Respondendo pela ordem sugerida pelo rei anfitrião. Começa em primeiro lugar por situar geograficamente Portugal na Península Ibérica” nobre Hespanha” e esta na Europa “ soberba Europa” ( est.6-16 “ soberba Europa e os seus povos; 17-19 “ nobre Hespanha”, 20-21 “ reino Lusitano”. Parece haver proporcionalidade entre o número de estrofes que ocupam cada um destes momentos e o espaço físico considerado. Por outro lado, repare-se também, que à medida que se caminha para a localização de Portugal, se vai perdendo a objectividade descritiva, acalorando-se o discurso de subjectividade” Esta é a ditosa pátria minha amada”.
No canto III, vv. 21-243 e IV 1-77, Gama passa à História de Portugal, relatando acontecimentos ocorridos na 1ª Dinastia, portanto entre os reinados do Conde D. Henrique e D.Dinis. No canto IV, centra-se na segunda Dinastia que vai de D.João I a D. Manuel, rei que, lembre-se, ordena a partida para a Índia. A partir da estrofe 77 do canto IV e durante todo o canto V, narra por analépse a sua viagem, desde a praia do Restelo até aquela paragem, Melinde.
No mar
Após o sonho simbólico de D. Manuel em que lhe é profetizada a chegada à Índia, depois de ultrapassadas duras guerras no Oriente, das quais Vasco da Gama sai vencedor, merece a sua atenção a descrição dos preparativos para a viagem. Também aqui Gama entra na história como agente dinamizador, logo envereda por um discurso na 1ª pessoa, marcado pelos deícticos pessoais, realizados ora pelo pronome pessoal Eu, ora pelo “Nós” majestático, em que se assume como represente de uma força nacional para a diáspora. É uma acção épica, naqual o “ bicho da terra tão pequeno”, que são o Gama e os seus companheiros, vai medir força com Neptuno, deixando a segurança da Terra e arriscando-se ao tão traiçoeiro Mar.
Feitos os preparativos para a viagem, apresentam-se as dificulades. São elas a consciência dos perigos, o receio dos mares e ventos desconhecidos e uma oposição política conservadora, que se diz de “um saber de experiências feito”, que prevê os maiores infortúnios.
Após o sonho simbólico de D. Manuel em que lhe é profetizada a chegada à Índia, depois de ultrapassadas duras guerras no Oriente, das quais Vasco da Gama sai vencedor, merece a sua atenção a descrição dos preparativos para a viagem. Também aqui Gama entra na história como agente dinamizador, logo envereda por um discurso na 1ª pessoa, marcado pelos deícticos pessoais, realizados ora pelo pronome pessoal Eu, ora pelo “Nós” majestático, em que se assume como represente de uma força nacional para a diáspora. É uma acção épica, naqual o “ bicho da terra tão pequeno”, que são o Gama e os seus companheiros, vai medir força com Neptuno, deixando a segurança da Terra e arriscando-se ao tão traiçoeiro Mar.
Feitos os preparativos para a viagem, apresentam-se as dificulades. São elas a consciência dos perigos, o receio dos mares e ventos desconhecidos e uma oposição política conservadora, que se diz de “um saber de experiências feito”, que prevê os maiores infortúnios.
A despedida
É o tom patética, no sentido trágico do termo, que enforma a despedida da “praia das lágrimas”, como João de Barros lhe chama.
Passamos de um plano de conjunto que enlgloba os que “ aparelham a alma para a morte” e os que “ acorrem por amigos, por parentes ou por ver somente”, para um plano particular. Neste último, a consternação dos homens e mulheres era geral; elas “ cum choro piadoso”, eles “ com suspiros que arrancavam”(est.89).
Nas estrofes 90 e 91 temos respectivamente uma mãe e uma esposa que valem por todas as outras que se encontram nesta condição. Camões dá-lhes voz. A mãe não compreende a atitude do filho, que ao partir, a vota ao abandono, e de certa forma a uma morte de desgosto mais certa do que aquela que o possa tolher no mar.
A esposa censura o marido que faz do amor e da sua vida pertença privada, quando, no seu entender, são património do casal.
Retoma-se a visão de conjunto. A fragilidade das mães, esposas, velhos e meninos, sob o risco de orfandade, comove a própria natureza mas não os heróis que embarcam “ sem o despedimento costumado”, não vá a piedade alterar os seus intentos nobres e dignos.
De entre os velhos, ergue-se a voz de uma figura de “ aspeito venerando”, logo a merecer toda a atenção. O seu discurso, embora apresentando argumentos de natureza política e também social, é no fundo uma análise minuciosa da condição humana: “ a glória de mandar”, a “cobiça”, a “ vaidade”, a “ fama”. É no seu entender a dimensão mais mesquinha da estranha condição de Homem, que só seduzem “néscios”, ignorantes que não distinguem essência de aparência. Mas na aventura não há bom senso, lógica razão.
Uma questão se nos coloca, como se concilia esta vertente anti-épica do Velho do Restelo com o todo do poema que visa a glorificação de uma viagem que juntamente com a nossa História eram os nossos maiores motivos de orgulho? . Embora se saiba que Camões também terá defendido a manutenção da nossa empresa ultramarina no Norte de África, posição que como poeta humanista, dramatiza no Velho do Restelo, este episódio acaba por contribuir para o processo de heroicização de um povo.
Prof. Euclides (2007), Resenha personalizada de bibliografia dive
É o tom patética, no sentido trágico do termo, que enforma a despedida da “praia das lágrimas”, como João de Barros lhe chama.
Passamos de um plano de conjunto que enlgloba os que “ aparelham a alma para a morte” e os que “ acorrem por amigos, por parentes ou por ver somente”, para um plano particular. Neste último, a consternação dos homens e mulheres era geral; elas “ cum choro piadoso”, eles “ com suspiros que arrancavam”(est.89).
Nas estrofes 90 e 91 temos respectivamente uma mãe e uma esposa que valem por todas as outras que se encontram nesta condição. Camões dá-lhes voz. A mãe não compreende a atitude do filho, que ao partir, a vota ao abandono, e de certa forma a uma morte de desgosto mais certa do que aquela que o possa tolher no mar.
A esposa censura o marido que faz do amor e da sua vida pertença privada, quando, no seu entender, são património do casal.
Retoma-se a visão de conjunto. A fragilidade das mães, esposas, velhos e meninos, sob o risco de orfandade, comove a própria natureza mas não os heróis que embarcam “ sem o despedimento costumado”, não vá a piedade alterar os seus intentos nobres e dignos.
De entre os velhos, ergue-se a voz de uma figura de “ aspeito venerando”, logo a merecer toda a atenção. O seu discurso, embora apresentando argumentos de natureza política e também social, é no fundo uma análise minuciosa da condição humana: “ a glória de mandar”, a “cobiça”, a “ vaidade”, a “ fama”. É no seu entender a dimensão mais mesquinha da estranha condição de Homem, que só seduzem “néscios”, ignorantes que não distinguem essência de aparência. Mas na aventura não há bom senso, lógica razão.
Uma questão se nos coloca, como se concilia esta vertente anti-épica do Velho do Restelo com o todo do poema que visa a glorificação de uma viagem que juntamente com a nossa História eram os nossos maiores motivos de orgulho? . Embora se saiba que Camões também terá defendido a manutenção da nossa empresa ultramarina no Norte de África, posição que como poeta humanista, dramatiza no Velho do Restelo, este episódio acaba por contribuir para o processo de heroicização de um povo.
Prof. Euclides (2007), Resenha personalizada de bibliografia dive
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