quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

As Quinas
Quarta
D. João, Infante de Portugal

Não fui alguém. Minha alma estava estreita
Entre tão grandes almas minhas pares,
Inutilmente eleita,
Virgemmente parada;

Porque é do português, pai de amplos mares,
Querer, poder só isto:
O inteiro mar, ou a orla vã desfeita -
O todo, ou o seu nada.

O poema organiza-se em dois momentos, ocupando cada um uma estrofe. Esta delimitação é facilmente justificada pela conjunção subordinativa causal que introduz a segunda estrofe, segundo momento.
Numa primeira parte o herói mítico é o exemplo do homem que se anula para que os outros possam brilhar: “Não fui alguém/ Entre tão grandes almas minhas pares”. Reconhece insuficiente a sua linhagem: “Inutilmente eleita”, e a sua falta de experiência: “Virgemmente parada”.
No segundo momento justifica a sua “abdicação” com a identidade do Ser Português, da qual, deduz-se, não é o melhor exemplo. Recupera-se a Possesio maris, um poder resultante do nosso querer.
A justificação termina com dois versos, que só aparentemente encerram antíteses, pois não se tratam de relações de contrariedade, mas, contrariamente de antonímia conversa por alternativa: “O todo, ou o seu nada.” Especificando, quando o Português quer, só lhe interessa o inteiro e total, na sua impossiblidade, nem sequer há querer.

Prof. Euclides

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