Sétimo (II)
D. Filipa de Lencastre
Que enigma havia em teu seio
Que só génios concebia?
Que arcanjo teus sonhos veio
Velar, maternos, um dia?
Volve a nós o teu rosto sério,
Princesa do Santo Gral,
Humano ventre do Império,
Madrinha de Portugal!
Poema constituído por dois momentos, uma primeira quadra de aproximação à figura histórica e a segunda que encerra um valor exclusivamente simbólico.
As duas interrogações que comportam toda a primeira estrofe denunciam alguma admiração pela qualidade da progenitora, que “ só génios concebia”, que parecem ter sido protecção divina “Que arcanjo teus sonhos veio/ Velar...”. Esta poderá ser uma referência directa ao arcanjo Gabriel que – diz Lucas no seu Evangelho – veio anunciar o nascimento de Jesus Cristo à virgem Maria (Lc 1, 26-38)
Num segundo momento o sujeito poético invoca o “rosto” materno de D. Filipa, o rosto da mãe que cuida – séria – dos seus filhos, com o olhar atento e preocupado. A invocação desta figura materna é de grande importância, visto que está em causa o futuro dos seus filhos – os Portugueses.
“Princesa do Santo Graal” pode ter diversas interpretações. D. Filipa de Lencastre era princesa inglesa da casa dos Plantagenetas.
Por outro lado, há quem dê ao Santo Graal um sentido simbólico absoluto – o de representar o sangue de Cristo. E se assim for, “princesa do Santo Graal” significará a origem de uma linhagem com o sangue nobre, o sangue de Cristo, origem divina e providencial do Império ainda por nascer.
Seja como for, é certo que ela foi o “humano ventre do Império”, nomeadamente gerando o Infante D. Henrique, e podendo assim ser considerada – pelo sangue – protectora, “madrinha” do futuro de Portugal.
Nota:
Ínclita geração: Duarte, foi Rei de Portugal; Pedro, Duque de Coimbra e considerado o príncipe mais culto do seu tempo na Europa; Henrique, Duque de Viseu foi o impulsionador dos Descobrimentos; Isabel de Portugal (1397-1471), casada com Filipe III, Duque da Borgonha, actuava muitas vezes em nome do seu marido e era dada como a verdadeira governante da Borgonha; João, Infante de Portugal foi condestável e avô do Rei D. Manuel I; Fernando, o Infante Santo morreu cativo em Fez, depois de recusar entregar Ceuta em troca da sua própria liberdade
Pedro Granate 12º2 (2007/08)
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