O TIMBRE(*)
UMA ASA DO GRIFO
D. JOÃO O SEGUNDO
Braços cruzados, fita além do mar.
Parece em promontório uma alta serra –
O limite da terra a dominar
O mar que possa haver além da terra.
Seu formidável vulto solitário
Enche de estar presente o mar e o céu,
E parece temer o mundo vário
Que ele abra os braços e lhe rasgue o véu.
Se a visão (“cabeça do grifo”) pertencia ao Infante D. Henrique, faltava quem lhe desse o poder de realizar essa visão, literalmente de a fazer voar. Por isso Pessoa usa a expressão “asa do grifo” – são as asas que vão fazer levantar do chão a visão/sonho magnífico do Infante.
Uma das asas do grifo, é D.João II. Este é uma das asas, pelo simples facto de ter sido D.João II que elaborou o plano de dobrar o Cabo da Boa Esperança, com vista a obter uma rota marítima para a Índia.
Numa análise formal do poema, vemos que este é constituído por duas estrofes, sendos estas quadras com versos decassilábicos [tendo a intenção de comparar a sua obra com uma epopeia, especificamente com a de Camões, ‘’Os Lusíadas’’, e apresenta uma rima cruzada.
Na 1ª estrofe ,em geral, Pessoa destaca nesta “asa” o “poder da vontade’’.
De “braços cruzados” – não usando a força, só a vontade, ele fita por isso “além do mar” – para a Índia. Como um “promontório”, que alto desafia o mar, que é terra e ao mesmo tempo quase mar. O promontório é um limite, mas D. João II encarna esse mesmo limite, ele define-o e expande-o, com a sua vontade. É ele “o limite da terra a dominar / O mar que possa haver além da terra”.
Na 2ª estrofe, tal como todos os heróis na Mensagem, o ‘’formidável vulto solitário’’ é algo que Pessoa elogia e valoriza por serem heróis solitários, sombrios, quase apagados da sua individualidade, em favor de Portugal.
Existe aqui um paradoxo, porque apesar da sua vontade ser solitária, D.João II “enche de estar presente o mar e o céu” ao navegar por mares nunca antes navegados e descobrir terras para além do que nos era conhecido. Estas acções fazem ‘’temer o mundo vário’’. O Mundo inconstante, poderoso, teme que D. João II “abra os braços e lhe rasgue o véu”, ou seja, que D.João II com a sua vontade consiga desvendar os mistérios do Mundo desconhecidos ainda aos homens.
(*)- Timbre: S.m. insígnia do escudo; marca; sinal.
( por Daniel Ambaram 12º 2)
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5 comentários:
o que quer dizer "enche de estar presente o mar e o céu"?
Significa que a presença, ainda que solitária, de D. João II enche o mar e o céu, ou seja, é um vulto que se impõe.
Qual é o tema e a sua explicitação?
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