quinta-feira, 18 de outubro de 2007

"Numa mão a espada, noutra a pena", sempre!

Terminado o relato de Vasco da Gama ao rei de Melinde, que durou um longo dia: “ Mas já o mancebo Délio as rédeas vira,/ que o irmão de lampécia mal guiou,/ por vir descansar nos Tethyos braços;/ e el-Rei se vai do mar aos nobres paços.” Cada um dos homens que o ouviu reconta o episódio que mais o impressionou, e foram vários(est.91).
A reflexão ou excurso começa na estrofe 92 com uma sequência de sentenças, de veradesde valor universal e intemporais, daí o presente da enunciação, são elas:
vv.1,2 – o prazer da glória dos feitos realizados atinge-se quando estes são cantados,
vv.3,4 – “ nobre” não é uma característica social mas espiritual, a grandeza de espírito que tenta imitar os feitos grandes do passado,
vv.5,6 – a história como lição, modelo a ser imitado
v.v7,8 – Fama, glória, louvor concedidos a quem tem heroísmo
(est.93) confirmação do que foi dito anteriormente através das figuras heróicas da História antiga:
Alexandre inveja Aquiles não pela sua força e feitos mas por ter sido cantado por numerosos e harmoniosos versos.
Temístocles inveja a voz que celebrou os feitos de Milcíades

(est.94) Vasco da Gama tentou demonstrar a linha de superação dos heróis antigos mas Eneias é um herói celebrado porque Virgílio foi devidamente protegido para o cantar, e consequentemente também se celebrou Roma.

(est. 95 a 97) O poeta acusa a terra Lusitana de fazer homens “ duros e robustos”, rudes e insensíveis, bons na guerra sim, tal como Cipião, César, Alexandre ou Augusto, mas sem dons alguns para as artes liberais, as letras. Os lusitanos não espelham o ideal de homem que o Renascimento quer reanimar, resssuscitar, tipo Octávio “Que entre as maiores opressões compunha versos doutos e venustos”, ou César que mesmo em guerra contra a França não deixava de se instruir, o ideais de homem humanista que conciliam”numa mão a pena e noutra a lança”. É com vergonha que admite que capitão algum poderá ser louvado enquanto não houver interesse pela arte que a valorize.
Os lusitanos são heróis incultos, os da antiguidade são doutos e cientes- compração pela desigualdade. Em todas as nações os heróis se inserem no paradigma humanista, excepto em Portugal.
(est.98) Consequências: os poetas fazem heróis, sem eles não há memórias dos seus feitos, há que condenar a ignorância e a insensibilidade.

(est.99) É o caso do Gama, é um herói imperfeito, não merece ser cantado pela sua incultura. Só é cantado porque as musas e poetas movem-se pelo amor à Pátria e ele vem por arrasto.

(est.100) frieza do porta no incitamento que faz aos heróis de continuarem os seus feitos, se não forem premiados pelo canto, sê-lo-ão de outra forma.

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