domingo, 27 de janeiro de 2008

Os Castelos «O Conde D. Henrique»

TERCEIRO
O CONDE D. HENRIQUE

Todo começo é involuntario.
Deus é o agente.
O herói a si assiste, vário
E inconsciente.

À espada em tuas mãos achada
Teu olhar desce.
«Que farei eu com esta espada?»

Ergueste-a, e fez-se.



Para uma análise completa, convém localizar o poema que me proponho a tratar: O Conde D. Henrique é o 3º texto do conjunto II Os Castellos, da 1ª parte da Mensagem denominada Brasão.
Convém também lembrar as diversas simbologias associadas ao nº 3:
• Representação da totalidade através da união DEUS/UNIVERSO/HOMEM;
• Ligação à figura de Cristo e à espiritualidade (PAI/FILHO/ESPÍRITO SANTO);
• Fases da existência NASCIMENTO/CRESCIMENTO/MORTE, que aliás estão cada uma respectivamente associada à simbologia das três partes da “Mensagem” BRASÃO/MAR PORTUGUÊS/ENCOBERTO (estrutura tripartida).
Passo então à análise concreta do poema. Conde D. Henrique, contribuiu para a fundação de Portugal, para a criação da nossa nacionalidade, foi o fundador do Condado Portucalense.
Apesar de o poema possuir este título, pouco está ele relacionado directamente com a personagem. O texto ultrapassa mesmo a figura de Conde D. Henrique através de afirmações altamente simbólicas.


Na 1ª estrofe, o herói (Conde D. Henrique) actua como agente de Deus, comandado por uma força que o transcende, uma força que o faz agir inconscientemente.
Dá-se portanto início a um percurso espiritual. O que este percurso pretende atingir, é a ideia de que mais importante do que a terra (matéria), é o espírito, os valores sobre os quais ele (herói) vai criar as suas raízes.
Podemos de certa forma, através deste conceito de herói inconsciente, fazer a seguinte questão de teor filosófico: até que ponto é que o Homem é autónomo?
Resumidamente, nesta 1ª estrofe o herói imóvel assiste ao desenrolar involuntário de alguma acção.

A espada, símbolo de guerra, de morte. Será esta a mensagem que Pessoa quererá fazer passar? Não, aqui a espada funciona paradoxalmente. Não é de guerra verdadeira que fala o poeta, é de guerra à ignorância. Poderá ainda ser interpretada como símbolo fálico, pela sua forma longa e comprida, simbolizando a fecundação dos campos, a criação de vida.
Ora, nesta 2ª estrofe o herói desce o olhar na espada e faz aquela interrogação retórica «Que farei eu com esta espada?»:
Pessoa conclui então o poema com a finalização do acto, a concretização de algo por parte do herói, o nascimento de Portugal.


João Lamarão 12º2 (2007/08)

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