quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

AS Quinas

Quinta
D. Sebastião, Rei de Portugal
Louco, sim, louco, porque quis minha grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?

São dois momentos, uma primeira estrofe em que se apresenta a loucura como condição essencial para a busca de grandeza(v.1); e o herói se autovaloriza pelo que sonha, estava ele repleto de certezas (v.3), recusando os favores impossíveis da Sorte (v.2).
Resumindo a existência ao essencial, a loucura, o ser presente/intemporal não morre (vv4,5). O herói que há no presente é, assim, diferente do rei do passado, é um ser mítico. Como mito há uma natural projecção para o futuro, dando continuidade a outras existências humanas plenas. Sem a loucura, o homem reduz-se ao servilismo, tal como a “besta” ou um simples progenitor , limitado ao corpo: “Cadáver adiado”.
Prof. Euclides
As Quinas
Quarta
D. João, Infante de Portugal

Não fui alguém. Minha alma estava estreita
Entre tão grandes almas minhas pares,
Inutilmente eleita,
Virgemmente parada;

Porque é do português, pai de amplos mares,
Querer, poder só isto:
O inteiro mar, ou a orla vã desfeita -
O todo, ou o seu nada.

O poema organiza-se em dois momentos, ocupando cada um uma estrofe. Esta delimitação é facilmente justificada pela conjunção subordinativa causal que introduz a segunda estrofe, segundo momento.
Numa primeira parte o herói mítico é o exemplo do homem que se anula para que os outros possam brilhar: “Não fui alguém/ Entre tão grandes almas minhas pares”. Reconhece insuficiente a sua linhagem: “Inutilmente eleita”, e a sua falta de experiência: “Virgemmente parada”.
No segundo momento justifica a sua “abdicação” com a identidade do Ser Português, da qual, deduz-se, não é o melhor exemplo. Recupera-se a Possesio maris, um poder resultante do nosso querer.
A justificação termina com dois versos, que só aparentemente encerram antíteses, pois não se tratam de relações de contrariedade, mas, contrariamente de antonímia conversa por alternativa: “O todo, ou o seu nada.” Especificando, quando o Português quer, só lhe interessa o inteiro e total, na sua impossiblidade, nem sequer há querer.

Prof. Euclides

As Quinas

As Quinas
Terceira
D. Pedro, Regente de Portugal
Claro em pensar, e claro no sentir,
É claro no querer;
Indeferente ao que há em conseguir
Que seja só obter;
Dúplice dono, sem me dividir,
De dever e de ser -

Não me podia a Sorte dar guarida
Por não ser eu dos seus.
Assim vivi, assim morri, a vida,
Calmo sob mudos céus,
Fiel à palavra dada e à ideia tida.
Tudo mais é com Deus!

O poema pode ser dividido em dois momentos. A primeira estrofe e os dois primeiros versos da segunda constituem uma aproximação à vida de D.Pedro. Através do advérbio de modo “assim”, o poeta introduz um novo momento no poema. Depois de uma breve caracterização da vida da figura histórica ”Assim vivi, assim morri, a vida,..”, os últimos três versos funcionam como uma conclusão.
Nos primeiros quatro versos da primeira estrofe do poema, D.Pedro apresenta-se como um intelectual, um homem de ideias esclarecidas e de objectivos definidos. Uma dessas ideias, era a vontade de não conquistar outro território apenas por conquistar. D.Pedro, num registo autobiográfico, apresenta-nos um objectivo que delineou e cumpriu; o de ser responsável por dois territórios (Portugal e Ceuta), e exercer os seus deveres de igual modo nos dois territórios (Dúplice dono, sem me dividir; de dever e de ser.v-5,6 est-1).
Na segunda estrofe do poema, D.Pedro afirma que Deus é responsável por tudo, mas não pelo destino dos homens, em concreto pelo dele. Segundo este, o seu destino foi protegido pelo seu trabalho e dedicação, e não pela sorte. Isto significa que o herói não acredita na sorte como elemento fundamental no seu destino (Não me podia a sorte dar guarida Por não ser eu dos seus.v-1,2 est-2).
Em suma, ele é o exemplo da fidelidade ao pensamento, ao sentimento e à vontade(vv.1,2)
Nota:
D.Pedro, considerado o primeiro grande diplomata português, era um dos filhos de D.João I, Mestre de Avis, e de D.ª Filipa de Lencastre. Nasceu em 1392 e morreu em 1449, depois de ter sido regente de Portugal entre 1439 e 1448.

João Calinas 12º 2

Quinas

Segunda
D. Fernando, Infante de Portugal

Deu-me Deus o seu gládio, porque eu faça
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.

Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
A esta febre de Além, que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
Dentro de mim a vibrar.

E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois, venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma.


Num discurso na primeira pessoa ( ver flexão verbal, pronomes pessoais, determinantes possessivos), o herói simbólico perspectiva-se em dois tempos distintos: o passado em que foi predestinado por Deus para o servir na Guerra Santa: “A sua santa guerra./ Sagrou-me seu em honra e em desgraça,”; e o presente destemido pronto a enfrentar tudo em seu nome: “Cheio de Deus, não temo o que virá/ E este querer grandeza são seu nome “.
Há contudo um contraste entre a situação presente e a alma do herói ( dois últimos versos). “Às horas em que um frio vento passa/ Por sobre a fria terra “ , esta é a situação presente da nação, insensível aos valores humanos e à fé em Deus mas não vencerá a animosidade do herói:” venha o que vier, nunca será/ Maior do que a minha alma. “
Nota: D. Fernando, cativo dos mouros, humilhado e martirizado, aconselhou sempre seu irmão D. Duarte a não entregar Ceuta.
Prof. Euclides

As Quinas D. Duarte

As Quinas
Primeira
D. Duarte, Rei de Portugal

Meu dever fez-me, como Deus ao mundo.
A regra de ser Rei almou meu ser,
Em dia e letra escrupuloso e fundo.

Firme em minha tristeza, tal vivi.
Cumpri contra o Destino o meu dever.
Inutilmente? Não, porque o cumpri.

Na primeira estrofe, o herói simbólico assume que o seu Ser foi totalmente determinado pelo seu dever, tal como o mundo de Deus. Consequentemente, podemos deduzir a sujeição do homem, fazendo também ele parte do mundo, à vontade de Deus.
No segundo verso compreende-se que esse dever é dos maiores, o “ de ser Rei”, aquele a quem se lhe exige” regra”, que seja “ firme”, representando interesses de um povo e de uma nação, mesmo que isso lhe custe disabores e sofrimentos: “em minha tristeza, tal vivi “ .
A mitificação do herói simbólico é totalmente conseguida quando reconhece que esse dever de rei venceu a própria vontade do Destino, que esteve sempre contra ele. É a prova cabal de que o homem pode traçar a sua própria vida, desde que seja estóico a suportar as armaguras da vida, vendo-as como meio de cumprir a sua missão no mundo; daí que nada, nem as tristezas, são inúteis: “Inutilmente? Não, porque o cumpri.”


Luís Figueiredo
n.º 17 12ºano 2ª
Janeiro, 2008
Prof. M. Euclides Rosa

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Matriz 3º teste (Fevereiro)

Escola Secundária Rainha Dona Leonor
Português 12º ano
Ano lectivo: 2007/08
Prof: Euclides Rosa Turma: 12º 2


Matriz de objectivos e conteúdos (3º teste, 2º período)

O teste é constituído por três grupos de resposta obrigatória.

Pretende-se que o examinando:

Grupo I ( sete itens de resposta curta)
115 pontos

- Situe, justificando, um poema de Mensagem
- Divida, justicando, o poema dado
- Transcreva expressões do texto que caracerizem o herói mitificado
- Explique a dimensão da realidade histórica a que se referem essas expressões
- Identifique um recurso estilístico, explicando a sua intencionalidade
- Relacione léxico/ expressões textuais com um assunto do poema


Grupo II (dois itens: um de associação por colunas, um de resposta curta sem expressão escrita)
25 pontos

- Identifique mecanismos de coesão interfrásica (coordenação, subordinação, conectores textuais)


Grupo III ( Item de resposta extensa/ ensaio)
60 pontos

- Produza um texto expositivo-opinativo sobre temática decorrente dos assuntos estudados em aula
- Revele capacidades de expressão escrita, cumprindo tema e tipologia de textos pedidos, coerência e pertinência da informação, domínio dos mecanismos de coesão e estruturação textuais, variedade e propriedade vocabular, domínio da ortografia