terça-feira, 20 de maio de 2008

Memorial- planificação

UNIDADE DIDÁCTICA: O Memorial do Convento, José saramago

Aulas previstas: 30 horas

Plano das aulas:

1- Contextualização histórica

- Texto de apoio “ A época de D. João V”, José Hermano Saraiva, História de Portugal
- Personagens e datas reais comprovadas historicamente:
- 1711: 3 anos após o casamento de D. João V com Maria Ana de Áustria
- 1739: auto-de-fé em que morre António José da Silva, O Judeu

Factos históricos:
- O voto, promessa do rei,
- Recrutamento por todo o país de homens, operários para a construção do convento, morte de alguns,
- Presença em Portugal do músico Domenico Scarlatti, como professor de D. Maria Bárbara
- A construção da passarola pelo padre Bartolomeu de Gusmão,
- A inquisição,
- O casamento dos infantes portugueses e espanhóis,
- As touradas e os autos-de-fé

Factos históricos(projecção para o futuro- ponte entre o séc XVIII e o séc. XX) :

Tempo da escrita/ tempo da diegese
- pp(23,24,39,89,133,154,165,198,203,212,215,216,219,230,245,257,277)

Factos históricos, científicos, literários
-pp.(135,154,216,219,227,281,290)




Propostas de produção escrita

1- “ Constrói-se um convento porque nasceu Maria Bárbara, cumpre-se o voto porque Maria Bárbara nasceu, e Maria Bárbara não viu, não sabe, não tocou com o dedinho rechonchudo a primeira pedra, nem a segunda” (312-313)
Refere como, através de Maria Bárbara, é possível transmitir a sensação da passagem, do fluir do tempo em Memorial do Convento.( texto expositivo-argumentativo com 150 palavras)

2- Ao longo do romance, apercebemo-nos que o presente se insinua no passado. Num texto expositivo- argumentativo com 150 palavras procura explicar esta opção do narrador.


O ESPAÇO FÍSICO/ O ESPAÇO SOCIAL

O ESPAÇO FÍSICO

Lisboa- cidade muralhada
- abundãncia de igrejas (p.40)
- cidade suja (p.28)
- contraste da sujidade da cidade com o asseio do mercado do peixe (p.42)

- A abegoaria
- ninho de amor de Sete- Sóis e Blimunda e onde se vai construindo a passarola
- simplicidade da vida e pobreza do casal(p88)

- O Paço
Mafra- cidade pouco descrita. Sabemos que é no alto da Vela que se vai construir o convento, construção essa que votará muitos homens a condições de vida infra-humanas ou até mesmo à morte.( p.103-104, 117)

Serra do Barregudo- não longe do Monte Junto, onde pousou e esteve escondida a passarola.

Caminho de Lisboa a Elvas- por ocasião do casamento da princesa e que poderá representar todo o Portugal com os seus caminhos de lama e de miséria.

O ESPAÇO SOCIAL
“ O espaço social configura-se sobretudo em função da presença de tipos e figurantes(...) Os ambientes são descritos para cumprirem uma intenção de crítica aos vícios e deformações da sociedade” Carlos Reis, Ana C. Lopes, Dicionário de Narratologia

O Paço- espaço da subserviência, rituais, gestos repetidos e inúteis, atitude autoritária do rei. ( pp.279-280, 13, 281-282)

Lisboa- cidade que corre para os autos-de-fé com o mesmo prazer com que corre para as touradas.(p.50)
As procissões quebram a monotonia da vida austera, de fome, e é-lhes adulterada a sua índole sagrada (p41), contrastam com o mercado do peixe onde há gente trabalhadora e asseada (p42)

Mafra- crítica social as condições de trabalho de homens que voluntariamente ou obrigados foram deslocados das suas terras para o empreendimento do rei. Vivem em barracões, escravizados pelo trabalho árduo e muitos deles com doenças venéreas, tudo em nome de um salário miserável ou de alimentação certa.

Propostas de produção escrita:
1. Dos espaços físicos representados na obra, refere um que consideres significativo, explicando a sua importância na narrativa.

2. Estabelece a conexão entre um espaço físico à tua escolha e o respectivo espaço social
A estrutura da acção da obra:

Textos/ excertos que serão objecto de leitura metódica nas aulas.

- pp. 13-14 desde “ Retiram-se a uma parte D. João V e o inquisidor... até a fertilidade dificultosa da rainha”
-p.31 desde “ De tais desafogamentos até a troco de um convento”
-p.35 desde “ Este que por desafrontada aparência sacudir até os espanhóis fizeram sair de Badajoz.”
p.38 desde “ Quando Sete-Sóis chegou a Aldegalega até Passou a noite em paz.
p.38 desde na claridade do primeiro alvorecer até se não era aquilo sangue seco, era o diabo que o fingia.”
p.53-54 desde “que nome é o seu até nas brasas não se evaporou”.
p. 68 desde calou-se outra vez até não pode atar a vela e o arame que hão-de voar”
pp.71-72 desde ”D. João V vai ter de contentar-se com uma menina até como se percebe pela gritaria”
p.86 desde “El-rei foi a Mafra escolher o sítio até mas esse era santo e está morto.”
p.96 desde “Deitou o Padre Bartolomeu Lourenço... até montou na mula e partiu.”
pp.101-103 desde “Quando Baltasar empurrou a porta até bem-vinda sejas à casa dos Sete-Sóis”
pp.115-116 desde “Bartolomeu Lourenço foi à quinta de S. Sebastião até “ talvez sonhando boas noites”
pp.124-125 desde “ Tirou do alforge um frasco de vidro até vou ver a vontade daqueles homens.”
p.159 desde “ já o Padre Bartolomeu Lourenço regressou de Coimbra até acabar morto de estoque numa rixa”
pp.178-179 desde “ Blimunda está em Lisboa atormentada de uma grande doença até Irei, respondeu ela, mas não sozinha, disse Baltasar.”
p.183 desde “ Quando a epidemia terminou até sentava-se no mocho, e aí ficava horas.”
p.185 desde “ Durante uma semana... até se realmente faltara.”
p.193 desde “ O Padre Bartolomeu Lourenço entrou violentamente na abegoaria até vamos, disse ela”
p.203 desde “ A máquina dá um salto brusco até não se pode ter tudo.”
p.222. desde “ Passam mais de dois meses até ver a máquina voar.”
p.282 desde “Ao ouvir que queria el-rei ampliar o convento até se este rei não se acautela acaba santo.”
pp.297-298 desde “ Porém ainda há famílias felizes até há quem governe mais sabendo menos.”
pp.334-335 desde “ Baltasar entrou na passarola até não se via uma nuvem no céu.”
pp.340-341 desde “ Ali é o lugar, como o ninho de uma grande ave até a descida, porém, com maior carga.”
pp.350 até final “ Enfim, chegou o dia mais glorioso...”







1. A presença da História

“ Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento em Mafra. Era uma vez a gente que construiu esse convento. Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes. Era uma vez um padre que queria voar e ficou doido. Era uma vez.”
Contracapa de Memorial do Convento

- A apresentação dos fios da narrativa que vão sendo ao longo da obra desenvolvidos e entrelaçados pelo autor. A intriga da obra gira em torno da construção do convento de Mafra e das personagens históricas e ficcionais ligadas a essa construção.

- A história começa por volta de 1711, três anos após o casamento de D. João V e termina vinte e dois anos depois, em 1739, aquando da realização de um auto-de-fé em que morreram António José da Silva e também Baltasar Sete-Sóis.

- O autor respeita os elementos históricos quando os insere na diegése, como o comprovam os cronistas da época e vai mais longe quando se preocupa em referir o maior número de nomes, homens daquele tempo, que no discurso histórico oficial foram esquecidos.

- Bartolomeu Lourenço é uma das personagens em que a correspondência entre História e ficção é apenas parcial.
- A figura do rei também sofre adaptações várias com fins irónicos.

- Paralelamente há linearidade e respeito pela cronologia, o narrador heterodiegético, afastado temporalmente da intriga, utiliza insistentemente anacronias, sobretudo prolepses, para fazer avançar a acção, Ex:- a morte do sobrinho de Baltasar, a morte do infante D. Pedro. Estas prolepses propõe a possibilidade do narrador distanciado fazer comentários, alguns irónicos, de estabelecer comparações entre épocas diferentes.
Prolepses: pp. 91, 332, 133, 151, 154, 213-214, 37, 216, 50, 219, 178,

- Muito próximo da final da narrativa há um momento em que o tempo diegético não corresponde ao tempo da história. Aquando do desaparecimento de Baltasar na passarola, no dia anterior ao da sagração do convento, 22 de Outubro de 1730, há um salto no tempo de nove anos, elipse temporal, cuja história o narrador resume em pouco mais de duas páginas, “ Durante nove anos Blimunda procurou Baltasar.”

- A acção termina em 1739, com o reencontro das personagens principais num auto-de-fé em que são queimados António José da Silva e Baltasar. Contudo trata-se de um reencontro místico; Blimunda dotada de elevadas capacidades de visão, recolhe para si a vontade do homem que perdeu há nove anos e que agora achou para sempre.








2- O Tempo


Data do início da narrativa: 1711, o rei tinha casado há cerca de três anos com D. Maria Ana Josefa, casamento que teve lugar em 1708.
Termino da narrativa: 1739, aquando da realização de um auto-de-fé onde são mortos António José da Silva( personagem referencial) e Baltasar Mateus ( personagem ficcional).
Embora haja linearidade e respeito pela cronologia e pela datação de eventos históricos, o narrador principal heterodiegético e afastado temporalmente da narrativa que organiza e controla a intriga, utiliza frequentemente elipses e prolepses para fazer avançar a acção:
Exemplos de prolepses:
- morte do sobrinho de Baltasar e do Infante D.Pedro, para daí a três meses(p.105)
- morte de Manuela Xavier, filha do Visconde de Mafra, para dali a dez anos (p.224)
- morte de Álvaro Diogo ligada ao convento(p.327)
- futuro trabalho de Baltasar no açougue(p.42)
- morte de Marta Maria, mãe de Baltasar (p.137) também é um marco temporal para a balização temporal da construção do convento.
- antecipação do número de bastardos do rei D. João V (p.91)
Se estas prolepses fazem com que a acção progrida, há outras que estão ao serviço do estatuto de narrador distanciado e irónico, que lhe proporcionam comentários e comparações entre épocas históricas diferentes, são elas:
- os tons das cores escolhidas para a decoração do convento, o vermelho e o verde, serão mais tarde, aquando da implantação da República, escolhidas como nacionais (p.133)
- paralelo entre a chegada de africanos às costas portuguesas e o retorno dos ex-colonos por alturas do 25 de abril (p.151)
- os molhos de cravos nas pontas das varas dos capelães, flores que serão simbolo de uma revolução (p.154)
- a descrição da cúpula da Basílica, construída a partir de vários gomos, sugere a comparação com um guarda-chuva, o que leva o narrador a utilizar um termo pelo outro como se fossem sinónimos (p.154)
- a referência á ida à Lua (p.216)
- comparação entre os autos-de-fé e as touradas (p.50)
- referência ao cinema e aos aviões(p.219)
- referência á nona sinfonia de Beethoven, a propósito da música da época e de Domenico Scarlatti (p.178)

Este distanciamento do narrador da época que narra permite-lhe dar conta de acontecimentos e até de teorias desconhecidas da época, como por exemplo, a da terra ser redonda (p.66)



Há consciência da não correspondência entre o tempo da história e o tempo do discurso com um objectivo bem definido: mudar a visão da História ou até corrigi-la, lembrando homens e tarefas que de outra forma seriam esquecidos porque não registados, mas nem por isso menos verdadeiros. Há aqui a consciência lúcida de que o registo histórico oficial é apenas um filtro possível, logo incompleto e consequentemente errado por ser parcial. Há laços entre dois tempos ( Presente e Passado) o primeiro reflecte-se e vê-se no segundo, ambos se tocam e interpretam até porque não lhe são colocadas barreiras delimitadoras.
Falta referir que no final da obra, um dia antes da sagração do convento, 22 de Outubro de 1730, Baltasar desaparece, vindo a ser reencontrado por Blimunda nove anos mais tarde, num auto-de-fé em que vai ser condenado, juntamente com antónio Josè da Silva, em 1739, este reencontro é, no entanto místico, porque mística é Blimunda que recolhe para si a vontade do homem que perdeu há nova anos e que agora achou para sempre.

Notas avulsas sobre o TEMPO da DIEGESE


- a acção inicia-se com a ida de D. João V ao quarto da rainha, depois de ter fieito a promessa de construção do convento.
- Inaguração da Basílica a 22 de Outubro de 1730, aí el-rei tem 41 anos, Maria Bárbara 17, podemos então concluir que a acção se inicia em 1712.
- Narrativa assume-se como cronológica, quase linear, embora com algumas analepses(pp. 45, 106, 190), prolepses ( vide página anterior).
- Após a ida de el-rei à câmara da rainha, sabemos que esta não participará no auto-de-fé pois está de luto e já vai no quinto mês de gravidez(p.49)
- Na história de Baltasar e Blimunda vão intercalar-se referências a vida na corte.
- As elipses temporais verficam-se nos períodos em que Baltasar e Blimunda estão em Mafra ou em S. João da Pedreira ou o Padre Bartolomeu de Gusmão realiza viagens pelo estrangeiro ou está em Coimbra.
- A benção da primeira pedra ocorre a 17 de Novembro de 1717(p.134) e passada uma semana o casal herói ficcional parte para Lisboa(p.137).
- É sobretudo a partir do dia a dia de baltasar e Blimunda que nos apercebemos da passagem do tempo.
- A data do casamento de Maria Bárbara coincide com a da inauguração da basílica, 1730, (p.350)
- O percurso de vida de certas personagens permite-nos ver o fluir do tempo:

- Maria Bárbara que acompanhamos desde o seu nascimento ao casamento( 17 anos), período de vida que acompanha também a narrativa da promessa/ construção do convento.
- O percurso de vida do monarca português, com vinte e três anos no início da intriga e com 41 no dia de inauguração do c

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