domingo, 30 de março de 2008

Os Colombos

Outros haverão de ter
O que houvermos de perder.
Outros poderão achar
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou não achado,
Segundo o destino dado.

Mas o que a eles não toca
É a Magia que evoca
O Longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
É justa auréola dada
Por uma luz emprestada.

Colombo, que tentara durante anos o apoio do rei de Portugal, acabaria por descobrir o Novo mundo sob a égide dos reis católicos de Espanha; significa aqui as oportunidades perdidas, mas também que a missão de Portugal vai mais além da dos “Colombos”.
“Outros haverão de ter / O que houvermos de perder”
“Mas o que a eles não toca / É a magia que evoca / O longe e faz dele história”
Este poema, que se situa na segunda parte da obra a “ Mensagem” intitulada de Mar Português, substitui um outro chamado “Ironia” que constatava nas primeiras versões dessa obra.
O poema refere-se a Cristóvão Colombo que foi o descobridor da América ao serviço dos reis de Espanha. Por isso mesmo sabemos que há todo um contencioso entre Portugal e Espanha a propósito de Colombo, que deveria ter descoberto a América em nome do rei de Portugal se este, D.joão II, não o tivesse rejeitado.
Não se referindo apenas a Cristóvão Colombo, este poema fala ainda de todos os navegadores estrangeiros (chamados aqui “Colombos”) cuja glória, diz, é apenas um reflexo da luz das descobertas portuguesas. Neste poema, na minha opinião, existe um certo exagero quanto ao nacionalismo, porque, como podemos ver na primeira estrofe, o poeta diz que os outros navegadores só vão ter o que Portugal não quis, pois Portugal não podia conquistar tudo.
Quanto à análise estilística do poema é de referir o uso de rima emparelhada, cujo esquema é aabb, esta rima pobre acentua os feitos menores dos navegadores que não eram portugueses, do discurso na primeira pessoa do plural, como se fosse Portugal a falar, e ainda o uso da metonímia, pois Colombo aparece em representação de todas as potências estrangeiras que tentam apoderar-se do que é português.

Diogo Soares 12º 2
Padrão
O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para diante naveguei.

A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus.

E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.

E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.

Este poema pertence à 2ª parte da “Mensagem”, “Mar Português”, está efectivamente relacionado com os Descobrimentos .
Um padrão era um marco de pedra em forma de cruz que era colocado nos sítios descobertos pelos portugueses. O padrão tinha as armas(as quinas) portuguesas e uma inscrição, e era destinado a afirmar a soberania portuguesa na região onde se encontrava.
Diogo Cão foi um navegador português do século XV. Enviado por D. João II, realizou 2 viagens de descobrimento da costa africana entre 1482 e 1486. Chegou á foz do Zaire. Estabeleceu as primeiras relações com o reino do Congo. Em 1485, chegou ao Cabo da Cruz (actual Namíbia). Introduziu a utilização dos padrões de pedra, substituindo assim as cruzes de madeira para assinalar a presença portuguesa nos locais descobertos.
Assunto: num discurso de primeira pessoa, o sujeito poético , Diogo Cão, mostra neste poema o significado do padrão. Assim, o padrão “sinala ao vento e aos céus/Que, da obra ousada, é minha a parte feita” , ou seja, o padrão indica que o navegador cumpriu a sua missão.
As quinas testemunham o domínio português no oceano, que foi muito superior ao dos gregos e ao dos romanos.
A cruz mostra qual o objectivo último da navegação: a procura do porto sempre por descobrir(Céu), que só será encontrado “na eterna calma”(depois de morrer),e até lá, guiar-se-há pela vontade de Deus, que o incentiva a navegar constantemente.

A 1ª estrofe é uma introdução ao poema , já que se identifica o sujeito poético e aquilo que ela fez: deixou um padrão “junto ao areal moreno” eseguiu a sua navegação.
Na 2º estrofe, o sujeito poético reconhece que aquele padrão assinala que a missão do navegador foi cumprida.
Nas duas últimas estrofes, o sujeito poético mostra o significado das Quinas e da Cruz.
O sujeito poético é um navegador persistente e corajoso, tendo consciência da fragilidade humana: “O esforço é grande o homem é pequeno” e “a obra é imperfeita”.
É um ser insatisfeito, pois quer sempre seguir o seu caminho na descoberta de novas terras, nunca parando.
O poema apresenta muitos recursos expressivos. De salientar a utilização de metáforas como ,por exemplo,( "A alma é divina") - mostrando que a alma está ligada à divindade por oposição a uma outra ( "a obra é imperfeita"), da antítese inicial do poema "grande/ pequeno", reforçando a oposição Homem/Deus. Também importa salientar a dupla adjectivação "imenso e possível oceano" para reforçar a imensidão do mar e a personificação das Quinas que "ensinam" e da Cruz que "diz". Importa ainda referir todo o vocabulário que está relacionado com o mar como "areal", "naveguei", "navegador",...
O poema é formado por 4 estrofes, tendo cada uma 4 versos (quadras); o esquema rimático é abab- rima cruzada; não tem uma métrica regular.
Este poema está, assim, inserido na 2ª parte da "Mensagem", que representa simbolicamente a vida ou a realização.



Duarte Simões 12º 2
A Outra Asa do Grifo

Afonso de Albuquerque

De pé, sobre os países conquistados
Desce os olhos cansados
De ver o mundo e a injustiça e a sorte.
Não pensa em vida ou morte,
Tão poderoso que não quere o quanto
Pode, que o querer tanto
Calcara mais do que o submisso mundo
Sob o seu passo fundo.
Três impérios do chão lhe a Sorte apanha.
Criou-os como quem desdenha.

“Mal com os homens por amor del-rei, e mal com el-rei por amor dos homens” é uma famosa frase dita por Afonso de Albuquerque pouco tempo antes de morrer e que traduz o ideal que norteou toda a sua .
Este poema foi primeiramente editado na revista “Mundo Português” no dia 26 de Setembro de 1928.
Na estrutura interna de Mensagem o poema é o terceiro (a outra asa do grifo) do quinto grupo “ O Timbre” da primeira parte O Brasão.
Simboliza o poder da força, a concretização do sonho.
Se tivermos em conta o simbolismo dos três poemas do Timbre teremos algo como visão (D. Henrique), o poder da vontade (D. João, o segundo) e o poder da força, que se já conhecemos do primeiro verso do poema “ O Infante”, “Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce.”
O autor começa por captar um momento da vida do herói, dando uma imagem deste de pé sobre as suas conquistas no primeiro verso.
Do segundo verso ao oitavo são dados os seus sentimentos que têm como causa os feitos heróicos e as suas consequenciais.
Pessoa vai para alem da imagem do herói forte e determinado, e mostra-o como um ser cansado de ver a injustiça que há no mundo e o que o destino (sorte) lhe reserva. A injustiça que o autor se refere é à ingratidão dos outros pelos seus feitos. O seu sucesso não desperta admiração nos outros, mas sim inveja.
Há um desprezo pela vida material por parte do herói. Este já está tão cansado do poder e das conquistas que já não pensa em nada, já foram realizados todos os seus desejos materiais. O seu poder já é tão grande que ultrapassa o seu desejo.
O seu desejo de glória trouxera mais do que vitórias e poder, trouxera também as invejas dos outros e da corte “Que o querer tanto/ calcara mais do que o submisso mundo”.
Nos últimos dois versos Pessoa fala sobre as conquistas, referindo-se a três impérios.
O número três representa simbolicamente a perfeição, pelo que a conquista destes três impérios é a utopia do herói. Estes três impérios podem ser o Material, o Espiritual, e o Cultural, podem também ser o império Português, o Árabe e o Hindu, e ainda, mais especificamente se nos tivermos a referir a Afonso de Albuquerque, podem ser Goa, Malaca e Ormuz, as três cidades fortes que conquistou.
Pessoa mais uma vez chama sorte ao destino ao contrário dos poemas dos das quinas em que o azar é uma constante.
Foi o destino que “deu”, que permitiu a realização dos feitos de Afonso de Albuquerque, mas como nada é de graça, ele presenciou um futuro negro, e uma vida repleta de azar.
Quanto à análise formal do poema, é constituído por uma décima composta por cinco versos decassílabos e cinco hexassílabos alternados.
A rima é emparelhada, sendo o esquema rimático aabbccddee.



Nuno Viegas Moreira nº23 12º2
O TIMBRE(*)

UMA ASA DO GRIFO
D. JOÃO O SEGUNDO

Braços cruzados, fita além do mar.
Parece em promontório uma alta serra –
O limite da terra a dominar
O mar que possa haver além da terra.

Seu formidável vulto solitário
Enche de estar presente o mar e o céu,
E parece temer o mundo vário
Que ele abra os braços e lhe rasgue o véu.

Se a visão (“cabeça do grifo”) pertencia ao Infante D. Henrique, faltava quem lhe desse o poder de realizar essa visão, literalmente de a fazer voar. Por isso Pessoa usa a expressão “asa do grifo” – são as asas que vão fazer levantar do chão a visão/sonho magnífico do Infante.
Uma das asas do grifo, é D.João II. Este é uma das asas, pelo simples facto de ter sido D.João II que elaborou o plano de dobrar o Cabo da Boa Esperança, com vista a obter uma rota marítima para a Índia.

Numa análise formal do poema, vemos que este é constituído por duas estrofes, sendos estas quadras com versos decassilábicos [tendo a intenção de comparar a sua obra com uma epopeia, especificamente com a de Camões, ‘’Os Lusíadas’’, e apresenta uma rima cruzada.

Na 1ª estrofe ,em geral, Pessoa destaca nesta “asa” o “poder da vontade’’.

De “braços cruzados” – não usando a força, só a vontade, ele fita por isso “além do mar” – para a Índia. Como um “promontório”, que alto desafia o mar, que é terra e ao mesmo tempo quase mar. O promontório é um limite, mas D. João II encarna esse mesmo limite, ele define-o e expande-o, com a sua vontade. É ele “o limite da terra a dominar / O mar que possa haver além da terra”.

Na 2ª estrofe, tal como todos os heróis na Mensagem, o ‘’formidável vulto solitário’’ é algo que Pessoa elogia e valoriza por serem heróis solitários, sombrios, quase apagados da sua individualidade, em favor de Portugal.

Existe aqui um paradoxo, porque apesar da sua vontade ser solitária, D.João II “enche de estar presente o mar e o céu” ao navegar por mares nunca antes navegados e descobrir terras para além do que nos era conhecido. Estas acções fazem ‘’temer o mundo vário’’. O Mundo inconstante, poderoso, teme que D. João II “abra os braços e lhe rasgue o véu”, ou seja, que D.João II com a sua vontade consiga desvendar os mistérios do Mundo desconhecidos ainda aos homens.

(*)- Timbre: S.m. insígnia do escudo; marca; sinal.

( por Daniel Ambaram 12º 2)
A Coroa

Nun’ Álvares Pereira

Que auréola te cerca?
É a espada que, volteando,
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.
Mas que espada é que, erguida,
Faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
Que o rei Artur te deu.
'Sperança consumada,
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!


Insere-se no “ Brasão”, primeira parte de Mensagem, e é definitivamente pelo simbolismo da coroa a prova última da garantia de independência da nação.
Estão em paralelo duas linhas de conteúdo que se entrelaçam: a guerra e a santidade, pelo que uma não existe sem a outra. Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável, reúne de modo exímio a faceta de homem de guerra e a de Santo, pois foi ele o eleito para concretização de uma vontade divina.
Podemos dividir este poema em duas partes: a primeira constituída pelas duas primeiras estrofes, onde se estabelece a aliança entre a guerra (espada) e a santidade (auréola), apontando para a guerra santa que todo o império espiritual, associado á espada do rei Artur, Excalibur, exige; a segunda parte, última estrofe é um apelo directo para a concretização desse império, que terá como líder simbólico Nuno Álvares, daí o uso do imperativo: “ Ergue”.
Através deste mito, o poeta dá consistência à ideia de predestinação divina do povo português na liderança desta luta pacífica quese quer universal. Ao estabelecer-se a ligação entre passado, presente e futuro, explica-se a necessidade de uma força regeneradora que veja o caminho para o Quinto Império “Para a estrada se ver!”. Essa força é o nosso herói sem rosto com o qual temos afinidades e proximidade, veja-se o deíctico “ te”, que por isso recebe a coroa como reconhecimento pela concretização da nossa História, passada, presente e futura.

( por Paciência Canda, 12º 2)

segunda-feira, 3 de março de 2008

Matriz 4º teste 12º ano- Português

Escola Secundária Rainha Dona Leonor
Português 12º ano
Ano lectivo: 2007/08
Prof: Euclides Rosa Turma: 12º 2

Matriz de objectivos e conteúdos (4º teste, 2º período)

O teste é constituído por três grupos de resposta obrigatória.

Pretende-se que o examinando:

Grupo I ( sete itens de resposta curta) 100 pontos

- Identifique uma temática de Pessoa Ortónimo
- Transcreva versos em função de um objectivo específico
- Identifique um recurso estilístico
- Compare sujeito poético a uma outra entidade presente no poema
- Divida, justicando, o poema dado
- Estabeleça pontos de contacto entre o poema dado e outros estudados nas aulas.

Grupo II (dois itens: um de escolha de alternativas, um de reescrita de frase) 40 pontos

- Revele compreensão de texto informativo
- Tranforme duas frases simples numa complexa, utilizando mecanismos de coesão interfrásica

Grupo III ( Item de resposta extensa/ ensaio) 60 pontos

- Produza um texto expositivo-opinativo sobre temática decorrente dos assuntos estudados em aula
- Revele capacidades de expressão escrita, cumprindo tema e tipologia de textos pedidos, coerência e pertinência da informação, domínio dos mecanismos de coesão e estruturação textuais, variedade e propriedade vocabular, domínio da ortografia

Conteúdos

Temáticas da poética pessoana : fingimento poético, dor de pensar, fragmentação do eu
Recursos estilísticos
Coesão interfrásica (coordenação e subordinação)
Tipologia de texto: expositivo-opinativo