sexta-feira, 12 de junho de 2009

«Memorial do Convento», José Saramago




Cap Plano narrativo: Construção do CONVENTO
Quadros da época Plano narrativo:BALTASAr e BLIMUNDA
Plano narrativo:Construção e voo da PASSAROLA

1 Promessa do rei.
O casamento real.
2 Antigas pretensões de um convento franciscano.
Milagres de franciscanos.
3 Entrudo, Quaresma, a procissão da penitência.
Sonho da rainha.

4 Apresentação de Baltasar, percurso e chegada a Lisboa.

5 Rainha grávida de 5 meses.
Auto-de-fé. Encontro e “casamento”.
6 Importação de cereais.
Episódio da frota do bacalhau. Perguntas de Baltasar sobre o mistério de Blimunda. Bartolomeu apresentado como «o Voador».
Conta a sua história.
Início da colaboração de Baltasar; ida a S. Sebastião da Pedreira.

7 Nascimento da infanta, baptizado e festejos. Assaltos franceses aos navios nacionais.
Chegada da nau de Macau.
Conflitos no Brasil.
Assistem aos festejos.

8 Blimunda revela nova gravidez da rainha.
Nascimento do infante.
Escolha do local para edificação do convento. Crueldade do infante D. Francisco.
Saque francês no Rio de Janeiro.
Episódio da frota inglesa.
História do frade ladrão.
Elevação do inquisidor a cardeal.
Blimunda revela a Baltasar o seu segredo; demonstra poder visionário.
Assistem aos festejos.

9 Ensaio do sermão (ref.ª a Vieira).
Referências às pregações em Salvaterra de Magos e na festa dos desponsórios de S. José.
D. João V e as freiras.
Insubordinação das freiras de Sta Mónica.
2º auto-de-fé.
Paz com França.
Tourada.
Mudança para S. Sebastião da Pedreira: a nova casa; o quotidiano a dois; o baptismo de Blimunda, a Sete-Luas; partida para Mafra; apresentação de Blimunda ao Sete-Sóis.Trabalho braçal de Baltasar; ajuda de Blimunda.
Visões de Blimunda, do interior da passarola.
Explicações sobre o éter.
Anúncio da partida de Bartolomeu para a Holanda.
Partida de Bartolomeu.

10 Venda de terras para a construção do convento (pai de Baltasar).
Informação sobre as alterações ao projecto inicial. Funeral do infante.
Gravidez da rainha, do futuro rei D. José.
Visitas da rainha às igrejas; tristeza e orações.
Doença do rei.
Manobras do infante D. Francisco.
Fim dos sonhos de D. Maria Ana. Sonho de Baltasar: a sementeira de penas.
Reflexão do narrador, comparação com o casamento real.

11 Escavações dos caboucos; multidão de trabalhadores vista por Bartolomeu.
Barracas, vistas pelos 3. Regresso de Bartolomeu, 3 anos depois: ensinamentos trazidos da Holanda.
Anúncio da partida para Coimbra, com passagem por Mafra.
Bartolomeu visita a casa dos Sete-Sóis.
Sonho comum.
Explicação do significado de éter: as vontades.
Blimunda vê Bartolomeu por dentro.
A trindade firmada.

12 Contratação de Álvaro Diogo.
Lançamento da 1ª pedra: marcação; construção e reconstrução da igreja de madeira,; a bênção da cruz; a procissão; a participação do rei. Nova revelação de Blimunda: visão de uma nuvem fechada na hóstia.
Viagem para Lisboa: o amor comparado à celebração de uma missa. Carta de Bartolomeu.
Na cerimónia, Blimunda recolhe vontades.
Chegada a S. Sebastião da Pedreira.

13 Procissão do Corpo de Deus; participação do rei (monólogo interior) Os dois assistem, abraçados. Recomeço dos trabalhos.
Chegada de Bartolomeu, agora “de Gusmão”, nova partida para Coimbra e outras visitas periódicas.
Complementaridade do trabalho.

14 Lição de cravo
Regresso definitivo de Bartolomeu, doutorado em cânones.
Conversa entre Bartolomeu e Scarlatti: o músico visita a abegoaria, pela 1ª vez.

15 Epidemia em Lisboa.
Milagre da madre Teresa. Baltasar acompanha Blimunda na recolha das vontades.
Doença de Blimunda, sofrimento de Baltasar. Scarlatti toca cravo na abegoaria.
Blimunda recolhe vontades.
Música de Scarlatti ajuda a curar Blimunda.
O casal procura Bartolomeu para lhe comunicar a cura de Blimunda e a finalização da passarola.

16 Do ar, os voadores avistam as obras.
Procissão, pelo surgimento do Espírito Santo. O funcionamento da Justiça.
Naufrágio, morte do infante D. Miguel e sobrevivência de D. Francisco.
Fim da demanda com o duque de Aveiro. Padre confessa conversão ao judaísmo e a dia o voo.
Fuga, 1º voo da passarola.
Manifestações de loucura de Bartolomeu, tentativa de incêndio da passarola.
Desaparecimento de Bartolomeu.

17 Baltasar começa a trabalhar no convento (iniciado há 7 anos).
A Ilha da Madeira.
O trabalho das várias profissões. Notícia de terramoto e tempestade em Lisboa. Blimunda acompanha Baltasar. Baltasar vai ao Monte Junto.
Visita de Scarlatti.
Notícia da morte de Bartolomeu.

18 As importações realizadas.
Missa na capela de madeira.
Histórias individuais de trabalhadores, entre os quais Baltasar.
Obra vista do ar.
Transporte da pedra de Pêro Pinheiro. D. João V medita sobre as suas riquezas. Um domingo em família.
O efeito apaziguador de Blimunda sobre Baltasar.

19 Sonho de Baltasar.
Recordações de Baltasar.

20 O quotidiano dos trabalhadores, a promiscuidade, a doença.
Visita dos padres dos hospícios.Viagem idílica até ao Monte Junto.
Noite de amor na passarola.
Harmonia entre Baltasar, Blimunda e a Natureza.
Morte do pai de Baltasar.
Idas regulares de Baltasar ao Monte Junto.
Trabalho do casal na conservação da máquina.

21 Conversa do rei com o arquitecto Ludovice.
Decisão de aumentar as dimensões do convento.
Falso recado de Baltasar.
Falsa carta de Baltasar ao rei.
Marcação da data de sagração do convento.
Recolha de homens por todo o reino, o cortejo dos degredados.
D. João V lega aos filhos a basílica de brincar.

22 D. Maria Bárbara vê um grupo de homens acorrentados e recorda que nunca viu o convento. Anúncio do casamento dos infantes.
Viagem até à fronteira.
Troca das princesas.
Scarlatti toca cravo.

23 Cortejo das estátuas.
Baltasar conduz uma das juntas de bois.
Encontro do cortejo dos noviços com o das estátuas.
Preparativos para a sagração.
Anúncio da morte de Álvaro Diogo, na construção do convento.
Balanço de 13 anos da obra.
Cortejo dos 30 noviços. Referência a junção dos nomes Baltasar/Blimunda.
Juventude de Baltasar, aos olhos de Blimunda.
Os dois vêem as estátuas ao luar.
Amam-se pela última vez. Referência a junção dos nomes Baltasar/Blimunda/Bartolomeu.
Baltasar voa na passarola.

24 Chegada do rei para a sagração.
Blimunda cruza-se com as gentes que vão assistir à sagração.
Chegada do patriarca de Lisboa e de outros ilustres.
A sagração (22.10.1730)
Noite de espera de Blimunda.
Ida ao Monte Junto, morte do frade.
Regresso a Mafra.

25 Procura de Blimunda.
Reencontro.



Personagens

D. João V, o rei Primeira imagem: construindo uma basílica de S. Pedro em miniatura; a sua ida ao quarto da rainha; vítima de logro (acredita num milagre anunciado); os seus problemas de saúde  pretexto para o narrador o reduzir à simples condição de mortal, em contraste com as suas megalomanias: o desejo de construir em Portugal uma basílica igual à de S. Pedro (Vaticano); decisão de aumentar o convento, ignorando os custos que o diálogo com o guarda-livros lhe vem lembrar; marcação da data da sagração, apressada pelo temor de que a morte o levasse, impedindo-o da glória de estar presente na inauguração da sua obra.
O seu fervor religioso incompatível com as ligações ilícitas com freiras ( malicioso monólogo interior na procissão do Corpo de Deus) e com a meditação sobre a sua riqueza (associa a salvação da alma ao conforto da terra e do corpo).
D. Maria Ana, a rainha Uma mulher vítima e cúmplice de uma época que a reduz à função de fornecedora de herdeiros, satisfazendo na oração e nos sonhos o vazio da sua vida, verbalizado, na conversa imaginária com o seu cunhado, quando afirma que os homens são todos maus, e na lição de submissão dada à sua filha, recomendando-lhe que nunca questione a obediência a el-rei e aos dogmas religiosos e sociais.  personagem alvo da sátira do narrador.

Infante D. Francisco (irmão do rei)


Infanta D. Maria Bárbara (filha do rei) A loucura impune de D. Francisco (exercita nos marinheiros a pontaria com a espingarda) é ilustrativa da crueldade de um tempo que tudo admite aos poderosos. A intriga e disputa pela coroa (sonhando a morte do irmão).

A infanta, causadora inocente de tantos males, é uma figura tratada com maior benevolência: aos nove anos toca (mal) cravo para a corte; “boa rapariga”, de “cara bexigosa e de lua-cheia”, é levada para casar com um desconhecido, durante um percurso penoso, vê homens acorrentados, facto que a deixa pensativa.

A alta nobreza e o alto clero Em tempos de poder absoluto, a nobreza exibe o servilismo de quem se encontra na órbita do rei.
O luxo desmedido (clero e nobreza) sobressai em todas as suas intervenções.

O herói colectivo Povo  o herói anónimo e colectivo que o narrador quer imortalizar.
Homens a escavar os alicerces do convento, a transportar as pedras, a erguer as paredes.
Alguns emergem, ganhando rostos e nomes: os familiares de Baltasar  o cunhado, vítima daquela construção; Francisco Marques  morre esmagado no transporte da pedra de Pêro Pinheiro.
O povo: as suas chagas, físicas e morais, os crimes e as brigas. O povo sofredor, vítima de um tempo de feroz repressão; o povo ignorante e fanático que assiste, deliciado, ao espectáculo dos autos-de-fé.

Baltasar Sete-Sóis Figura central do romance: participante articulador dos 3 planos narrativos. Sua morte = fim da narrativa.
Metáfora da mudança, da evolução do ser humano, no sentido da sua plena realização.
Número 7 (renovação e totalidade) presente na sua existência (28 anos 7x4 decorrem desde a sua chegada até que Blimunda o reencontre, na sua 7ª passagem por Lisboa (no mesmo lugar em que se conheceram).
Simbologia do Sol, cujo ciclo representa a alternância vida-morte-ressurreição.
Chega a Lisboa mutilado, pedinte, mandado embora de um exército que já não podia servir. Arriscou-se a viver um amor pleno, à margem das normas sociais e religiosas, transgressor. A aproximação a Bartolomeu fá-lo acreditar, sonhar, fazer. Com o voo da passarola atinge a consciência libertadora do valor do ser humano e do seu querer. Como operário na construção do convento, atinge uma consciência de dimensão mais social.
A sua morte encerra um ciclo, mas a sua vontade é recolhida por Blimunda e, assim, um novo ciclo se anuncia.

Blimunda Sete-Luas Ser de excepção, mágico e sibilino, o seu estranho nome surge, pela primeira vez, dito pela mãe, uma condenada pela Inquisição, o que a coloca logo numa situação marginal.
É por inspiração materna que se liga a Baltasar, seduzido desde o primeiro momento, tendo um papel decisivo na definição da relação entre os dois, não submetida a outras normas que não as do amor, numa espécie de retorno a um tempo mítico, no qual estava ausente a noção de pecado.
Sete-Luas (apelido atribuído pelo padre Bartolomeu, num ritual misto de baptismo e casamento): associado à simbologia do 7 e da Lua, complementar do Sol, com o qual partilha o valor da renovação. Lua, símbolo do mundo do sonho e do inconsciente, do feminino.
Mulher: mágica (capaz de ver “o interior”, de recolher vontades indispensáveis à realização do voo); sábia (capaz de questionar, aconselhar, compreender, de surpreender os outros); mulher do povo (executa as tarefas sempre atribuídas à mulher).
Dos membros da trindade terrena (Baltasar-Blimunda-Bartolomeu) é a única sobrevivente, guardando dentro de si a vontade que recolhe de Baltasar.

Bartolomeu Lourenço (de Gusmão)«o Voador» Figura conhecida do século XVIII português (nascido no Brasil): homem de vasta cultura, padre e doutor em leis, orador exímio, protegido pelo rei, cientista e visionário, atormentado por dúvidas religiosas e perseguido pela Inquisição, por suspeitas de judaísmo e bruxaria. Representante do Iluminismo nascente.
Personagem lendária, representativa do sonho libertário do ser humano, de se transcender, de ultrapassar os limites. Junta o seu saber ao trabalho manual de Baltasar e à magia de Blimunda (coadjuvados pela arte musical de Scarlatti), com eles irmanado pelo querer e pelo afecto, concretizou o desejo de voar.
Sob ameaça latente desde o seu aparecimento, dado o envolvimento suspeito com a filha de uma condenada do santo Ofício, é a fuga à Inquisição que determina a realização do voo da passarola. Mas a ousadia foi punida: morreu louco em Toledo.

Domenico Scarlatti Músico italiano, estivera ao serviço do embaixador de Portugal em Roma, veio de Londres para exercer funções de mestre de capela e professor da Casa Real.
A música, a mais aérea das artes, vem integrar a realização da passarola, acrescentando-lhe a componente estética. A música do seu cravo mistura-se com os sons do malho e da forja; ajuda na recuperação de Blimunda.
Assiste à descolagem da passarola e depois destrói o seu cravo.
É ele que anuncia a morte de Bartolomeu.
Ouvimos a sua música, pela última vez, na cerimónia da troca das princesas.
Espaço Social

Quadros Personagens / classes sociais envolvidas Temas e / ou aspectos visados
Entrudo; Quaresma;
procissão da penitência Todas as classes: clero, nobreza, povo A religião como pretexto para a prática de excessos
Sensualidade / misticismo

Histórias de milagres e de crimes Clero e povo
O frade ladrão Superstição e crendice, superficialidade
Libertinagem

Autos-de-fé Todas as classes Repressão religiosa e política
Fanatismo

Baptizados e funerais régios Rei e rainha / nobreza e clero (povo assistindo) Luxo e ostentação, vida e morte como espectáculo
Elevação a cardeal do inquisidor D. Nuno da Cunha Clero e nobreza (povo assistindo) Luxo e ostentação
Vida conventual Frades e freiras
Nobreza
Desrespeito pelas normas religiosas, libertinagem
Tourada Todas as classes
O sangue e a morte com espectáculo
Procissão do Corpo de Deus Todas as classes / D. João V Luxo e ostentação, sobreposição do profano ao sagrado
Libertinagem do rei

Cortejo de casamento Casal real, infantes / nobreza, clero, (povo assistindo) Casamento na realeza, a vida das mulheres
Luxo e ostentação desmedidos
Contrate com a miséria do povo
O estado deplorável dos caminhos


Espaço simbólico

Espaços Simbologia
Casa de Lisboa A lareira, fogo, calor e alimento, a luz da candeia, a esteira no chão, o despojamento, um espaço mantido vivo quando habitado, sacralizado por nele ter tido lugar o ritual do casamento.

S. Sebastião da Pedreira Paredes de pano, a arca com os parcos haveres, a esteira, um espaço reduzido ao essencial, que garantia a intimidade dos dois, também o recolhimento de Blimunda, «que às vezes até a mais aventureira apetece».

Palheiro O amor vivido em plenitude, envolvendo «almas, corpos e vontades», espaço primitivo e natural, de harmonia e fusão de todos os elementos, expressa através da sensação do cheiro; a ancestralidade realçada pela referência do narrador ao gesto de Blimunda, que «dobrou a manta, era apenas uma mulher repetindo um gesto antigo»; espaço sacralizado, quando o narrador compara o amor à celebração de uma missa, afirmando que, se comparação houvesse, «a missa perderia».

A Passarola O ovo simbólico da génese do mundo, da totalidade e perfeição, de renovação da natureza, casa-ovo construída por ambos, na qual realizaram o voo sonhado.

A Natureza Espaço idílico, de integração, fusão de todos os seres e elementos, «sente na pele o suspiro do ar como outra pele…».

A barraca da burra Onde a cama era «a antiga e larga manjedoura… confortável como um leito real», que não pode deixar de associar-se ao berço da tradição cristã e, noutra dimensão, de ser posta em contraste com o luxuoso leito real de D. Maria Ana, lugar de desamor, minado por percevejos; este espaço, isolado e protector da intimidade, é o da última noite de amor.

O olhar «Olharem-se era a casa de ambos», a casa entendida em toda a sua dimensão simbólica, de protecção do ser, da interioridade, da preservação do amor e da vida.

2 comentários:

Joana C. Silva disse...

Obrigado. foi muito util!

Unknown disse...

Olá, colega
Também sou professora de Português. Para preencher o vazio que sentia no campo da formação, decidi fazer doutoramento. Presentemente sou aluna do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. Estou a começar uma investigação que se apoia na tese de que o desenvolvimento da identidade profissional dos professores de Português se tem apoiado no uso das tic. Neste momento, trabalho um capítulo da tese que tem por temática o uso pedagógico dos blogues. O trabalho que alguns professores têm desenvolvido foi a minha inspiração para a investigação.
O pedido de ajuda vai no sentido de pedir autorização para poder estudar o seu blogue.
Numa segunda fase, pergunto se seria possível conceder uma entrevista.
Se entender conhecer o projeto de tese na sua totalidade, posso enviá-lo, uma vez que já está aprovado.
Muito obrigada
Maria da Conceição Leitão
Escola Secundária de Alves Redol