terça-feira, 18 de setembro de 2007

Os Lusíadas - Reflexões/excursos do poeta

«Os Lusíadas», Luís de Camões
Vertente pedagógica da epopeia


Reflexões do Poeta: críticas e conselhos aos Portugueses

O Poeta faz diversas considerações, no início e no fim dos Cantos da sua epopeia, criticando e aconselhando os Portugueses.
Por um lado, refere os «grandes e gravíssimos perigos», a tormenta e o dano no mar, a guerra e o engano em terra; por outro lado, faz a apologia da expansão territorial para divulgar a Fé cristã, manifesta o seu patriotismo e exorta D. Sebastião a dar continuidade à obra grandiosa do povo português.
Nas suas reflexões, há louvores e diversas queixas aos comportamentos. Se realça o valor das honras e da glória alcançadas por mérito próprio, lamenta, por exemplo, que os Portugueses nem sempre saibam aliar a força e a coragem ao saber e à eloquência, destacando a importância das Letras. Se critica os povos que não seguem o exemplo do povo português que, com atrevimento, chegou a todos os cantos do Mundo, não deixa de queixar-se de todos aqueles que pretendem alcançar a imortalidade, dizendo-lhes que a cobiça, a ambição e a tirania são honras vãs que não dão verdadeiro valor ao homem. Daí, também, lamentar a importância atribuída ao dinheiro, fonte de corrupção e de traições.
Lembrando o seu «honesto estudo», «longa experiência» e «engenho», «Cousas que juntas se acham raramente», confessa estar cansado de «cantar a gente surda e endurecida» que não reconhecia nem incentivava as suas qualidades artísticas.


As reflexões que merecem destaque:


Canto I (est. 105-106); p.39

As traições e os perigos a que os navegadores estão sujeitos justificam este desabafo do Poeta.
Não será por acaso que esta reflexão surge no final do Canto I, quando o herói ainda tem um longo e penoso percurso a percorrer.
Ver-se-á, no Canto X, até onde a ousadia, a coragem e o desejo de ir sempre mais além pode levar o «bicho da terra tão pequeno», tão dependente da fragilidade da sua condição humana.


Canto V (est. 92-100); pp.74-75

O Poeta começa por mostrar como o canto, o louvor, incita à realização dos feitos; dá exemplos do apreço dos Antigos pelos seus poetas, bem como da importância dada ao conhecimento e à cultura, que levava a que as armas não fossem incompatíveis com o saber.
Não é, infelizmente, o que se passa com os portugueses: não se pode amar o que não se conhece, e a falta de cultura dos heróis nacionais é responsável pela indiferença que manifestam pela divulgação dos seus feitos. Apesar disso, o Poeta, movido pelo amor da pátria, reitera o seu propósito de continuar a engrandecer, com os seus versos, as «grandes obras» realizadas.
Manifesta, desta forma, a vertente pedagógica da sua epopeia, na defesa da realização plena do Homem, em todas as suas capacidades.


Canto VI (est. 95-99); p.77

Continuando a exercer a sua função pedagógica, o Poeta defende um novo conceito de nobreza, espelho do modelo renascentista: a fama e a imortalidade, o prestígio e o poder adquirem-se pelo esforço - na batalha ou enfrentando os elementos, sacrificando o corpo e sofrendo pela perda dos companheiros; não se é nobre por herança, permanecendo no luxo e na ociosidade, nem pela concessão de favores se deve alcançar lugar de relevo.
Canto VII (est. 3-14); pp.78-79)

Percorrido tão difícil caminho, é momento para que, na chegada a Calecut, o Poeta faça novo louvor aos Portugueses. Exalta, então, o seu espírito de Cruzada, a incansável divulgação da Fé, por África, Ásia, América, «E, se mais mundos houvera, lá chegara», assim inserindo a viagem à Índia na missão transcendente que assumiram e que é marca da sua identidade nacional. Por oposição, critica duramente as outras nações europeias - os «Alemães, soberbo gado», o «duro inglês», o «Galo indigno», os italianos que, «em delícias, / Que o vil ócio no mundo traz consigo, / Gastam as vidas» - por não seguirem o seu exemplo, no combate aos infiéis.


Canto VII (est. 78-87); pp.81-82)

Numa reflexão de tom marcadamente autobiográfico, o Poeta exprime um estado de espírito bem diferente daquele que o caracterizava, no Canto I, na Invocação às Tágides - «cego, […] insano e temerário», percorre um caminho «árduo, longo e vário», e precisa de auxílio porque, segundo diz, teme que o barco da sua vida e da sua obra não chegue a bom porto. Uma vida que tem sido cheia de adversidades, que enumera: a pobreza, a desilusão, perigos do mar e da guerra, «Nũa mão sempre a espada e noutra a pena;». Como não ver neste retrato a intenção de espelhar o modelo de virtude enunciado em momentos anteriores?
Em retribuição, recebe novas contrariedades - de novo a crítica aos contemporâneos, e o alerta, para inevitável inibição do surgimento de outros poetas, em consequência de tais exemplos.
Mas a crítica aumenta de tom na parte final, quando são enumerados aqueles que nunca cantará e que, implicitamente, denuncia abundarem na sociedade do seu tempo: os ambiciosos, que sobrepõem os seus interesses aos do «bem comum e do seu Rei», os dissimulados, os exploradores do povo, que não defendem «que se pague o suor da servil gente».
No final, retoma à definição do seu herói - o que arrisca a vida «por seu Deus, por seu Rei».


Canto VIII (est. 96-99); p.84

A propósito da narração do suborno do Catual e das suas exigências aos navegadores, são agora enumerados os efeitos perniciosos do ouro - provoca derrotas, faz dos amigos traidores, mancha o que há de mais puro, deturpa o conhecimento e a consciência; os textos e as leis são por ele condicionados; está na origem de difamações, da tirania dos Reis, corrompe até os sacerdotes, sob aparência de virtude.
Retoma a função pedagógica do seu canto, o Poeta aponta um dos males da sociedade sua contemporânea, orientada por valores materialistas.


Canto X (est. 145-156); p.99-100

Os últimos versos de «Os Lusíadas» revelam sentimentos contraditórios - desalento, orgulho, esperança.
«No mais, Musa, no mais […]» o Poeta recusa continuar o seu canto, não por cansaço, mas por desânimo. O seu desalento advém de constatar que canta para «gente surda e endurecida […] metida / No gosto da cobiça e na rudeza / Dhũa austera, apagada e vil tristeza.». É a imagem que nos dá do Portugal do seu tempo. Por contrate, o orgulho naqueles que continuam dispostos a lutar pela grandeza do passado e a esperança de que o Rei saiba estimular e aproveitar essas energias latentes para dar continuidade à glorificação do «peito ilustre lusitano» e dar matéria a novo canto. O poema encerra, pois, com uma mensagem que abarca o passado, o presente e o futuro. A glória do passado deverá ser encarada como um exemplo presente para construir um futuro grandioso.

Os Lusíadas (síntese)

Os Lusíadas sãoum texto renascentista traduzindo o espírito optimista do renascimento e a inspiração humanista, proferindo um acto de fé nas capacidades humanas. Porém, não é apenas isso, pois trata-se de um poema bipolar onde a voz épica é contradita por outra voz anti-épica. Uma face solar do poema e uma face lunar através da qual a dúvida se contrapõe à confiança.
[...]
Os Lusíadas celebram os Portugueses enquanto nação, colectividade. para isso, o poeta desenvolve uma história de Portugal como epopeia, seleccionando os episódios e as figuras, de modo a fazer avultar o lado heróico e exemplar da História, cantando-a. Por outro lado, o poema tende á universalidade, louva não só os Portugueses mas o homem em geral: a sua capacidade realizadora, descobridora. A empresa das descobertas é grande prova dessas capacidades: a de se impor á natureza adversa, de desvendar o desconhecido, de ultrapassar os limites traçados pela cultura antiga e pelo conceito tradicional do homem e do mundo, que estavam dogmatizados e eram difíceis de superar. Os Lusíadas celebram a capacidade de alargar e aprofundar o saber; a realização do homem no que espeita ao amor e, por fim, talvez o mais importante, o poder de edificar a vida face ao destino.Por isso, um dos temas épicos consiste na comparação sistemática com os modelos antigos, com o apogeu da divinização dos heróis.
Não são, contudo, só exaltação e glorificação. Camões faz um diagnóstico lúcido e consciente da decadência que se aproxima. Não desconhece nem esconde os erros, os defeitos e os crimes de tantos Portugueses. No final do canto VII denuncia com mágoa a hipocrisia, o espírito de adulação, o abuso do poder, a exploração dos humildes; e queixa-se com ironia amarga da ingratidão dos contemporâneos. Lembra que a cristandade atravessa um momento crítico abalada pelas divisões religiosas motivadas pela Reforma, e ameaçada do exterior pelo poder turco que alastra da Ìndia até á Europa central. É este sentimento de enfraquecimento que a gesta lusitana vem compensar. [...] O medo também se expresssa na voz do Velho do Restelo, que o calo do passado inquieta perante o futuro. O abandono do ninho paterno, do aconchego e segurança do lar simbolizam o cortar das amarras, a despedida para o encontro da vocação universalista.
Enquanto toda a cção narada se reclama de verade histórica, o prémio consiste num sonho! num sonho?!
(adaptado de Tópicos para uma Leitura d' Os Lusiadas, maria Vitalina Leal de Matos, Verbo, 2003

O programa em grama



Rapaziada, reconhecem-no?

Camões, n' Os Lusíadas, revela o espírito do homem da Renascença que acredita na experiência e na razão. Consagra os heróis portugueses, que construíram Portugal e alargaram o império, sendo, por isso, merecedores da mitificação.
Serão os excursos ou refelexões do poeta que merecerão a nossa atenção:
- o que pode um "bicho da terra tão pequeno?"
- quem não conhece, nem sabe de arte, pode estimá-la?
- a fama e a imortalidade como se ganham?
- "Numa mão a espada, noutra a pena", assim se cantam o Tejo e os Lusitanos
- " grão tesouro faz tredores e falsos os amigos[ ]cega os juízos e as consciências"
- " Sereis entre os Heróis esclarecidos/ E nesta ilha de Vénus recebidos"
- " Tomai conselho só de esprimentados[ ]... todo o mundo de vós cante[ ] e em vós se veja"

curiosidade: Por que terminam Os Lusíadas com a palavra enveja?

Conteúdos programaáticos

Secundária Rainha D. Leonor
Departamento de Português, Latim e Comunicação Ano Lectivo 2007/2008
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CRITÉRIOS GERAIS DE AVALIAÇÃO
PORTUGUÊS - ENSINO SECUNDÁRIO

OBJECTIVOS / COMPETÊNCIAS COGNITIVAS

Compreensão de enunciados orais diversificados;

Utilização de uma expressão oral correcta e adequada;

Leitura, compreensão e interpretação de textos de natureza variada;

Produção de textos de diferentes tipologias ( comentários, resumos, sínteses, textos expositivo-argumentativos, textos criativos, …), de acordo com as normas linguísticas e as técnicas específicas de cada tipo de texto;

Capacidade de argumentação;

Aquisição de métodos e técnicas de pesquisa, registo e tratamento de informação;

Domínio do funcionamento da língua, de acordo com os conteúdos do programa.


OBJECTIVOS / COMPETÊNCIAS SOCIO-AFECTIVAS
(EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA)

Perseverança / força de vontade / Interesse / Empenho
Responsabilidade e flexibilidade
Capacidade organizativa
Autonomia
Espírito crítico e auto-crítico
Tolerância / Respeito pelos outros / Interajuda




INSTRUMENTOS E TÉCNICAS DE AVALIAÇÃO

Fichas de avaliação escrita


80%
· Exposições orais
· Participação oral espontânea e/ ou solicitada
· Fichas de trabalho
· Trabalhos de casa
· Trabalhos de pesquisa
· Trabalhos de grupo
· Fichas de leitura
· …

20%

Nota : Os testes são classificados da seguinte forma:

Ø Mau à 0 a 4 valores
Ø Medíocre à 5 a 9 valores
Ø Suficiente à 10 a 13 valores
Ø Bom à 14 a 17 valores
Ø Muito Bom à 18 a 20 valores

2. Material necessário para a disciplina:

Manual adoptado na escola – Elisa Costa Pinto e outros, Plural 12º ano
Dossier / caderno para a disciplina
Obras programáticas de leitura integral – Luís de Sttau Monteiro, Felizmente Há Luar
- José Saramago, Memorial do Convento
Dicionário de língua portuguesa ( em casa )
Livros de leitura recreativa
Escola