Felizmente há luar!
Luís de Sttau Monteiro
I. INFLUÊNCIAS
Teatro Épico – B. Brecht (influências marxista) - «O teatro não pode impor emoções aos espectadores (como o “drama aristotélico”), deve fazer com que eles pensem.»
- Narrativo:
. O espectador não é apenas uma testemunha da acção, há que despertar-lhe a actividae e exigir-lhe decisões.
- Mundividências:
. O espectador é posto peralte qualquer tipo de situação.
- Argumento:
. As sensações são elevadas ao nível do conhecimento;
. O espectador está defronte, analisa;
. O homem é objecto de uma análise;
. O homem é susceptível de ser modificado e de modoficar;
. Tensão crescente, ao longo da acção;
. O homem como realidade em processo;
. O ser social determina o pensamento.
II. ESTRUTURA / ACÇÃO
1. Peça em dois actos:
Acto I – processo de incriminação; prisão dos incriminados.
. apresentação das situações;
. informações trazidas pelos espiões;
. reunião dos três espiões;
. revelação do nome do chefe dos conjurados...
... o General Gomes Freire de Andrade (personagem ausente, mas sempre presente)...
... um herói para Manuel, Rita; Antigo Soldado e populares;
... objecto de denúncia para Vicente, Morais Sarmento e Andrade Corvo;
... incómodo para os Governadores do Reino (D. Miguel, Beresford e Pricipal Sousa).
(mudança de acto = mudança do acontecimento / situação)
Acto II – processo de ilibação dos incriminados; punição dos incriminados.
. a acção centra-se na deambulação de Matilde, cujo estatuto social (nascimento e casamento) lhe permite ter acesso às figuras do poder;
. Matilde considera-se vítima inconformada de uma injustiça;
. expansão da subjectividade de Matilde (inicialmente lírica e depois dramática);
. ritmo modulado pela fala de Matilde, que culmina na acusação ao poder instituído.
2. Funcionalidade da estrutura dual:
. repetição do quadro inicial (mesma personagem; mesmas interrogações; mesmas indicações de encenação dadas pelo autor);
. a mesma dicotomia Poder / Anti-Poder;
. a mesma disparidade das forças em conflito (que conduz à apoteose trágica final).
III. PERSONAGENS
O Povo (Manuel, Rita, Antigo Soldado, populares)
Os delactores (Vicente, Morais Sarmento, Andrade Corvo)
Dois polícias
Os Governadores do Reino (D. Miguel Forjaz, Beresford, Principal Sousa)
Matide de Melo / António de Sousa Falcão
Frei Diogo
Tom e sentido da fala das personagens
Manuel – desencanto, compaixão e perplexidade (linguagem com desviod lexicais e com aforismos).
Vicente – inteligência perversa, ódio e desprezo (subtileza dos raciocínios).
D. Miguel – calculista cínico e maquiavélico.
Beresford – pragmatismo tranquilo, sereno e assumido (recurso a uma linguagem técnico-militar).
Principal Sousa – distante, paternalismo falso e beato (recurso a uma terminologia de sentido teológico).
Frei Diogo – inocência, sensibilidade e compreensão da dor.
Sousa Falcão – desiludido e com sentimento de culpa.
Corvo e Sarmento – cobardia, traição, subserviência, venalidade e vilania.
Matilde – amor, paixão, desencanto, confissão, desespero, veemência e acusação (recurso a uma argumentação inteligente, a uma filosofia sagaz e a um tom ingénuo a falar da sua vida privada).
IV. TEMPO
. Paralelismo histórico-metafórico:
- Tempo da acção (séc.XIX – 1817) – Regime Absolutista
- Tempo da escrita (séc.XX – 1920) – Regime Salazarista (fascismo)
. O avanço da acção (passagem do tempo) é dado através da fala das personagens.
V. ESPAÇO
1. Espaço Físico / Espaço Psicológico – não há indicações cénicas com referências a diferentes espaços; a mudança de espaço é marcada por:
. técnica da iluminação;
. didascálias;
. falas das personagens;
. jogo de luz / sombra (para mudança de espaço; para criar ambientes de desalento, de sonho; um código complementar do valor simbólico das palavras proferidas).
2. Espaço Social – vestuário; adereços...
VI. SIMBOLISMO
. saia verde de Matilde (felicidade e esperança)
. o título: «Felizmente há luar!», dito por D. Miguel (efeito dissuasor das execuções); dito po Matilde (esperança).
. Luz (vida) Noite (morte)
. Lua – luar (transformação, renovação,crescimento)
. Fogueira – “clarão” (esperança)
VII. NOVA CONCEPÇÃO DE TEATRO
. Uma “apoteose trágica” – glorificação de um momento exemplar da luta pela liberdade.
VIII. INTENCIONALIDADE DA PEÇA
. Recorrendo à caracterização e linguagem das personagens, às notas à margem do texto e aos elementos de luz e de som, o autor prentende fazer com que o leitor/espectador, pela análise crítica da sociedade do século XIX, reflicta sobre a situação política e social do século XX (1961):
- denúncia de situações escandalosamente injustas e repressoras.
. «Felizmente – felizmente há luar!» (última fala de Matilde, antes de cair o pano):
- 1817 – a esperança de se alterar um regime Absolutista, injusto e violento (1834 – triunfo do Liberalismo)
- 1962 – esperança de se alterar um regime Fascista, injusto e violento (25 de Abril de 1974 – triunfo da Democracia).
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