sábado, 24 de janeiro de 2009

Fingimento poético

Escola Secundária Rainha Dona Leonor
Português 12º ano

TPC

Guião de análise do poema: Autopsicografia

1. Divide o poema em momentos, sintetizando o conteúdo de cada um e indicando a unidade lexical que os delimita.

2. Caracteriza o discurso poético, referindo-te:
- à pessoa gramatical da enunciação,
- tipo de frases predominantes,
- classes de palavras mais frequentes

3. Justifica o uso repetitivo do presente do indicativo ao longo de toda a composição.

4. Faz o levantamento dos três advérbios utilizados e explica a sua expressividade.

5. O poema tenta, no fundo, explicar o mecanismo da criação poética.

5.1. Indica as entidades referidas no poema que intervém neste circuito artístico de comunicação.

5.2. Explica como se posiciona o poeta relativamente ao binómio Coração/
Razão.
5.2.1. O coração surge no poema associado a um brinquedo, “comboio de corda”. Identifica o recurso estilístico utilizado para essa associação e julga o valor simbólico desse brinquedo.

5.2.2. Esse brinquedo “ gira nas calhas de roda”. Com que ideia ficamos da dinâmica, movimentação do mesmo? E porquê de corda?

5.2.3. Procede ao levantamento dos dois verbos que remetem para a fruição estética da poesia.

5.3. Faz corresponder as formas verbais “ escreve, sentem e teve(= sentiu) e não têm) aos três tipos de dores enunciadas.

5.4. Explica por que motivo as dores imaginadas pelo poeta e pelos leitores são ambas intelectualizadas

5.5. Relaciona o título do poema com o pressuposto de Pessoa de que não há arte que seja transposição imediata da experiência das sensações.


6. Diz se no poema predominam frases simples ou complexas. Dá exemplos de frases que apresentem uma relação de coordenação e uma de subordinação, classificando a sua tipologia.

7. Retira do texto a frase que apresenta um hipérbato.

Linhas de análise:


- Sendo um fingidor, o poeta não finge a dor que não sentiu mas só aquela de que teve experiência directa, logo o conceito de fingimento não se traduz na simulação de uma experiência emocional fictícia,

- o reconhecimento dessa dor é ponto de partida para a criação poética, contudo a poesia não é para Pessoa a passagem imediata da experiência á arte, não é a expressão da espontaneidade, por isso exige a criação de uma dor fingida sobre a dor experimentada.

- a dor real, dos sentidos, sofre uma metamorfose, mutação, em dor imaginária, isto é, materializam-se pela poesia, pela arte imagens capazes de fazer regressar o leitor e o seu próprio experienciador, o poeta, à emoção inicial.

- a mutação da dor em imagens é tão perfeita pelo processo de fingimento que a dor fingida se transforma numa nova dor imaginária, confundindo-se com a dor inicial.


- os leitores não têm acesso a qualquer das dores, a real ou a imaginária, ambas reais ficaram com o poeta, os leitores só têm acesso à representação de uma dor intelectualizada, que lhes não pertence.

- Se a poesia é representação mental, o coração “ esse comboio de corda “ não passa de entretenimento da razão que gira “ nas calhas” logo fixo e impossibilitado de mudarde rumo. Aqui se estabelece a dialéctica consciência/inconsciência, razão/coração.

- Tripartição do poema denunciada pela conjunção coordenativa copulativa “E, E, E “.

- Categoria morfológica do nome é preponderante

- Advérbios de significado semelhante

- Palavras da família do verbofingir (3º, 4º versos)

- Os verbos “ lêem, escreve, sentem, teve englobam os três diferentes tipos de dor: a veradeira que o poeta teve, a dor que ele escreve e aquela que os leitores lêem e não têm.

- Os verbos “gira” e “entreter” sugerem a feição, função lúdica da poesia, cabendo à razão um papel determinante na produção poética.

- Frases de tipo declarativo com verbos no presente mostram carácter doutrinário do poema.

- Versos curtos de sete sílabas, com irregularidades rimáticas e métricas que são constantes em Pessoa.

Sem comentários: