Programa para a actuação heróica
Os primeiros quatro versos da estrofe 95 são elucidativos da motivação subjacente a esta reflexão. No início do canto VI, Baco consegue convencer Neptuno a promover um consílio dos Deuses marinhos em que se decide surpreender os nautas lusitanos com uma tempestade, favorecida pelo poder dos ventos, nomeadamente Éolo.
Mais uma vez é a intervenção de Vénus que, solicitando às ninfas que seduzissem os ventos, consegue com que estas os distraiam, permitindo aos portugueses chegarem a Calecut. Foram estes “os (...) hórridos perigos, os trabalhos graves e temores”.
Como deve o herói alcançar a fama? O programa começa por fazer-se pela negativa (est.95-96) e só a partir da estrofe 97, pela afirmativa.
Propositadamente, começa por apresentar a genealogia como elemento insuficiente para alcançar o estauto de herói, contrariando a norma vigente na época. É mais uma vez a insistência no ideal humanista que concebe o homem como um produto da experiência.
Ainda nesta estrofe e coincidente com o apelo á experiência pessoal, nega-se o acesso ao heroismo pela via da ociosidade, do conforto, do bem-estar que alíás, será sujeita a um processo de enumeração na estrofe 96.
A gula pelos reqintados e exóticos manjares, os passeios indolentes e inúteis, as mais diversas futilidades, as ambições desmesuradas enfraquecem os ânimos, fragilizam o Homem, votando-o à insatisfação. E pior, distraem-no das obras de verdadeiro valor.
A conjunção adversativa que introduz a estrofe 97, contrapõe o que se repudiou anteriormente com uma actuação marcada pelo sofrimento, pelo esforço, pela coragem: a actividade bélica: “ o forçoso braço(...) vigiando e vestindo o forjado aço” e a marítima” sofrendo tempestades e ondas cruas...”.
Quer em batalhas, quer no mar, está-se ante a desgraça “ o pelouro ardente que assovia e leva a perna ou braço ao companheiro.” Mas são essas situações que exigem que o ânimo se domine, “ a parecer seguro, ledo, inteiro” e consequentemente se crie “ o calo honroso”. Por outro lado, é o sofrimento que faz o homem dar mais valor á vida e a desprezar as honras e o dinheiro, isto é, fá-lo atingir a grandeza moral.
Os prémios do acaso, da sorte, o verdadeiro herói despreza-os. Os que ele mesmo conquistou, pela sua virtude, são seus por direito próprio.
Desta forma, é do entendimento geral que a experiência dos perigos torna o homem sereno (est.99); fá-lo posicionar-se acima dos interesses e das coisas mesquinhas. Numa sociedade regida pela justiça e não por intereses próprios, o herói terá a recompensa pelo seu valor, desempenhando lugares superiores, mesmo “ que contra vontade sua e não rogando”, é o reconhecimento e promoção natural.
Finalmente, registe-se que este retrato robot do herói é uma caracterização abstracta, no sentido em que não se estabelece por comparação mas por generalização de um modelo universal.
(Linhas de leitura do professor Euclides)
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8 comentários:
Bastante completa e elucidativa esta análise à reflexão do poeta :)
muito bom!
Síntese à reflexão de grande qualidade. Grande ajuda e uma excelente ideia este blog
ola stor sou kamal
e este blog ajudou me muito para fazer composicao e agora tbja tenho portugues normal, ja nao tenho PLNM
ola stor sou kamal
este blog ajudou me muito para fazer trabalho de portugues
agoRa tb tenho portugues e ja nao tenho PLNM
TENHO MUITAS SAUDADES SUAS
mesmo bacano, ajudou imenso! :)
Muita fixe
Agora vão levar nas nalgas
Vai tu
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