terça-feira, 20 de maio de 2008

Principais momentos de "Memorial do Convento"

Classificação da Obra: Romance Épico (não há consenso dos teóricos, relativamente à classificação da obra, concilia-se nela características de romance histórico, de romance de espaço e de romance social, de intervenção.)
Romance Épico porque o seu objectivo principal é a glorificação de um herói colectivo, o povo, sempre esquecido nos registos históricos. Por outro lado, o romance é uma alegoria que pretende estabelecer uma comparação entre tempos distintos, século XVIII, tempo da acção do romance e o século XX, tempo da escrita do mesmo. Assim sendo é também um romance de crítica social, de intervenção, de denúncia das injustiças sociais presentes nessas épocas.
Pela descrição de diferentes espaços físicos e sociais, o romance dá-nos quadros históricos de uma época, que fazem dele um romance histórico, mas também um romance de espaço.
Na verdade, há a conciliação de factos históricos reais, todos aqueles que se relacionam com o plano narrativo da construção do convento (reinado de D.João V), é também real o projecto da passarola empreendido pelo padre Bartolomeu de Gusmão e factos ficcionais, todos aqueles em que intervém o casal Baltasar e Blimunda.


Resumo: O romance inicia-se introduzindo-nos no plano histórico da construção do Convento de Mafra, justificando-a pela promessa feita por D.João V a um padre franciscano que lhe garante a sua descendência por providência divina. A visita sexual do rei à rainha, a função, serve para criticar o amor ritualizado baseado num contrato, que se vai opor ao amor sincero de Baltasar e Blimunda, no capítulo V.
Até ao mesmo capitulo, é intenção do autor fazer uma crítica à religião, à igreja e à inquisição, procedendo à ridicularização dos milagres feitos pelos franciscanos, à descrição caricatural das festa religiosas, Entrudo, procissão da Quaresma e do primeiro auto-de-fé, onde e condenada ao degredo, Sebastiana Maria de Jesus, mãe de Blimunda, e onde se conhecem o casal ficcional e Bartolomeu de Gusmão.
São festas marcadas pelos excessos, quer seja pelo pecado da gula, o povo esfomeado come o que lhe e inacessível durante todo o ano, e pelo pecado da luxúria, pois os penitentes exibem os seus corpos nus ensanguentados que deliciam as pretendentes que assistem das janelas.
O primeiro auto-de-fé serve para criticar a inquisição, já não se realizava há dois anos, e serve também para denunciar a má consciência religiosa dos populares que lhe assistem e do próprio rei, que só se desloca ao Rossio para cumprir a diplomacia que lhe é exigida e para cear regaladamente na inquisição.
A segunda sequência do romance trata os preliminares da construção da passarola. Blimunda e Baltasar, vão viver para a quinta do duque de Aveiro, onde o padre Bartolomeu de Gusmão tem o modelo da máquina voadora. Contudo, o padre parte para a Holanda em busca de conhecimentos para fazer voar a máquina.
Do capítulo V ao X, há uma contextualização do reinado de D.João V que se reveste de uma ironia mordaz.
Num período de fomes no Alentejo, é importado exageradamente muitas toneladas de trigo que acabam por ser desperdiçadas, pois vão além das necessidades do povo.
Os navios nacionais são assaltados por corsários franceses, há rebeliões no Brasil, as naus francesas que supúnhamos atacar-nos eram afinal uma frota inglesa em comércio de vinho do porto, estabelece-se a paz com França, pelo que ainda mais se ridiculariza a atitude do Infante D. Francisco, que treina a sua pontaria tendo como alvos marinheiros portugueses.
A nível nacional regista-se a insubordinação das freiras do convento de santa Mónica, a elevação de um inquisidor a cardeal, o que denuncia uma politica interna baseada no compadrio.
É no capítulo VIII que se escolhe o alto da vela para a construção do convento, comprando-se estes terrenos por uma “ninharia” decidida pelo tesoureiro do reino.
No capítulo XI começam-se as escavações dos caboucos do convento, como tal, há um cortejo de trabalhadores forçados e acorrentados que chega a Mafra, oriundos de todo o país. Ainda neste capítulo descrevem-se as barracas onde miseravelmente e sem condições sanitárias eram alojados esses operários. Neste momento Baltasar e Blimunda encontram-se a viver em Mafra na casa dos pais do soldado maneta, trabalhando este como boieiro no convento.
No capítulo XIV, temos um interregno na narração dos dois projectos e somos introduzidos no processo de educação da Infanta Ana Maria Bárbara, que tem lições de cravo a cargo do italiano Domenico Scarlatti. É simultaneamente um convite ao sonho, à sensibilidade, mas também uma forma de criticar o luxo e ostentação que se vive na corte, quando os miseráveis são soterrados pelos pedregulhos necessários para a construção do convento.
Segue-se no capítulo XV uma grave doença de Blimunda, que já se encontra na abegoaria, em Lisboa, e que recebe a visita de Scarlatti, que através da magia do seu cravo, consegue curá-la. Paralelamente há uma epidemia de peste em Lisboa, que permite a Blimunda recolher as vontades que farão voar a passarola.
Os capítulos XVI e XVII são ocupados com os primeiros voos da passarola, que sobrevoa Mafra, avistando as obras do convento. O padre Bartolomeu de Gusmão, converte-se ao judaísmo e posteriormente há noticia da sua morte, estávamos então em 1755, quando se dá o terramoto em Lisboa, obrigando Baltazar a regressar a Mafra, trabalhando na construção do convento que já se tinha iniciado a sete anos.
No capítulo XVIII, depois de se enunciarem os gastos reais na construção do convento, servindo uma visão irónica e depreciativa de Portugal, temos os relatos pessoais de seis trabalhadores do convento: Francisco Marques, José Pequeno, Joaquim da Rocha, Manuel Milho, João Anes, Julião Mau Tempo, seis dos vinte mil operários, que o narrador não esquece, registando por ordem alfabética um representante de cada um deles, no capítulo XIX.
Do capítulo XX ao XXIII encontramos, paralelamente o decorrer dos dois projectos. Baltasar desloca-se frequentemente à serra do Montejunto onde tem escondida a passarola, testando-a. O rei decide, com a ajuda do arquitecto Ludovice, aumentar a dimensão do convento e temendo a sua morte para breve, uma vez que está doente, decide marcar a data de sagração do seu projecto, que se dá a 22 de Outubro de 1730.
Baltasar não regressa a casa e Blimunda desloca-se ao Montejunto à sua procura, não o encontrando. A busca do seu companheiro durará nove anos, quer em território português quer por Espanha, encontrando-o a ser queimado na fogueira, juntamente com o judeu António José da Silva, mas retirando-lhe a sua vontade como forma simbólica de união eterna entre os dois.
Paralelamente a este tempo de busca, fazem-se os preparativos para o casamento da infanta D. Ana Maria Bárbara, conduzindo-a até à fronteira, para troca das princesas. É a vida de Ana Maria Bárbara, desde o momento em que é concebida, até ao seu casamento, que marca as fronteiras temporais da acção do romance.


Aconselhamento à leitura: Aconselharia a leitura do romance Memorial do Convento, a eventuais leitores, persuadindo-os de que é uma forma de conhecer a História, um quadro do século XVIII português, duma forma diferente daquela a que estamos habituados.
Aprender História através da literatura é uma forma de aceder ao conhecimento, à cultura geral, mais agradável, conciliando a realidade com a fantasia e o sonho e sobretudo desenvolvendo o sentido crítico mesmo na interpretação real do nosso passado.
Data de início de leitura: Meados de Março
Data de conclusão da leitura: Início de Maio

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