marcada pelo sofrimento, pelo esforço, pela coragem: a actividade bélica: “ o forçoso braço(...) vigiando e vestindo o forjado aço” e a marítima” sofrendo tempestades e ondas cruas...”.
Quer em batalhas, quer no mar, está-se ante a desgraça “ o pelouro ardente que assovia e leva a perna ou braço ao companheiro.” Mas são essas situações que exigem que o ânimo se domine, “ a parecer seguro, ledo, inteiro” e consequentemente se crie “ o calo honroso”. Por outro lado, é o sofrimento que faz o homem dar mais valor á vida e a desprezar as honras e o dinheiro, isto é, fá-lo atingir a grandeza moral.
Os prémios do acaso, da sorte, o verdadeiro herói despreza-os. Os que ele mesmo conquistou, pela sua virtude, são seus por direito próprio.
Desta forma, é do entendimento geral que a experiência dos perigos torna o homem sereno (est.99); fá-lo posicionar-se acima dos interesses e das coisas mesquinhas. Numa sociedade regida pela justiça e não por intereses próprios, o herói terá a recompensa pelo seu valor, desempenhando lugares superiores, mesmo “ que contra vontade sua e não rogando”, é o reconhecimento e promoção natural.
Finalmente, registe-se que este retrato robot do herói é uma caracterização abstracta, no sentido em que não se estabelece por comparação mas por generalização de um modelo universal.
(Linhas de leitura do professor Euclides)
Os primeiros quatro versos da estrofe 95 são elucidativos da motivação subjacente a esta reflexão. No início do canto VI, Baco consegue convencer Neptuno a promover um consílio dos Deuses marinhos em que se decide surpreender os nautas lusitanos com uma tempestade, favorecida pelo poder dos ventos, nomeadamente Éolo.
Mais uma vez é a intervenção de Vénus que, solicitando às ninfas que seduzissem os ventos, consegue com que estas os distraiam, permitindo aos portugueses chegarem a Calecut. Foram estes “os (...) hórridos perigos, os trabalhos graves e temores”.
Como deve o herói alcançar a fama? O programa começa por fazer-se pela negativa (est.95-96) e só a partir da estrofe 97, pela afirmativa.
Propositadamente, começa por apresentar a genealogia como elemento insuficiente para alcançar o estauto de herói, contrariando a norma vigente na época. É mais uma vez a insistência no ideal humanista que concebe o homem como um produto da experiência.
Ainda nesta estrofe e coincidente com o apelo á experiência pessoal, nega-se o acesso ao heroismo pela via da ociosidade, do conforto, do bem-estar que alíás, será sujeita a um processo de enumeração na estrofe 96.
A gula pelos reqintados e exóticos manjares, os passeios indolentes e inúteis, as mais diversas futilidades, as ambições desmesuradas enfraquecem os ânimos, fragilizam o Homem, votando-o à insatisfação. E pior, distraem-no das obras de verdadeiro valor.
A conjunção adversativa que introduz a estrofe 97, contrapõe o que se repudiou anteriormente com uma actuação marcada pelo sofrimento, pelo esforço, pela coragem: a actividade bélica: “ o forçoso braço(...) vigiando e vestindo o forjado aço” e a marítima” sofrendo tempestades e ondas cruas...”.
Quer em batalhas, quer no mar, está-se ante a desgraça “ o pelouro ardente que assovia e leva a perna ou braço ao companheiro.” Mas são essas situações que exigem que o ânimo se domine, “ a parecer seguro, ledo, inteiro” e consequentemente se crie “ o calo honroso”. Por outro lado, é o sofrimento que faz o homem dar mais valor á vida e a desprezar as honras e o dinheiro, isto é, fá-lo atingir a grandeza moral.
Os prémios do acaso, da sorte, o verdadeiro herói despreza-os. Os que ele mesmo conquistou, pela sua virtude, são seus por direito próprio.
Desta forma, é do entendimento geral que a experiência dos perigos torna o homem sereno (est.99); fá-lo posicionar-se acima dos interesses e das coisas mesquinhas. Numa sociedade regida pela justiça e não por intereses próprios, o herói terá a recompensa pelo seu valor, desempenhando lugares superiores, mesmo “ que contra vontade sua e não rogando”, é o reconhecimento e promoção natural.
Finalmente, registe-se que este retrato robot do herói é uma caracterização abstracta, no sentido em que não se estabelece por comparação mas por generalização de um modelo universal.
(Linhas de leitura do professor Euclides)
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
"Numa mão a espada, noutra a pena", sempre!
Terminado o relato de Vasco da Gama ao rei de Melinde, que durou um longo dia: “ Mas já o mancebo Délio as rédeas vira,/ que o irmão de lampécia mal guiou,/ por vir descansar nos Tethyos braços;/ e el-Rei se vai do mar aos nobres paços.” Cada um dos homens que o ouviu reconta o episódio que mais o impressionou, e foram vários(est.91).
A reflexão ou excurso começa na estrofe 92 com uma sequência de sentenças, de veradesde valor universal e intemporais, daí o presente da enunciação, são elas:
vv.1,2 – o prazer da glória dos feitos realizados atinge-se quando estes são cantados,
vv.3,4 – “ nobre” não é uma característica social mas espiritual, a grandeza de espírito que tenta imitar os feitos grandes do passado,
vv.5,6 – a história como lição, modelo a ser imitado
v.v7,8 – Fama, glória, louvor concedidos a quem tem heroísmo
(est.93) confirmação do que foi dito anteriormente através das figuras heróicas da História antiga:
Alexandre inveja Aquiles não pela sua força e feitos mas por ter sido cantado por numerosos e harmoniosos versos.
Temístocles inveja a voz que celebrou os feitos de Milcíades
(est.94) Vasco da Gama tentou demonstrar a linha de superação dos heróis antigos mas Eneias é um herói celebrado porque Virgílio foi devidamente protegido para o cantar, e consequentemente também se celebrou Roma.
(est. 95 a 97) O poeta acusa a terra Lusitana de fazer homens “ duros e robustos”, rudes e insensíveis, bons na guerra sim, tal como Cipião, César, Alexandre ou Augusto, mas sem dons alguns para as artes liberais, as letras. Os lusitanos não espelham o ideal de homem que o Renascimento quer reanimar, resssuscitar, tipo Octávio “Que entre as maiores opressões compunha versos doutos e venustos”, ou César que mesmo em guerra contra a França não deixava de se instruir, o ideais de homem humanista que conciliam”numa mão a pena e noutra a lança”. É com vergonha que admite que capitão algum poderá ser louvado enquanto não houver interesse pela arte que a valorize.
Os lusitanos são heróis incultos, os da antiguidade são doutos e cientes- compração pela desigualdade. Em todas as nações os heróis se inserem no paradigma humanista, excepto em Portugal.
(est.98) Consequências: os poetas fazem heróis, sem eles não há memórias dos seus feitos, há que condenar a ignorância e a insensibilidade.
(est.99) É o caso do Gama, é um herói imperfeito, não merece ser cantado pela sua incultura. Só é cantado porque as musas e poetas movem-se pelo amor à Pátria e ele vem por arrasto.
(est.100) frieza do porta no incitamento que faz aos heróis de continuarem os seus feitos, se não forem premiados pelo canto, sê-lo-ão de outra forma.
A reflexão ou excurso começa na estrofe 92 com uma sequência de sentenças, de veradesde valor universal e intemporais, daí o presente da enunciação, são elas:
vv.1,2 – o prazer da glória dos feitos realizados atinge-se quando estes são cantados,
vv.3,4 – “ nobre” não é uma característica social mas espiritual, a grandeza de espírito que tenta imitar os feitos grandes do passado,
vv.5,6 – a história como lição, modelo a ser imitado
v.v7,8 – Fama, glória, louvor concedidos a quem tem heroísmo
(est.93) confirmação do que foi dito anteriormente através das figuras heróicas da História antiga:
Alexandre inveja Aquiles não pela sua força e feitos mas por ter sido cantado por numerosos e harmoniosos versos.
Temístocles inveja a voz que celebrou os feitos de Milcíades
(est.94) Vasco da Gama tentou demonstrar a linha de superação dos heróis antigos mas Eneias é um herói celebrado porque Virgílio foi devidamente protegido para o cantar, e consequentemente também se celebrou Roma.
(est. 95 a 97) O poeta acusa a terra Lusitana de fazer homens “ duros e robustos”, rudes e insensíveis, bons na guerra sim, tal como Cipião, César, Alexandre ou Augusto, mas sem dons alguns para as artes liberais, as letras. Os lusitanos não espelham o ideal de homem que o Renascimento quer reanimar, resssuscitar, tipo Octávio “Que entre as maiores opressões compunha versos doutos e venustos”, ou César que mesmo em guerra contra a França não deixava de se instruir, o ideais de homem humanista que conciliam”numa mão a pena e noutra a lança”. É com vergonha que admite que capitão algum poderá ser louvado enquanto não houver interesse pela arte que a valorize.
Os lusitanos são heróis incultos, os da antiguidade são doutos e cientes- compração pela desigualdade. Em todas as nações os heróis se inserem no paradigma humanista, excepto em Portugal.
(est.98) Consequências: os poetas fazem heróis, sem eles não há memórias dos seus feitos, há que condenar a ignorância e a insensibilidade.
(est.99) É o caso do Gama, é um herói imperfeito, não merece ser cantado pela sua incultura. Só é cantado porque as musas e poetas movem-se pelo amor à Pátria e ele vem por arrasto.
(est.100) frieza do porta no incitamento que faz aos heróis de continuarem os seus feitos, se não forem premiados pelo canto, sê-lo-ão de outra forma.
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
Trabalho de escrita recreativa
Pedra Filosofal
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
In Movimento Perpétuo, 1956
Tarefa: Produção de texto argumentativo
No poema de António Gedeão, Pedra Filosofal,( Ver blogue), sem sonho o homem não teria atingido o progresso civilizacional, nem se teria realizado enquanto”bichinho álacre e sedento (...) que foça através de tudo num perpétuo movimento”.
A argumentação presente no poema a favor do sonho poderia também ser válida para defender a empresa ultramarina. Serve-te dela para produzires um discurso argumentativo que respeite o plano seguinte:
Tese: O Sonho é uma constante da vida
O Sonho é energia criativa
O Sonho é o motor do conhecimento
Desenvolvimento
Exórdio:escolhe de um auditório/ interlocutor a quem vais dirigir o teu discurso,
-Desperta o interesse do auditório, implicando-o no assunto que vais tratar(utilizar para esse efeito apóstrofes; posicioná-lo perante uma situação concreta)
Argumentação: por via indutiva, apresentando de forma directa os argumentos e posteriormente por via dedutiva, através de paralelismos, de interrogações retóricas etc...
Conclusão: Deverá ser feita sob forma de generalização, saindo das situações concretas referidas na argumentação e ter uma amplitude universal e intemporal.
Texto de apoio
O discurso contém diversos temas, como a oposição à ida à Índia, envolvendo demasiados riscos, a preferência pelo Norte de África, mais perto e mais seguro, a expansão da fé etc... mas o tema central é a ambição que perdeu os homens, desterrando-os da Idade do Ouro para a Idade do Ferro, a ambição que arrasta os portugueses para perdições sem conta na Ida ao Oriente. Foi também a ambição que levou Adão e Eva à expulsão do Paraíso Terrestre; foi a ambição que levou Prometeu a roubar o Fogo aos deuses, provocando a fúria de Júpiter e o castigo do usurpador, foi a ambição que levou Ícaro a afastar-se de seu pai, Dédalo e a voar muito alto com asas de cera, acabando por se precipitar no mar Egeu.
O Velho do Restelo fala, em parte, como um humanista, manifestando um certo desprezo pelo povo néscio.
António José saraiva acha que o discurso do Velho do Restelo entra em contradição com a tese fundamental da obra- a viagem à Índia.
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
In Movimento Perpétuo, 1956
Tarefa: Produção de texto argumentativo
No poema de António Gedeão, Pedra Filosofal,( Ver blogue), sem sonho o homem não teria atingido o progresso civilizacional, nem se teria realizado enquanto”bichinho álacre e sedento (...) que foça através de tudo num perpétuo movimento”.
A argumentação presente no poema a favor do sonho poderia também ser válida para defender a empresa ultramarina. Serve-te dela para produzires um discurso argumentativo que respeite o plano seguinte:
Tese: O Sonho é uma constante da vida
O Sonho é energia criativa
O Sonho é o motor do conhecimento
Desenvolvimento
Exórdio:escolhe de um auditório/ interlocutor a quem vais dirigir o teu discurso,
-Desperta o interesse do auditório, implicando-o no assunto que vais tratar(utilizar para esse efeito apóstrofes; posicioná-lo perante uma situação concreta)
Argumentação: por via indutiva, apresentando de forma directa os argumentos e posteriormente por via dedutiva, através de paralelismos, de interrogações retóricas etc...
Conclusão: Deverá ser feita sob forma de generalização, saindo das situações concretas referidas na argumentação e ter uma amplitude universal e intemporal.
Texto de apoio
O discurso contém diversos temas, como a oposição à ida à Índia, envolvendo demasiados riscos, a preferência pelo Norte de África, mais perto e mais seguro, a expansão da fé etc... mas o tema central é a ambição que perdeu os homens, desterrando-os da Idade do Ouro para a Idade do Ferro, a ambição que arrasta os portugueses para perdições sem conta na Ida ao Oriente. Foi também a ambição que levou Adão e Eva à expulsão do Paraíso Terrestre; foi a ambição que levou Prometeu a roubar o Fogo aos deuses, provocando a fúria de Júpiter e o castigo do usurpador, foi a ambição que levou Ícaro a afastar-se de seu pai, Dédalo e a voar muito alto com asas de cera, acabando por se precipitar no mar Egeu.
O Velho do Restelo fala, em parte, como um humanista, manifestando um certo desprezo pelo povo néscio.
António José saraiva acha que o discurso do Velho do Restelo entra em contradição com a tese fundamental da obra- a viagem à Índia.
terça-feira, 9 de outubro de 2007
Notas avulsas sobre a mitificação do herói
DIMENSÃO EXEMPLAR DA HISTÓRIA NARRADA
A história narrada em Os Lusíadas tem uma dimensão exemplar, por apresentar factos e figuras como modelos a seguir, bem como atitudes a evitar (estas em menor número).
Quem são as personagens agentes de feitos ilustres notáveis?
São muitas. São os heróis da navegação, da conquista, os reis portugueses que dilataram a Fé e o Império, que difundiram a civilização nas terras de África e Ásia; são também aqueles cujo nome ficou na História por actos de excepção… (cf. Canto I, 1-2)
Em Os Lusíadas, especialmente a partir do Canto V, no final de cada Canto, há partes que não são narrativas, porque o poeta aproveita para tecer os seus comentários e críticas. Contudo, segundo os cânones da epopeia, o Poema de Camões deveria ser alheio à pessoa do poeta. É neste sentido que Luís António Verney, no séc. XVIII, faz as seguintes críticas:
“Errou o Camões em não sustentar sempre o carácter e grandeza do seu herói, que abaixa sensivelmente no canto VIII, do meio para diante. Errou nas enfadonhas digressões que introduz por toda a parte. Errou em acabar quase todos os Cantos com exclamações mui fora de propósito e muito contra o estilo da epopeia.” (in Carta VII do Verdadeiro Método de Estudar, Editorial Presença, p. 168).
De opinião oposta à anterior, Eduardo Lourenço, dois séculos mais tarde, diz o seguinte:
“Os Lusíadas não são a primeira epopeia realista dos tempos modernos, mas a primeira que nada perdeu da sua força, graças ao fulgor da sua forma, quer dizer, graças à sua autonomia de poema humanista, de realidade escrita” (“Camões e o tempo ou a razão oscilante” in Poesia e Metafísica, Lisboa, Sá da Costa Editora, 1983, p. 34)
Um dos propósitos de tais intromissões do poeta é o de doutrinar e construir, por cima do tradicional herói guerreiro, um novo tipo de herói, o humanista.
O HERÓI POSSÍVEL
Camões, em Os Lusíadas, apresenta o heroísmo em termos teóricos, programáticos, havendo uma distância entre a perfeição idealizada e o plano da realidade
Primeiro, Camões anuncia as formas de comportamento que o herói deve evitar (Canto VI, 95-96): não descansar à sombra dos louros conquistados pelos seus antecessores e evitar a ociosidade, inércia e comodismo.
Depois, anuncia o programa em forma afirmativa (Canto VI, 97-99): necessidade de exercício, esforço da coragem e capacidade de enfrentar todo o tipo de sofrimento.
Assim, advêm-lhe não só honras próprias, isto é, do seu próprio mérito, como também coragem para enfrentar os perigos de guerra e para dominar o medo e a comoção – manifestações exteriores que se forem moldadas dão-lhe uma superioridade moral e uma serenidade intelectual.
Numa sociedade justa e bem organizada, um homem destes será chamado ao desempenho de cargos de responsabilidade: será chamado “contra vontade sua, e não rogando” (Canto VI, 99). Requer-se um homem desprendido do poder, que aceite exercer cargos mesmo sem o desejar, apenas movido por uma consciência cívica de servir a pátria.
O bom herói, ou bom português, deve renunciar a tirania, a ociosidade, a cobiça, as “honras vãs”, o “ouro puro” (cf. Canto IX, 92-95) – pois,
Melhor é merecê-los sem os ter,
Que possuí-los sem os merecer.
Cumpridos estes preceitos,
Sereis entre Heróis esclarecidos
E nesta Ilha de Vénus recebidos
(Canto IX, 95)
Apesar de tal prémio, este tipo de herói ainda não corresponde, por completo, ao ideal ético do poeta dos tempos novos.
O PODER DO POETA
Em última análise, quem premeia os nautas com uma ilha mitológica é o próprio vate ao resgatá-los do esquecimento (da lei leteia), dispensando-lhes a fama e imortalidade no e através do seu canto.
O rudo canto meu, que ressuscita
as honras sepultadas,
as palmas já passadas
dos belicosos nossos Lusitanos,
para tesouro dos futuros anos,
convosco se defende
da lei leteia, à qual tudo se rende.
(Ode VII)
Nas estâncias 83 a 87 do Canto VII, Camões chega a enumerar as pessoas que não merecem a glória que o canto do poeta dá: os lisonjeiros; os que actuam movidos por um interesse pessoal em prejuízo de um bem comum e do seu rei; os que actuam movidos pela ambição (os que sobem ao poder por influências, compra de cargos de importância), permitindo dar largas aos seus vícios; e os que exercem despoticamente o poder.
O poeta chega ao ponto de se queixar do facto de a aristocracia portuguesa, representada na pessoa de Vasco da Gama, não ser amiga das Musas:
Que ele, nem quem, na estirpe, seu se chama,
Calíope não tem por tão amiga
(Canto V, 99)
Por isso, diz, não é por Vasco da Gama que as Musas (o poeta) cantam; é pela pátria:
Às Musas agradeça o nosso Gama
O muito amor da pátria, que as obriga
A dar aos seus, na lira, nome e fama
De toda a ilustre e bélica fadiga
E mais: “se este costume dura” Portugal ficará pobre em heróis:
Sem vergonha o não digo, que a razão
De algum não ser por versos excelente
É não se ver prezado o verso e rima,
Porque quem não sabe arte, não na estima.
Por isso, e não por falta de natura,
Não há também Virgílios nem Homeros;
Nem haverá, se este costume dura,
Pios Eneias nem Aquiles feros.
(Canto V, 97-98)
Sem Virgílio não há Eneias, sem Camões, Gama.
Em toda a sua poesia, a começar no canto épico, há a expressão, quase cansativa, de uma decepção causada por uma crise inerente à sua época.
O HERÓI HUMANISTA
“A melhor forma de serviço público e de empenhamento cívico, aquela em que se logra a desejada simbiose entre a vida activa e a vida contemplativa, é a do homem de intelecto, do humanista, que é simultaneamente um homem de acção, um soldado. Por isso tanta importância tem no nosso discurso histórico-literário o topos das Armas e Letras.
Doravante a ideia de mérito e experiência individual, sempre que se trate de eleger alguém para lugares de responsabilidade pública, vai sobrepor-se à ideia de linhagem e privilégio de nascimento.” (Luís de Sousa Rebelo, A tradição clássica na literatura portuguesa, Lisboa, Livros Horizonte, 1982).
Nesta ordem de ideias, há uma visão de conjunto sobre os heróis portugueses como sendo imperfeitos (cf. Canto V, 92-97), por não ultrapassarem o desenho tradicional do herói cavaleiresco.
O poeta diz ter vergonha destes heróis, porque são ignorantes, ao contrário dos Antigos, como Octávio que,
[…] entre as maiores opressões,
Compunha versos doutos e venustos
(Canto V, 95)
As figuras da Antiguidade são o paradigma humanista da associação das ARMAS e das LETRAS.
Da galeria de heróis de Os Lusíadas, Nuno Álvares Pereira é aquele que Camões decide construir à medida do novo conceito de herói, pois é representado como excelente na capacidade de discursar (cf. Canto IV, 14-21) e excelente no campo de batalha (cf. Canto IV, 28-44).
Mesmo que historicamente Nuno Álvares Pereira tenha sido um bom estratega e orador, naturalmente que o épico o estilizou tão à maneira de Fernão Lopes que, por sua vez, já o havia tornado lendário.
Na verdade, em Os Lusíadas, Camões é o único que comporta majestosamente estas duas qualidades: a conciliação das Armas e das Letras.
Se repararem, quando se fala de Os Lusíadas o nome que vem imediatamente à mente é o de Camões e não o de um herói literário. Os Lusíadas não nos remetem senão para o seu autor. Mas, no que toca a outras epopeias, ocorrem-nos os nomes de Ulisses, Eneias, El Cid, Tristão, Hamlet, D. Quixote, isto é, os respectivos heróis literários.
“Para compensar uma tal ausência – cujo mistério se repercute sobre a imagem global da nossa literatura – temos uma espécie de herói-vivo, cuja lenda verídica teve o condão de se converter em existência ideal, como é apanágio da ficção perfeita. Referimo-nos, naturalmente, ao próprio Camões, herói da sua própria ficção, e que se tornou para um povo inteiro bem mais mítico e, mesmo, bem mais heróico que os heróis exaltados pelo seu Poema.” (Eduardo Lourenço, op. cit.)
AUTOMITIFICAÇÃO
“Com efeito, o esforço original de automitificação através do qual Camões tenta escapar à insignificância e ao esquecimento […] não é uma descoberta de Camões. Constitui a vivência mais inovadora do seu tempo cultural.” (Eduardo Lourenço, op. cit.)
Na estância 154 do Canto X, o poeta caracteriza-se:
Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo,
De vós não conhecido nem sonhado?
[…]
Nem me falta na vida honesto estudo,
Com longa experiência misturado,
Nem engenho, que aqui vereis presente,
Cousas que juntas se acham raramente.
A seguir, na estância 155, pede para servir o rei e a pátria através do seu canto.
Em Os Lusíadas, podemos ver a encarnação dos ideias do humanismo cívico na figura do poeta, numa associação do homo politicus e homo theoreticus.
A história narrada em Os Lusíadas tem uma dimensão exemplar, por apresentar factos e figuras como modelos a seguir, bem como atitudes a evitar (estas em menor número).
Quem são as personagens agentes de feitos ilustres notáveis?
São muitas. São os heróis da navegação, da conquista, os reis portugueses que dilataram a Fé e o Império, que difundiram a civilização nas terras de África e Ásia; são também aqueles cujo nome ficou na História por actos de excepção… (cf. Canto I, 1-2)
Em Os Lusíadas, especialmente a partir do Canto V, no final de cada Canto, há partes que não são narrativas, porque o poeta aproveita para tecer os seus comentários e críticas. Contudo, segundo os cânones da epopeia, o Poema de Camões deveria ser alheio à pessoa do poeta. É neste sentido que Luís António Verney, no séc. XVIII, faz as seguintes críticas:
“Errou o Camões em não sustentar sempre o carácter e grandeza do seu herói, que abaixa sensivelmente no canto VIII, do meio para diante. Errou nas enfadonhas digressões que introduz por toda a parte. Errou em acabar quase todos os Cantos com exclamações mui fora de propósito e muito contra o estilo da epopeia.” (in Carta VII do Verdadeiro Método de Estudar, Editorial Presença, p. 168).
De opinião oposta à anterior, Eduardo Lourenço, dois séculos mais tarde, diz o seguinte:
“Os Lusíadas não são a primeira epopeia realista dos tempos modernos, mas a primeira que nada perdeu da sua força, graças ao fulgor da sua forma, quer dizer, graças à sua autonomia de poema humanista, de realidade escrita” (“Camões e o tempo ou a razão oscilante” in Poesia e Metafísica, Lisboa, Sá da Costa Editora, 1983, p. 34)
Um dos propósitos de tais intromissões do poeta é o de doutrinar e construir, por cima do tradicional herói guerreiro, um novo tipo de herói, o humanista.
O HERÓI POSSÍVEL
Camões, em Os Lusíadas, apresenta o heroísmo em termos teóricos, programáticos, havendo uma distância entre a perfeição idealizada e o plano da realidade
Primeiro, Camões anuncia as formas de comportamento que o herói deve evitar (Canto VI, 95-96): não descansar à sombra dos louros conquistados pelos seus antecessores e evitar a ociosidade, inércia e comodismo.
Depois, anuncia o programa em forma afirmativa (Canto VI, 97-99): necessidade de exercício, esforço da coragem e capacidade de enfrentar todo o tipo de sofrimento.
Assim, advêm-lhe não só honras próprias, isto é, do seu próprio mérito, como também coragem para enfrentar os perigos de guerra e para dominar o medo e a comoção – manifestações exteriores que se forem moldadas dão-lhe uma superioridade moral e uma serenidade intelectual.
Numa sociedade justa e bem organizada, um homem destes será chamado ao desempenho de cargos de responsabilidade: será chamado “contra vontade sua, e não rogando” (Canto VI, 99). Requer-se um homem desprendido do poder, que aceite exercer cargos mesmo sem o desejar, apenas movido por uma consciência cívica de servir a pátria.
O bom herói, ou bom português, deve renunciar a tirania, a ociosidade, a cobiça, as “honras vãs”, o “ouro puro” (cf. Canto IX, 92-95) – pois,
Melhor é merecê-los sem os ter,
Que possuí-los sem os merecer.
Cumpridos estes preceitos,
Sereis entre Heróis esclarecidos
E nesta Ilha de Vénus recebidos
(Canto IX, 95)
Apesar de tal prémio, este tipo de herói ainda não corresponde, por completo, ao ideal ético do poeta dos tempos novos.
O PODER DO POETA
Em última análise, quem premeia os nautas com uma ilha mitológica é o próprio vate ao resgatá-los do esquecimento (da lei leteia), dispensando-lhes a fama e imortalidade no e através do seu canto.
O rudo canto meu, que ressuscita
as honras sepultadas,
as palmas já passadas
dos belicosos nossos Lusitanos,
para tesouro dos futuros anos,
convosco se defende
da lei leteia, à qual tudo se rende.
(Ode VII)
Nas estâncias 83 a 87 do Canto VII, Camões chega a enumerar as pessoas que não merecem a glória que o canto do poeta dá: os lisonjeiros; os que actuam movidos por um interesse pessoal em prejuízo de um bem comum e do seu rei; os que actuam movidos pela ambição (os que sobem ao poder por influências, compra de cargos de importância), permitindo dar largas aos seus vícios; e os que exercem despoticamente o poder.
O poeta chega ao ponto de se queixar do facto de a aristocracia portuguesa, representada na pessoa de Vasco da Gama, não ser amiga das Musas:
Que ele, nem quem, na estirpe, seu se chama,
Calíope não tem por tão amiga
(Canto V, 99)
Por isso, diz, não é por Vasco da Gama que as Musas (o poeta) cantam; é pela pátria:
Às Musas agradeça o nosso Gama
O muito amor da pátria, que as obriga
A dar aos seus, na lira, nome e fama
De toda a ilustre e bélica fadiga
E mais: “se este costume dura” Portugal ficará pobre em heróis:
Sem vergonha o não digo, que a razão
De algum não ser por versos excelente
É não se ver prezado o verso e rima,
Porque quem não sabe arte, não na estima.
Por isso, e não por falta de natura,
Não há também Virgílios nem Homeros;
Nem haverá, se este costume dura,
Pios Eneias nem Aquiles feros.
(Canto V, 97-98)
Sem Virgílio não há Eneias, sem Camões, Gama.
Em toda a sua poesia, a começar no canto épico, há a expressão, quase cansativa, de uma decepção causada por uma crise inerente à sua época.
O HERÓI HUMANISTA
“A melhor forma de serviço público e de empenhamento cívico, aquela em que se logra a desejada simbiose entre a vida activa e a vida contemplativa, é a do homem de intelecto, do humanista, que é simultaneamente um homem de acção, um soldado. Por isso tanta importância tem no nosso discurso histórico-literário o topos das Armas e Letras.
Doravante a ideia de mérito e experiência individual, sempre que se trate de eleger alguém para lugares de responsabilidade pública, vai sobrepor-se à ideia de linhagem e privilégio de nascimento.” (Luís de Sousa Rebelo, A tradição clássica na literatura portuguesa, Lisboa, Livros Horizonte, 1982).
Nesta ordem de ideias, há uma visão de conjunto sobre os heróis portugueses como sendo imperfeitos (cf. Canto V, 92-97), por não ultrapassarem o desenho tradicional do herói cavaleiresco.
O poeta diz ter vergonha destes heróis, porque são ignorantes, ao contrário dos Antigos, como Octávio que,
[…] entre as maiores opressões,
Compunha versos doutos e venustos
(Canto V, 95)
As figuras da Antiguidade são o paradigma humanista da associação das ARMAS e das LETRAS.
Da galeria de heróis de Os Lusíadas, Nuno Álvares Pereira é aquele que Camões decide construir à medida do novo conceito de herói, pois é representado como excelente na capacidade de discursar (cf. Canto IV, 14-21) e excelente no campo de batalha (cf. Canto IV, 28-44).
Mesmo que historicamente Nuno Álvares Pereira tenha sido um bom estratega e orador, naturalmente que o épico o estilizou tão à maneira de Fernão Lopes que, por sua vez, já o havia tornado lendário.
Na verdade, em Os Lusíadas, Camões é o único que comporta majestosamente estas duas qualidades: a conciliação das Armas e das Letras.
Se repararem, quando se fala de Os Lusíadas o nome que vem imediatamente à mente é o de Camões e não o de um herói literário. Os Lusíadas não nos remetem senão para o seu autor. Mas, no que toca a outras epopeias, ocorrem-nos os nomes de Ulisses, Eneias, El Cid, Tristão, Hamlet, D. Quixote, isto é, os respectivos heróis literários.
“Para compensar uma tal ausência – cujo mistério se repercute sobre a imagem global da nossa literatura – temos uma espécie de herói-vivo, cuja lenda verídica teve o condão de se converter em existência ideal, como é apanágio da ficção perfeita. Referimo-nos, naturalmente, ao próprio Camões, herói da sua própria ficção, e que se tornou para um povo inteiro bem mais mítico e, mesmo, bem mais heróico que os heróis exaltados pelo seu Poema.” (Eduardo Lourenço, op. cit.)
AUTOMITIFICAÇÃO
“Com efeito, o esforço original de automitificação através do qual Camões tenta escapar à insignificância e ao esquecimento […] não é uma descoberta de Camões. Constitui a vivência mais inovadora do seu tempo cultural.” (Eduardo Lourenço, op. cit.)
Na estância 154 do Canto X, o poeta caracteriza-se:
Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo,
De vós não conhecido nem sonhado?
[…]
Nem me falta na vida honesto estudo,
Com longa experiência misturado,
Nem engenho, que aqui vereis presente,
Cousas que juntas se acham raramente.
A seguir, na estância 155, pede para servir o rei e a pátria através do seu canto.
Em Os Lusíadas, podemos ver a encarnação dos ideias do humanismo cívico na figura do poeta, numa associação do homo politicus e homo theoreticus.
Ao longo destes três cantos, Vasco da Gama assume-se narrador participante homodiegético, passando de personagem a personagem-narrador que vai responder ao solicitado pelo Rei de Melinde.
Respondendo pela ordem sugerida pelo rei anfitrião. Começa em primeiro lugar por situar geograficamente Portugal na Península Ibérica” nobre Hespanha” e esta na Europa “ soberba Europa” ( est.6-16 “ soberba Europa e os seus povos; 17-19 “ nobre Hespanha”, 20-21 “ reino Lusitano”. Parece haver proporcionalidade entre o número de estrofes que ocupam cada um destes momentos e o espaço físico considerado. Por outro lado, repare-se também, que à medida que se caminha para a localização de Portugal, se vai perdendo a objectividade descritiva, acalorando-se o discurso de subjectividade” Esta é a ditosa pátria minha amada”.
No canto III, vv. 21-243 e IV 1-77, Gama passa à História de Portugal, relatando acontecimentos ocorridos na 1ª Dinastia, portanto entre os reinados do Conde D. Henrique e D.Dinis. No canto IV, centra-se na segunda Dinastia que vai de D.João I a D. Manuel, rei que, lembre-se, ordena a partida para a Índia. A partir da estrofe 77 do canto IV e durante todo o canto V, narra por analépse a sua viagem, desde a praia do Restelo até aquela paragem, Melinde.
Respondendo pela ordem sugerida pelo rei anfitrião. Começa em primeiro lugar por situar geograficamente Portugal na Península Ibérica” nobre Hespanha” e esta na Europa “ soberba Europa” ( est.6-16 “ soberba Europa e os seus povos; 17-19 “ nobre Hespanha”, 20-21 “ reino Lusitano”. Parece haver proporcionalidade entre o número de estrofes que ocupam cada um destes momentos e o espaço físico considerado. Por outro lado, repare-se também, que à medida que se caminha para a localização de Portugal, se vai perdendo a objectividade descritiva, acalorando-se o discurso de subjectividade” Esta é a ditosa pátria minha amada”.
No canto III, vv. 21-243 e IV 1-77, Gama passa à História de Portugal, relatando acontecimentos ocorridos na 1ª Dinastia, portanto entre os reinados do Conde D. Henrique e D.Dinis. No canto IV, centra-se na segunda Dinastia que vai de D.João I a D. Manuel, rei que, lembre-se, ordena a partida para a Índia. A partir da estrofe 77 do canto IV e durante todo o canto V, narra por analépse a sua viagem, desde a praia do Restelo até aquela paragem, Melinde.
No mar
Após o sonho simbólico de D. Manuel em que lhe é profetizada a chegada à Índia, depois de ultrapassadas duras guerras no Oriente, das quais Vasco da Gama sai vencedor, merece a sua atenção a descrição dos preparativos para a viagem. Também aqui Gama entra na história como agente dinamizador, logo envereda por um discurso na 1ª pessoa, marcado pelos deícticos pessoais, realizados ora pelo pronome pessoal Eu, ora pelo “Nós” majestático, em que se assume como represente de uma força nacional para a diáspora. É uma acção épica, naqual o “ bicho da terra tão pequeno”, que são o Gama e os seus companheiros, vai medir força com Neptuno, deixando a segurança da Terra e arriscando-se ao tão traiçoeiro Mar.
Feitos os preparativos para a viagem, apresentam-se as dificulades. São elas a consciência dos perigos, o receio dos mares e ventos desconhecidos e uma oposição política conservadora, que se diz de “um saber de experiências feito”, que prevê os maiores infortúnios.
Após o sonho simbólico de D. Manuel em que lhe é profetizada a chegada à Índia, depois de ultrapassadas duras guerras no Oriente, das quais Vasco da Gama sai vencedor, merece a sua atenção a descrição dos preparativos para a viagem. Também aqui Gama entra na história como agente dinamizador, logo envereda por um discurso na 1ª pessoa, marcado pelos deícticos pessoais, realizados ora pelo pronome pessoal Eu, ora pelo “Nós” majestático, em que se assume como represente de uma força nacional para a diáspora. É uma acção épica, naqual o “ bicho da terra tão pequeno”, que são o Gama e os seus companheiros, vai medir força com Neptuno, deixando a segurança da Terra e arriscando-se ao tão traiçoeiro Mar.
Feitos os preparativos para a viagem, apresentam-se as dificulades. São elas a consciência dos perigos, o receio dos mares e ventos desconhecidos e uma oposição política conservadora, que se diz de “um saber de experiências feito”, que prevê os maiores infortúnios.
A despedida
É o tom patética, no sentido trágico do termo, que enforma a despedida da “praia das lágrimas”, como João de Barros lhe chama.
Passamos de um plano de conjunto que enlgloba os que “ aparelham a alma para a morte” e os que “ acorrem por amigos, por parentes ou por ver somente”, para um plano particular. Neste último, a consternação dos homens e mulheres era geral; elas “ cum choro piadoso”, eles “ com suspiros que arrancavam”(est.89).
Nas estrofes 90 e 91 temos respectivamente uma mãe e uma esposa que valem por todas as outras que se encontram nesta condição. Camões dá-lhes voz. A mãe não compreende a atitude do filho, que ao partir, a vota ao abandono, e de certa forma a uma morte de desgosto mais certa do que aquela que o possa tolher no mar.
A esposa censura o marido que faz do amor e da sua vida pertença privada, quando, no seu entender, são património do casal.
Retoma-se a visão de conjunto. A fragilidade das mães, esposas, velhos e meninos, sob o risco de orfandade, comove a própria natureza mas não os heróis que embarcam “ sem o despedimento costumado”, não vá a piedade alterar os seus intentos nobres e dignos.
De entre os velhos, ergue-se a voz de uma figura de “ aspeito venerando”, logo a merecer toda a atenção. O seu discurso, embora apresentando argumentos de natureza política e também social, é no fundo uma análise minuciosa da condição humana: “ a glória de mandar”, a “cobiça”, a “ vaidade”, a “ fama”. É no seu entender a dimensão mais mesquinha da estranha condição de Homem, que só seduzem “néscios”, ignorantes que não distinguem essência de aparência. Mas na aventura não há bom senso, lógica razão.
Uma questão se nos coloca, como se concilia esta vertente anti-épica do Velho do Restelo com o todo do poema que visa a glorificação de uma viagem que juntamente com a nossa História eram os nossos maiores motivos de orgulho? . Embora se saiba que Camões também terá defendido a manutenção da nossa empresa ultramarina no Norte de África, posição que como poeta humanista, dramatiza no Velho do Restelo, este episódio acaba por contribuir para o processo de heroicização de um povo.
Prof. Euclides (2007), Resenha personalizada de bibliografia dive
É o tom patética, no sentido trágico do termo, que enforma a despedida da “praia das lágrimas”, como João de Barros lhe chama.
Passamos de um plano de conjunto que enlgloba os que “ aparelham a alma para a morte” e os que “ acorrem por amigos, por parentes ou por ver somente”, para um plano particular. Neste último, a consternação dos homens e mulheres era geral; elas “ cum choro piadoso”, eles “ com suspiros que arrancavam”(est.89).
Nas estrofes 90 e 91 temos respectivamente uma mãe e uma esposa que valem por todas as outras que se encontram nesta condição. Camões dá-lhes voz. A mãe não compreende a atitude do filho, que ao partir, a vota ao abandono, e de certa forma a uma morte de desgosto mais certa do que aquela que o possa tolher no mar.
A esposa censura o marido que faz do amor e da sua vida pertença privada, quando, no seu entender, são património do casal.
Retoma-se a visão de conjunto. A fragilidade das mães, esposas, velhos e meninos, sob o risco de orfandade, comove a própria natureza mas não os heróis que embarcam “ sem o despedimento costumado”, não vá a piedade alterar os seus intentos nobres e dignos.
De entre os velhos, ergue-se a voz de uma figura de “ aspeito venerando”, logo a merecer toda a atenção. O seu discurso, embora apresentando argumentos de natureza política e também social, é no fundo uma análise minuciosa da condição humana: “ a glória de mandar”, a “cobiça”, a “ vaidade”, a “ fama”. É no seu entender a dimensão mais mesquinha da estranha condição de Homem, que só seduzem “néscios”, ignorantes que não distinguem essência de aparência. Mas na aventura não há bom senso, lógica razão.
Uma questão se nos coloca, como se concilia esta vertente anti-épica do Velho do Restelo com o todo do poema que visa a glorificação de uma viagem que juntamente com a nossa História eram os nossos maiores motivos de orgulho? . Embora se saiba que Camões também terá defendido a manutenção da nossa empresa ultramarina no Norte de África, posição que como poeta humanista, dramatiza no Velho do Restelo, este episódio acaba por contribuir para o processo de heroicização de um povo.
Prof. Euclides (2007), Resenha personalizada de bibliografia dive
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
Ao colo de Calíope
Calíope (mitologia)
Calíope é a musa da poesia épica. Filha de Zeus e Mnemósine (memória), é uma das noves musas, que têm por missão a inspiração dos seres humanos para que estes se tornem criativos na arte e na ciência. As outras musas são Clio (Musa da história), Tália (Musa da Comédia e da poesia ligeira), Melpómene (Musa da Tragédia e da harmonia musical), Érato (Musa da poesia erótica), Urânia (Musa da astronomia), Polímnia (Musa da poesia sacra), Terpsícore (Musa da dança e do canto) e Euterpe (Musa da poesia lírica).Da união com Eagro, rei da Trácia ou de Apolo (deus da música), Calíope foi mãe de Orfeu (poeta mítico e músico). Amada por Apolo, teve mais dois filhos: Himeneu (deus dos cantos nupciais, do casamento) e Iálemo (deus dos cantos tristes pelos que morrem jovens); Calíope, na mitologia grega, surge representada com um estilete e tabuinhas de escrita nas mãos. De porte majestoso, aparenta ser uma jovem mulher, coroada de ouro, com supremacia entre as musas suas irmãs. Camões, no início do Canto III de Os Lusíadas, pede a Calíope que o inspire para melhor contar a história de Portugal, como Vasco da Gama a relatou ao Rei de Melinde.
Calíope é a musa da poesia épica. Filha de Zeus e Mnemósine (memória), é uma das noves musas, que têm por missão a inspiração dos seres humanos para que estes se tornem criativos na arte e na ciência. As outras musas são Clio (Musa da história), Tália (Musa da Comédia e da poesia ligeira), Melpómene (Musa da Tragédia e da harmonia musical), Érato (Musa da poesia erótica), Urânia (Musa da astronomia), Polímnia (Musa da poesia sacra), Terpsícore (Musa da dança e do canto) e Euterpe (Musa da poesia lírica).Da união com Eagro, rei da Trácia ou de Apolo (deus da música), Calíope foi mãe de Orfeu (poeta mítico e músico). Amada por Apolo, teve mais dois filhos: Himeneu (deus dos cantos nupciais, do casamento) e Iálemo (deus dos cantos tristes pelos que morrem jovens); Calíope, na mitologia grega, surge representada com um estilete e tabuinhas de escrita nas mãos. De porte majestoso, aparenta ser uma jovem mulher, coroada de ouro, com supremacia entre as musas suas irmãs. Camões, no início do Canto III de Os Lusíadas, pede a Calíope que o inspire para melhor contar a história de Portugal, como Vasco da Gama a relatou ao Rei de Melinde.
Calíope (mitologia). In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2007
“ Agora, tu, Calíope, me ensina o que contou ao rei o ilustre Gama...”
( canto III, est.1-2)
Esta invocação a Calíope antecede a narração do Gama ao rei de Melinde em que é contada a História de Portugal desde as auas origens míticas e históricas da fundação do reino até ao presente da narração.
A recepção da armada em Melinde, incluindo a parte da viagem do Gama, anterior à chegada a Melinde.
Corresponde, em suma, à realização de uma importante parte do projecto da epopeia, que vai ocupar os cantos III, IV e V, anunciado na proposição e explicitado na dedicatória, pedindo-se grande fulgor de inspiração. Justifica-se, portanto, um novo apelo, pedido que individualiza esta narrativa dentro da narração global do poema.
É neste contexto que se expressa o amor à poesia, o orgulho pátrio, a confiança no seu engenho poético. Um certo sentido de humor é o traço mais evidenciado pelo poeta nas duas primeiras oitavas.
Das estrofes 3 a 5 faz-se o exórdio do discurso, prepara-se o auditório para o que vai ouvir e apresenta-se o plano da sua narrativa; na estrofe 6, depois da localização da “ Soberba Europa” no globo terrestre, passa-se à descrição da “ larga terra” onde se situa Portugal.
( canto III, est.1-2)
Esta invocação a Calíope antecede a narração do Gama ao rei de Melinde em que é contada a História de Portugal desde as auas origens míticas e históricas da fundação do reino até ao presente da narração.
A recepção da armada em Melinde, incluindo a parte da viagem do Gama, anterior à chegada a Melinde.
Corresponde, em suma, à realização de uma importante parte do projecto da epopeia, que vai ocupar os cantos III, IV e V, anunciado na proposição e explicitado na dedicatória, pedindo-se grande fulgor de inspiração. Justifica-se, portanto, um novo apelo, pedido que individualiza esta narrativa dentro da narração global do poema.
É neste contexto que se expressa o amor à poesia, o orgulho pátrio, a confiança no seu engenho poético. Um certo sentido de humor é o traço mais evidenciado pelo poeta nas duas primeiras oitavas.
Das estrofes 3 a 5 faz-se o exórdio do discurso, prepara-se o auditório para o que vai ouvir e apresenta-se o plano da sua narrativa; na estrofe 6, depois da localização da “ Soberba Europa” no globo terrestre, passa-se à descrição da “ larga terra” onde se situa Portugal.
terça-feira, 18 de setembro de 2007
Os Lusíadas - Reflexões/excursos do poeta
«Os Lusíadas», Luís de Camões
Vertente pedagógica da epopeia
Reflexões do Poeta: críticas e conselhos aos Portugueses
O Poeta faz diversas considerações, no início e no fim dos Cantos da sua epopeia, criticando e aconselhando os Portugueses.
Por um lado, refere os «grandes e gravíssimos perigos», a tormenta e o dano no mar, a guerra e o engano em terra; por outro lado, faz a apologia da expansão territorial para divulgar a Fé cristã, manifesta o seu patriotismo e exorta D. Sebastião a dar continuidade à obra grandiosa do povo português.
Nas suas reflexões, há louvores e diversas queixas aos comportamentos. Se realça o valor das honras e da glória alcançadas por mérito próprio, lamenta, por exemplo, que os Portugueses nem sempre saibam aliar a força e a coragem ao saber e à eloquência, destacando a importância das Letras. Se critica os povos que não seguem o exemplo do povo português que, com atrevimento, chegou a todos os cantos do Mundo, não deixa de queixar-se de todos aqueles que pretendem alcançar a imortalidade, dizendo-lhes que a cobiça, a ambição e a tirania são honras vãs que não dão verdadeiro valor ao homem. Daí, também, lamentar a importância atribuída ao dinheiro, fonte de corrupção e de traições.
Lembrando o seu «honesto estudo», «longa experiência» e «engenho», «Cousas que juntas se acham raramente», confessa estar cansado de «cantar a gente surda e endurecida» que não reconhecia nem incentivava as suas qualidades artísticas.
As reflexões que merecem destaque:
Canto I (est. 105-106); p.39
As traições e os perigos a que os navegadores estão sujeitos justificam este desabafo do Poeta.
Não será por acaso que esta reflexão surge no final do Canto I, quando o herói ainda tem um longo e penoso percurso a percorrer.
Ver-se-á, no Canto X, até onde a ousadia, a coragem e o desejo de ir sempre mais além pode levar o «bicho da terra tão pequeno», tão dependente da fragilidade da sua condição humana.
Canto V (est. 92-100); pp.74-75
O Poeta começa por mostrar como o canto, o louvor, incita à realização dos feitos; dá exemplos do apreço dos Antigos pelos seus poetas, bem como da importância dada ao conhecimento e à cultura, que levava a que as armas não fossem incompatíveis com o saber.
Não é, infelizmente, o que se passa com os portugueses: não se pode amar o que não se conhece, e a falta de cultura dos heróis nacionais é responsável pela indiferença que manifestam pela divulgação dos seus feitos. Apesar disso, o Poeta, movido pelo amor da pátria, reitera o seu propósito de continuar a engrandecer, com os seus versos, as «grandes obras» realizadas.
Manifesta, desta forma, a vertente pedagógica da sua epopeia, na defesa da realização plena do Homem, em todas as suas capacidades.
Canto VI (est. 95-99); p.77
Continuando a exercer a sua função pedagógica, o Poeta defende um novo conceito de nobreza, espelho do modelo renascentista: a fama e a imortalidade, o prestígio e o poder adquirem-se pelo esforço - na batalha ou enfrentando os elementos, sacrificando o corpo e sofrendo pela perda dos companheiros; não se é nobre por herança, permanecendo no luxo e na ociosidade, nem pela concessão de favores se deve alcançar lugar de relevo.
Canto VII (est. 3-14); pp.78-79)
Percorrido tão difícil caminho, é momento para que, na chegada a Calecut, o Poeta faça novo louvor aos Portugueses. Exalta, então, o seu espírito de Cruzada, a incansável divulgação da Fé, por África, Ásia, América, «E, se mais mundos houvera, lá chegara», assim inserindo a viagem à Índia na missão transcendente que assumiram e que é marca da sua identidade nacional. Por oposição, critica duramente as outras nações europeias - os «Alemães, soberbo gado», o «duro inglês», o «Galo indigno», os italianos que, «em delícias, / Que o vil ócio no mundo traz consigo, / Gastam as vidas» - por não seguirem o seu exemplo, no combate aos infiéis.
Canto VII (est. 78-87); pp.81-82)
Numa reflexão de tom marcadamente autobiográfico, o Poeta exprime um estado de espírito bem diferente daquele que o caracterizava, no Canto I, na Invocação às Tágides - «cego, […] insano e temerário», percorre um caminho «árduo, longo e vário», e precisa de auxílio porque, segundo diz, teme que o barco da sua vida e da sua obra não chegue a bom porto. Uma vida que tem sido cheia de adversidades, que enumera: a pobreza, a desilusão, perigos do mar e da guerra, «Nũa mão sempre a espada e noutra a pena;». Como não ver neste retrato a intenção de espelhar o modelo de virtude enunciado em momentos anteriores?
Em retribuição, recebe novas contrariedades - de novo a crítica aos contemporâneos, e o alerta, para inevitável inibição do surgimento de outros poetas, em consequência de tais exemplos.
Mas a crítica aumenta de tom na parte final, quando são enumerados aqueles que nunca cantará e que, implicitamente, denuncia abundarem na sociedade do seu tempo: os ambiciosos, que sobrepõem os seus interesses aos do «bem comum e do seu Rei», os dissimulados, os exploradores do povo, que não defendem «que se pague o suor da servil gente».
No final, retoma à definição do seu herói - o que arrisca a vida «por seu Deus, por seu Rei».
Canto VIII (est. 96-99); p.84
A propósito da narração do suborno do Catual e das suas exigências aos navegadores, são agora enumerados os efeitos perniciosos do ouro - provoca derrotas, faz dos amigos traidores, mancha o que há de mais puro, deturpa o conhecimento e a consciência; os textos e as leis são por ele condicionados; está na origem de difamações, da tirania dos Reis, corrompe até os sacerdotes, sob aparência de virtude.
Retoma a função pedagógica do seu canto, o Poeta aponta um dos males da sociedade sua contemporânea, orientada por valores materialistas.
Canto X (est. 145-156); p.99-100
Os últimos versos de «Os Lusíadas» revelam sentimentos contraditórios - desalento, orgulho, esperança.
«No mais, Musa, no mais […]» o Poeta recusa continuar o seu canto, não por cansaço, mas por desânimo. O seu desalento advém de constatar que canta para «gente surda e endurecida […] metida / No gosto da cobiça e na rudeza / Dhũa austera, apagada e vil tristeza.». É a imagem que nos dá do Portugal do seu tempo. Por contrate, o orgulho naqueles que continuam dispostos a lutar pela grandeza do passado e a esperança de que o Rei saiba estimular e aproveitar essas energias latentes para dar continuidade à glorificação do «peito ilustre lusitano» e dar matéria a novo canto. O poema encerra, pois, com uma mensagem que abarca o passado, o presente e o futuro. A glória do passado deverá ser encarada como um exemplo presente para construir um futuro grandioso.
Vertente pedagógica da epopeia
Reflexões do Poeta: críticas e conselhos aos Portugueses
O Poeta faz diversas considerações, no início e no fim dos Cantos da sua epopeia, criticando e aconselhando os Portugueses.
Por um lado, refere os «grandes e gravíssimos perigos», a tormenta e o dano no mar, a guerra e o engano em terra; por outro lado, faz a apologia da expansão territorial para divulgar a Fé cristã, manifesta o seu patriotismo e exorta D. Sebastião a dar continuidade à obra grandiosa do povo português.
Nas suas reflexões, há louvores e diversas queixas aos comportamentos. Se realça o valor das honras e da glória alcançadas por mérito próprio, lamenta, por exemplo, que os Portugueses nem sempre saibam aliar a força e a coragem ao saber e à eloquência, destacando a importância das Letras. Se critica os povos que não seguem o exemplo do povo português que, com atrevimento, chegou a todos os cantos do Mundo, não deixa de queixar-se de todos aqueles que pretendem alcançar a imortalidade, dizendo-lhes que a cobiça, a ambição e a tirania são honras vãs que não dão verdadeiro valor ao homem. Daí, também, lamentar a importância atribuída ao dinheiro, fonte de corrupção e de traições.
Lembrando o seu «honesto estudo», «longa experiência» e «engenho», «Cousas que juntas se acham raramente», confessa estar cansado de «cantar a gente surda e endurecida» que não reconhecia nem incentivava as suas qualidades artísticas.
As reflexões que merecem destaque:
Canto I (est. 105-106); p.39
As traições e os perigos a que os navegadores estão sujeitos justificam este desabafo do Poeta.
Não será por acaso que esta reflexão surge no final do Canto I, quando o herói ainda tem um longo e penoso percurso a percorrer.
Ver-se-á, no Canto X, até onde a ousadia, a coragem e o desejo de ir sempre mais além pode levar o «bicho da terra tão pequeno», tão dependente da fragilidade da sua condição humana.
Canto V (est. 92-100); pp.74-75
O Poeta começa por mostrar como o canto, o louvor, incita à realização dos feitos; dá exemplos do apreço dos Antigos pelos seus poetas, bem como da importância dada ao conhecimento e à cultura, que levava a que as armas não fossem incompatíveis com o saber.
Não é, infelizmente, o que se passa com os portugueses: não se pode amar o que não se conhece, e a falta de cultura dos heróis nacionais é responsável pela indiferença que manifestam pela divulgação dos seus feitos. Apesar disso, o Poeta, movido pelo amor da pátria, reitera o seu propósito de continuar a engrandecer, com os seus versos, as «grandes obras» realizadas.
Manifesta, desta forma, a vertente pedagógica da sua epopeia, na defesa da realização plena do Homem, em todas as suas capacidades.
Canto VI (est. 95-99); p.77
Continuando a exercer a sua função pedagógica, o Poeta defende um novo conceito de nobreza, espelho do modelo renascentista: a fama e a imortalidade, o prestígio e o poder adquirem-se pelo esforço - na batalha ou enfrentando os elementos, sacrificando o corpo e sofrendo pela perda dos companheiros; não se é nobre por herança, permanecendo no luxo e na ociosidade, nem pela concessão de favores se deve alcançar lugar de relevo.
Canto VII (est. 3-14); pp.78-79)
Percorrido tão difícil caminho, é momento para que, na chegada a Calecut, o Poeta faça novo louvor aos Portugueses. Exalta, então, o seu espírito de Cruzada, a incansável divulgação da Fé, por África, Ásia, América, «E, se mais mundos houvera, lá chegara», assim inserindo a viagem à Índia na missão transcendente que assumiram e que é marca da sua identidade nacional. Por oposição, critica duramente as outras nações europeias - os «Alemães, soberbo gado», o «duro inglês», o «Galo indigno», os italianos que, «em delícias, / Que o vil ócio no mundo traz consigo, / Gastam as vidas» - por não seguirem o seu exemplo, no combate aos infiéis.
Canto VII (est. 78-87); pp.81-82)
Numa reflexão de tom marcadamente autobiográfico, o Poeta exprime um estado de espírito bem diferente daquele que o caracterizava, no Canto I, na Invocação às Tágides - «cego, […] insano e temerário», percorre um caminho «árduo, longo e vário», e precisa de auxílio porque, segundo diz, teme que o barco da sua vida e da sua obra não chegue a bom porto. Uma vida que tem sido cheia de adversidades, que enumera: a pobreza, a desilusão, perigos do mar e da guerra, «Nũa mão sempre a espada e noutra a pena;». Como não ver neste retrato a intenção de espelhar o modelo de virtude enunciado em momentos anteriores?
Em retribuição, recebe novas contrariedades - de novo a crítica aos contemporâneos, e o alerta, para inevitável inibição do surgimento de outros poetas, em consequência de tais exemplos.
Mas a crítica aumenta de tom na parte final, quando são enumerados aqueles que nunca cantará e que, implicitamente, denuncia abundarem na sociedade do seu tempo: os ambiciosos, que sobrepõem os seus interesses aos do «bem comum e do seu Rei», os dissimulados, os exploradores do povo, que não defendem «que se pague o suor da servil gente».
No final, retoma à definição do seu herói - o que arrisca a vida «por seu Deus, por seu Rei».
Canto VIII (est. 96-99); p.84
A propósito da narração do suborno do Catual e das suas exigências aos navegadores, são agora enumerados os efeitos perniciosos do ouro - provoca derrotas, faz dos amigos traidores, mancha o que há de mais puro, deturpa o conhecimento e a consciência; os textos e as leis são por ele condicionados; está na origem de difamações, da tirania dos Reis, corrompe até os sacerdotes, sob aparência de virtude.
Retoma a função pedagógica do seu canto, o Poeta aponta um dos males da sociedade sua contemporânea, orientada por valores materialistas.
Canto X (est. 145-156); p.99-100
Os últimos versos de «Os Lusíadas» revelam sentimentos contraditórios - desalento, orgulho, esperança.
«No mais, Musa, no mais […]» o Poeta recusa continuar o seu canto, não por cansaço, mas por desânimo. O seu desalento advém de constatar que canta para «gente surda e endurecida […] metida / No gosto da cobiça e na rudeza / Dhũa austera, apagada e vil tristeza.». É a imagem que nos dá do Portugal do seu tempo. Por contrate, o orgulho naqueles que continuam dispostos a lutar pela grandeza do passado e a esperança de que o Rei saiba estimular e aproveitar essas energias latentes para dar continuidade à glorificação do «peito ilustre lusitano» e dar matéria a novo canto. O poema encerra, pois, com uma mensagem que abarca o passado, o presente e o futuro. A glória do passado deverá ser encarada como um exemplo presente para construir um futuro grandioso.
Os Lusíadas (síntese)
Os Lusíadas sãoum texto renascentista traduzindo o espírito optimista do renascimento e a inspiração humanista, proferindo um acto de fé nas capacidades humanas. Porém, não é apenas isso, pois trata-se de um poema bipolar onde a voz épica é contradita por outra voz anti-épica. Uma face solar do poema e uma face lunar através da qual a dúvida se contrapõe à confiança.
[...]
Os Lusíadas celebram os Portugueses enquanto nação, colectividade. para isso, o poeta desenvolve uma história de Portugal como epopeia, seleccionando os episódios e as figuras, de modo a fazer avultar o lado heróico e exemplar da História, cantando-a. Por outro lado, o poema tende á universalidade, louva não só os Portugueses mas o homem em geral: a sua capacidade realizadora, descobridora. A empresa das descobertas é grande prova dessas capacidades: a de se impor á natureza adversa, de desvendar o desconhecido, de ultrapassar os limites traçados pela cultura antiga e pelo conceito tradicional do homem e do mundo, que estavam dogmatizados e eram difíceis de superar. Os Lusíadas celebram a capacidade de alargar e aprofundar o saber; a realização do homem no que espeita ao amor e, por fim, talvez o mais importante, o poder de edificar a vida face ao destino.Por isso, um dos temas épicos consiste na comparação sistemática com os modelos antigos, com o apogeu da divinização dos heróis.
Não são, contudo, só exaltação e glorificação. Camões faz um diagnóstico lúcido e consciente da decadência que se aproxima. Não desconhece nem esconde os erros, os defeitos e os crimes de tantos Portugueses. No final do canto VII denuncia com mágoa a hipocrisia, o espírito de adulação, o abuso do poder, a exploração dos humildes; e queixa-se com ironia amarga da ingratidão dos contemporâneos. Lembra que a cristandade atravessa um momento crítico abalada pelas divisões religiosas motivadas pela Reforma, e ameaçada do exterior pelo poder turco que alastra da Ìndia até á Europa central. É este sentimento de enfraquecimento que a gesta lusitana vem compensar. [...] O medo também se expresssa na voz do Velho do Restelo, que o calo do passado inquieta perante o futuro. O abandono do ninho paterno, do aconchego e segurança do lar simbolizam o cortar das amarras, a despedida para o encontro da vocação universalista.
Enquanto toda a cção narada se reclama de verade histórica, o prémio consiste num sonho! num sonho?!
(adaptado de Tópicos para uma Leitura d' Os Lusiadas, maria Vitalina Leal de Matos, Verbo, 2003
[...]
Os Lusíadas celebram os Portugueses enquanto nação, colectividade. para isso, o poeta desenvolve uma história de Portugal como epopeia, seleccionando os episódios e as figuras, de modo a fazer avultar o lado heróico e exemplar da História, cantando-a. Por outro lado, o poema tende á universalidade, louva não só os Portugueses mas o homem em geral: a sua capacidade realizadora, descobridora. A empresa das descobertas é grande prova dessas capacidades: a de se impor á natureza adversa, de desvendar o desconhecido, de ultrapassar os limites traçados pela cultura antiga e pelo conceito tradicional do homem e do mundo, que estavam dogmatizados e eram difíceis de superar. Os Lusíadas celebram a capacidade de alargar e aprofundar o saber; a realização do homem no que espeita ao amor e, por fim, talvez o mais importante, o poder de edificar a vida face ao destino.Por isso, um dos temas épicos consiste na comparação sistemática com os modelos antigos, com o apogeu da divinização dos heróis.
Não são, contudo, só exaltação e glorificação. Camões faz um diagnóstico lúcido e consciente da decadência que se aproxima. Não desconhece nem esconde os erros, os defeitos e os crimes de tantos Portugueses. No final do canto VII denuncia com mágoa a hipocrisia, o espírito de adulação, o abuso do poder, a exploração dos humildes; e queixa-se com ironia amarga da ingratidão dos contemporâneos. Lembra que a cristandade atravessa um momento crítico abalada pelas divisões religiosas motivadas pela Reforma, e ameaçada do exterior pelo poder turco que alastra da Ìndia até á Europa central. É este sentimento de enfraquecimento que a gesta lusitana vem compensar. [...] O medo também se expresssa na voz do Velho do Restelo, que o calo do passado inquieta perante o futuro. O abandono do ninho paterno, do aconchego e segurança do lar simbolizam o cortar das amarras, a despedida para o encontro da vocação universalista.
Enquanto toda a cção narada se reclama de verade histórica, o prémio consiste num sonho! num sonho?!
(adaptado de Tópicos para uma Leitura d' Os Lusiadas, maria Vitalina Leal de Matos, Verbo, 2003
O programa em grama
Rapaziada, reconhecem-no?
Camões, n' Os Lusíadas, revela o espírito do homem da Renascença que acredita na experiência e na razão. Consagra os heróis portugueses, que construíram Portugal e alargaram o império, sendo, por isso, merecedores da mitificação.
Serão os excursos ou refelexões do poeta que merecerão a nossa atenção:
- o que pode um "bicho da terra tão pequeno?"
- quem não conhece, nem sabe de arte, pode estimá-la?
- a fama e a imortalidade como se ganham?
- "Numa mão a espada, noutra a pena", assim se cantam o Tejo e os Lusitanos
- " grão tesouro faz tredores e falsos os amigos[ ]cega os juízos e as consciências"
- " Sereis entre os Heróis esclarecidos/ E nesta ilha de Vénus recebidos"
- " Tomai conselho só de esprimentados[ ]... todo o mundo de vós cante[ ] e em vós se veja"
curiosidade: Por que terminam Os Lusíadas com a palavra enveja?
Conteúdos programaáticos
Secundária Rainha D. Leonor
Departamento de Português, Latim e Comunicação Ano Lectivo 2007/2008
_____________________________________________________________________
CRITÉRIOS GERAIS DE AVALIAÇÃO
PORTUGUÊS - ENSINO SECUNDÁRIO
OBJECTIVOS / COMPETÊNCIAS COGNITIVAS
Compreensão de enunciados orais diversificados;
Utilização de uma expressão oral correcta e adequada;
Leitura, compreensão e interpretação de textos de natureza variada;
Produção de textos de diferentes tipologias ( comentários, resumos, sínteses, textos expositivo-argumentativos, textos criativos, …), de acordo com as normas linguísticas e as técnicas específicas de cada tipo de texto;
Capacidade de argumentação;
Aquisição de métodos e técnicas de pesquisa, registo e tratamento de informação;
Domínio do funcionamento da língua, de acordo com os conteúdos do programa.
OBJECTIVOS / COMPETÊNCIAS SOCIO-AFECTIVAS
(EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA)
Perseverança / força de vontade / Interesse / Empenho
Responsabilidade e flexibilidade
Capacidade organizativa
Autonomia
Espírito crítico e auto-crítico
Tolerância / Respeito pelos outros / Interajuda
INSTRUMENTOS E TÉCNICAS DE AVALIAÇÃO
Fichas de avaliação escrita
80%
· Exposições orais
· Participação oral espontânea e/ ou solicitada
· Fichas de trabalho
· Trabalhos de casa
· Trabalhos de pesquisa
· Trabalhos de grupo
· Fichas de leitura
· …
20%
Nota : Os testes são classificados da seguinte forma:
Ø Mau à 0 a 4 valores
Ø Medíocre à 5 a 9 valores
Ø Suficiente à 10 a 13 valores
Ø Bom à 14 a 17 valores
Ø Muito Bom à 18 a 20 valores
2. Material necessário para a disciplina:
Manual adoptado na escola – Elisa Costa Pinto e outros, Plural 12º ano
Dossier / caderno para a disciplina
Obras programáticas de leitura integral – Luís de Sttau Monteiro, Felizmente Há Luar
- José Saramago, Memorial do Convento
Dicionário de língua portuguesa ( em casa )
Livros de leitura recreativa
Escola
Departamento de Português, Latim e Comunicação Ano Lectivo 2007/2008
_____________________________________________________________________
CRITÉRIOS GERAIS DE AVALIAÇÃO
PORTUGUÊS - ENSINO SECUNDÁRIO
OBJECTIVOS / COMPETÊNCIAS COGNITIVAS
Compreensão de enunciados orais diversificados;
Utilização de uma expressão oral correcta e adequada;
Leitura, compreensão e interpretação de textos de natureza variada;
Produção de textos de diferentes tipologias ( comentários, resumos, sínteses, textos expositivo-argumentativos, textos criativos, …), de acordo com as normas linguísticas e as técnicas específicas de cada tipo de texto;
Capacidade de argumentação;
Aquisição de métodos e técnicas de pesquisa, registo e tratamento de informação;
Domínio do funcionamento da língua, de acordo com os conteúdos do programa.
OBJECTIVOS / COMPETÊNCIAS SOCIO-AFECTIVAS
(EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA)
Perseverança / força de vontade / Interesse / Empenho
Responsabilidade e flexibilidade
Capacidade organizativa
Autonomia
Espírito crítico e auto-crítico
Tolerância / Respeito pelos outros / Interajuda
INSTRUMENTOS E TÉCNICAS DE AVALIAÇÃO
Fichas de avaliação escrita
80%
· Exposições orais
· Participação oral espontânea e/ ou solicitada
· Fichas de trabalho
· Trabalhos de casa
· Trabalhos de pesquisa
· Trabalhos de grupo
· Fichas de leitura
· …
20%
Nota : Os testes são classificados da seguinte forma:
Ø Mau à 0 a 4 valores
Ø Medíocre à 5 a 9 valores
Ø Suficiente à 10 a 13 valores
Ø Bom à 14 a 17 valores
Ø Muito Bom à 18 a 20 valores
2. Material necessário para a disciplina:
Manual adoptado na escola – Elisa Costa Pinto e outros, Plural 12º ano
Dossier / caderno para a disciplina
Obras programáticas de leitura integral – Luís de Sttau Monteiro, Felizmente Há Luar
- José Saramago, Memorial do Convento
Dicionário de língua portuguesa ( em casa )
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