Outubro de 2008
Frases complexas
(Síntese adaptada) apud Duarte, I. e Gonçalves, A.
1. Frase simples vs. Frase complexa
Frase simples – caracteriza-se pela ocorrência de um só verbo (cf. (1)) ou de um complexo verbal em que só um dos verbos é principal ou copulativo, sendo os restantes auxiliares (cf. (2) e (3)). Neste domínio encontram-se realizados o sujeito e os complementos exigidos pelo verbo principal ou pelo predicativo do sujeito.
(1) Os portugueses acabaram de chegar a Moçabique.
(2) a. Os portugueses têm tido muitas adversidades.
b. Vasco da Gama tem estado a rezar.
c. Durante todo este tempo, o Gama foi preso por um nativo.
d. Nos últimos dias, os nautas têm sido libertados aos poucos.
Frase complexa – caracteriza-se pela ocorrência de mais do que um verbo principal ou copulativo, encontrando-se realizados o sujeito e os complementos exigidos por cada um dos verbos principais ou pelo predicativo do sujeito.
(3) Vénus sabe que o Gama foi preso.
(4) A Citereia decidiu resolver todos os problemas da tipulação.
(5) A deusa romana mandou os nautas fugirem desse lugar.
(6) Enquanto os Moçambicanos dormiam, os nautas fugiam para as naus.
(7) Todos os indígenas que conheciam queriam panos e pregos.
2. Processos de formação de frases complexas: coordenação vs. subordinação
Coordenação:
(a) aplica-se quer a domínios frásicos (cf. (8)) quer a categorias sintácticas não frásicas (cf. (9))
(8) O Gama fugiu e Baco ainda ficou em Moçambique.
(9) O Paulo da Gama e o Vasco da Gama são irmãos.
b. O comandante foi ao porão ou ao convés.
c. Paulo da Gama é franzino mas saudável.
(b) os termos coordenados não desempenham funções sintácticas um relativamente ao outro
(c) os termos coordenados têm muito pouca mobilidade
(10) a. O Paulo foi à Índia com o irmão mas não comandou aviagem.
b. *Mas não comandou a viagem, o Paulo foi à Índia .
(11) a. Baco provocou a cilada e o Gama caiu nela.
(12) b. * O Gama caiu nela, Baco provocou a cilada .
Subordinação
(a) aplica-se apenas a domínios frásicos
(b) a oração subordinada desempenha sempre uma função sintáctica: sujeito (cf. (12)), complemento directo (cf. (13)), complemento indirecto (cf. (14)), complemento preposicional (cf. (15)) ou modificador (cf. (16))
(13) Quem vai ao mar arrisca-se a necessidades avorrecidas.
(14) Júpiter quer que todos os portugueses chegem à Índia.
(15) Deu favor celeste a quem provou merecê-lo.
(16) Baco, Neptuno e o Adamastor opuseram-se a que a odisseia lusitana se realizasse sem contratempos.
(17) Todos os outros deuses que participaram no consilio querem o mesmo destino para os portugueses
(c) as subordinadas completivas e as adverbiais têm mobilidade, podendo, por isso, facilmente ser deslocadas na frase
(17) a. Todos nós sabemos que Baco é um grande invejoso.
b. Que Baco é um grande invejoso todos nós sabemos.
(18) a. Baco bate no chão com o seu ceptro quando está aborrecido.
b. Quando está aborrecido, Baco bate no chão com o seu ceptro.
3. Estruturas de coordenação
Caracterização geral
Para além dos aspectos enunciados no ponto 1, as estruturas coordenadas exibem ainda as seguintes propriedades:
(i) podem ser ligadas por diferentes tipos de conectores: pausas – representadas na escrita por vírgulas –, e conectores como as conjunções coordenativas; no primeiro caso a coordenação é assindética, no segundo, sindética
(19) As mães choravam, rezavam, imploravam ajuda divina.
(20) a. A esposa foi a Belém e o filho acompanhou-a.
b. A Mãe foi à despedida, porém o Pai ficou em casa.
(ii) Em alguns casos utilizam-se conjunções correlativas
(21) a. Ou ficas cá ou serás mantimento de peixes.
b. Nem o Gama saiu da nau nem a sua mãe foi ao cais.
Tipologia
Tipo de estrutura coordenada Conectores
Copulativa ou aditiva: apresenta o valor básico de adição Conjunções copulativas simples: e, nem
Conj. copulativas correlativas: não só...mas também; não só...como; tanto...como
Disjuntiva ou alternativa: explicita-se uma escolha entre os elementos coordenados Conj. disjuntivas simples: ou
Conj. disjuntivas correlativas: ou...ou; ora...ora; quer...quer
Adversativa ou contrajuntiva: exprime um contraste entre os membros coordenados Conj. adversativas simples: mas
Outros: porém, todavia, contudo, no entanto
Conclusiva: estabelece-se uma relação de causa-efeito, sendo o membro encabeçado pelo conector o efeito ou a consequência Outros: assim, logo, pois, portanto, por isso, por conseguinte, por consequência
Argumentos para a distinção entre conjunções e outros conectores (Matos, 2093: 569-574)
• As conjunções não podem mover-se no interior do membro coordenado, ao contrário do que acontece com outros conectores
(25) a. *O Velho do Restelo está exausto, pode, mas, discursar veementemente.
b. O Velho do Restelo está exausto, pode, porém, discursar veementemente.
• As conjunções podem co-ocorrer com outros conectores, o que não é esperado se se tratar de membros da mesma classe
(26) a. O país fica desprotegido e, por isso, pode ser atacado pelos vizinhos castelhanos.
b. *O país fica desprotegido e, mas, pode ser atacado pelos vizinhos castelhanos.
Conjunções vs Advérbios conectivos vs. Locuções conjuntivas
4. Estruturas de subordinação
Propriedades gerais
Para além dos aspectos enunciados na secção 1, as orações subordinadas apresentam as seguintes propriedades:
(i) As subordinadas substantivas completivas e as adverbiais são sempre introduzidas por conjunções ou por locuções de subordinação; as subordinadas substantivas relativas e as subordinadas adjectivas são introduzidas por constituintes relativos.
(ii) São estruturas de encaixe, ou seja, a subordinada é um constituinte (essencial ou acessório) da frase superior.
(iii) O verbo da subordinada pode ocorrer no Indicativo, no Conjuntivo ou no Infinitivo, tendo em conta as propriedades formais da construção.
(27) a. Os nautas declararam que estavam hesitantes.
b. *Os nautas declararam que estivessem hesitantes.
(28) a. Os filhos querem que o pai não parta.
b. *Os filhos querem que o pai parte.
(29) a. Os lamentos que a esposa confessa são sempre tristíssimos.
b. *Os lamentos que a esposa confesse são sempre tristíssimos .
(30) a. Procuraram um padre que os confessasse.
b. Procuraram um padre que os confesse.
(31) a. Vasco da Gama saiu da capela quando a Mãe entrou / *entrasse.
b. Vasco da Gama sairá da capela quando a Mãe entrar / *entrará.
Tipologia
(a) Subordinadas substantivas: ocupam posições típicas de expressões nominais, desempenhando funções sintácticas na frase.
• Completivas: são seleccionadas por verbos, nomes e adjectivos;
Podem desempenhar as funções sintácticas de sujeito, complemento directo e complemento preposicional;
São tipicamente introduzidas por que, se (interrogativas indirectas) ou para (com verbos declarativos de ordem)
Seleccionadas por verbos e com a função sintáctica de
(i) sujeito
(32) a. Que o marinheiro tenha chorado surpreendeu-nos a todos.
b. Surpreendeu-nos a todos que o marinheiro tenha chorado.
(ii) complemento directo
(33) Vasco Da Gama decidiu que a tripulação não se despediria.
(iii) complemento preposicional
(37) Os meninos opuseram-se a que os pais partíssem sem eles.
(38) Os meninos recusaram-se a partir com os pais.
Seleccionadas por nomes e com a função sintáctica de
(i) sujeito
(39) É certo que ele não teve culpa da decisão do comandante.
Relativas sem antecedente (livres)
Não têm antecedente expresso;
Podem desempenhar as funções sintácticas de sujeito, complemento directo, complemento indirecto, complemento preposicional e modificador;
O pronome relativo tem uma função sintáctica dentro da subordinada;
Nelas não podem ocorrer os pronomes relativos que, cujo e o qual.
Com função de sujeito
(40) Quem vai ao mar perde o lugar.
Com função de complemento directo
(41) Deus adora quem reza por si.
Com função de complemento indirecto
(42) Dei um alento a quem mo pediu.
(b) Subordinadas adjectivas: ocupam posições típicas de adjectivos. São deste tipo as relativas com antecedente expresso.
Propriedades
Têm uma função sintáctica dentro do constituinte nominal em que se encontram – modificador restritivo ou apositivo, conforme o papel que desempenham na construção da referência da expressão que modificam;
O pronome relativo tem uma função sintáctica dentro da oração subordinada a que pertence;
O valor referencial do pronome relativo é fixado pelo antecedente
Tipologia
• Subordinadas relativas restritivas: restringem a referência do nome que modificam, ou seja, definem um subconjunto de indivíduos a partir de um conjunto prévio; são designadas como modificadores restritivos
(43) As crianças que tinham pais destacados foram à praiade Belém.
a partir do conjunto das crianças, define-se o subconjunto das que tinham os pais destacados ;
• Subordinadas relativas explicativas / apositivas: são modificadores apositivos, tendo como antecedente uma frase ou uma expressão nominal; neste último caso, não restringem a referência do nome que modificam, ou seja, não definem um subconjunto de indivíduos a partir de um conjunto prévio
(44) O marinheiro chegou atrasado, o que nos surpreendeu a todos.
(45) a. As crianças, que eram filhos dos marinheiros, foram à praia de Belém.
(c) Subordinadas adverbiais: ocupam posições típicas de advérbios;
Propriedades
Não são seleccionadas por qualquer item lexical, tendo, por isso, a função de modificadores;
Ocorrem à esquerda ou à direita do restante material da frase;
(46) a. Enquanto a mãe chorava, o velho fez o discurso.
b. O velho fez o discurso, enquanto a mãe chorava.
Nas adverbiais finitas, o modo (indicativo / conjuntivo) é seleccionado pela conjunção ou locução conjuntiva que introduz a oração
(56) a. O pai partiu embora estivesse / *estava doente.
b. O pai partiu porque não estava / *estivesse doente.
Tipologia
ADVERBIAIS FINITAS ADVERBIAIS NÃO FINITAS
INDICATIVO CONJUNTIVO
CAUSAIS porque, como, que;
visto que, uma vez que, dado que dado / visto + infinitivo
+ gerúndio
+ particípio passado
CONDICIONAIS se, caso;
desde que a + infinitivo
CONCESSIVAS embora;
ainda que, se bem que apesar de + infinitivo
FINAIS para que Para / a fim de + infinitivo
Construções comparativas e consecutivas - a tradição gramatical luso-brasileira considera que estas construções instanciam também casos de subordinação adverbial (introdutores das comparativas: que, do que, (tal) qual; (tanto) quanto, como; assim como, bem como, como se, que nem; introdutores das consecutivas: que). Esta foi a opção da TLEBS.
(60) O Velho do Restelo pensa tão bem como fala.
(61) Ele é tão convincente que persuadiu alguns dos presentes.
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2 comentários:
Stor como é que é ? A matéria para o teste?? "Ah e tal, não sei que... Vão ver no blog!..." Vimos cá e não tem nada! Sabe que temos teste ja na segunda? (3 novembro).
Deve achar que nós temos a sua vida :p
Nao se zangue está bem? eheheh
O stor no fundo ate simpatiza comigo... Gosta é de parecer mauzinho xD
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